Quem é a 1ª fabricante a pedir certificação de balão brasileiro à Anac?

Sediada na capital paulista, Rubic Balões espera começar a exportar esse tipo de aeronave no próximo ano

Um balão médio com cesto para quatro pessoas tem um preço de fábrica de R$ 250 mil ou R$ 300 mil, incluindo cesto, cilindro, queimador e envelope, segundo a Rubic Balões
03 de Abril, 2022 | 08:08 PM

Bloomberg Línea — A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) recebeu, na última quinta-feira (31), o pedido de certificação de tipo para um balão desenvolvido no Brasil. É a primeira vez que um balão brasileiro será submetido ao processo de certificação de tipo, informou o órgão regulador, em nota. Sediada na capital paulista, a empresa requerente, Rubic Balões, vem desenvolvendo e construindo balões experimentais para voo livre, competições, balões de formato especial para exibições, entre outros.

Segundo a Anac, a certificação visa assegurar padrões de desempenho e segurança ao projeto e, com isso, abrir novas possibilidades de uso para os balões, como a realização de voos panorâmicos e treinamentos em Centros de Instrução de Aviação Civil (CIAC). Além disso, ao se ter um produto certificado, há a possibilidade de acessar mercados internacionais, que exigem nível de segurança adequado.

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“Temos um prazo de três anos, mas esperamos obter a aprovação no ano que vem. O balonismo vai impulsionar o turismo no Brasil, contribuindo para a descoberta das nossas belezas naturais. Queremos também começar a exportar nossos balões”, diz Marina Posch Kalousdian, sócia-proprietária da Rubic Balões, em entrevista à Bloomberg Línea.

Ela destacou que, com a MP do Voo Simples, a Medida Provisória nº 1.089, de 29 de dezembro de 2021, e a Resolução nº 653, de 20 de dezembro de 2021, a Taxa de Fiscalização da Aviação Civil (TFAC) para a certificação de balões caiu de aproximadamente R$ 900 mil para R$ 20 mil, viabilizando, assim, o desenvolvimento e a certificação de balões nacionais.

“Muitas das antigas taxas cobradas eram desproporcionais à realidade do setor, criando barreiras à certificação dos regulados no país. Com a revisão da tabela da TFAC, os valores estabelecidos tornaram-se mais aderentes à realidade nacional, viabilizando projetos que, sob os parâmetros de cobrança anteriores, emperravam diante de custos regulatórios elevados”, admitiu a Anac.

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As primeiras etapas do processo envolvem a determinação dos requisitos a serem cumpridos, bem como do cronograma de relatórios e testes a serem realizados por parte da empresa, segundo o órgão regulador.

A dona da Rubic Balões afirmou que a empresa vai discutir ainda com a Anac sobre os ensaios físicos e analíticos que serão realizados. “Vamos construir um cesto novo para fazer os testes, uma aeronave nova para receber a certificação”, contou.

Ela acrescentou que a Rubic já está pronta para buscar investidores e fechar parcerias, aproveitando o tempo de espera pela certificação para montar uma estrutura para explorar o balonismo. Kalousdian diz que o preço de fábrica de um balão médio com cesto para quatro pessoas é de cerca de R$ 250 mil ou R$ 300 mil, incluindo cilindro, queimador e envelope. “É possível ter um retorno em seis ou 12 meses trabalhando 1/3 do mês, só de manhã e às vezes à tarde”, exemplifica.

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No mês passado, o governo federal zerou o imposto de importação para o segmento do balonismo, mas atualmente não compensa importar o produto, pois não há oficinas homologadas para reparos, segundo a Rubic Balões

Expansão do turismo

A empresária usa exemplos no exterior para sustentar a aposta nas potencialidades do uso do balonismo para a expansão de atividades turísticas. “Na cidade americana de Albuquerque, no Novo México, há o maior evento de balonismo do mundo. Eles montaram uma estrutura incrível para apresentar suas belezas. Onde tem balão tem mais hotéis, restaurantes. O balonismo traz o turista e acaba trazendo também um aeroporto para cidade”.

A cidade japonesa de Saga, considerada o centro do balonismo na Ásia, é outro caso apontado por ela como exemplo bem-sucedido. No Brasil, ela destaca a cidade de Torres, no Rio Grande do Sul. “É a capital do balonismo no Brasil. Eles abraçaram a ideia de realizar um evento anual que enche a cidade de turistas”, diz a sócia-proprietária da Rubic Balões.

Ela diz que existem outros pontos isolados no país que apostam no balonismo, citando cidades paulistas como Boituva, Piracicaba, Pindamonhangaba, Araçoiaba da Serra, Marília, além de Praia Grande, em Santa Catarina. Na região Norte, o Acre é um estado onde também há investimentos em balonismo, segundo Kalousdian. “O ideal é treinar pessoas da região para aprender sobre o microclima do local e voar”.

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A concessão de parques nacionais para a iniciativa privada, com o compromisso de investimentos privados, também abre oportunidades para a expansão de negócios do setor aeronáutico, já que essas áreas verdes podem ser apreciadas por seus visitantes do alto, por exemplo, de um cesto de balão.

No mês passado, o governo federal zerou o imposto de importação para o segmento do balonismo. A medida traz o benefício de potencialmente reduzir os custos do setor, que compra insumos no exterior, como termômetros especiais, segundo a Rubic Balões. Antes, a alíquota era de 20%.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.