Imagen de la sede central de Goldman Sachs en Nueva York
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Bloomberg Opinion — É hora de voltar ao escritório. Ninguém quer ouvir isso, mas em breve você estará se deslocando de casa para o trabalho cinco dias por semana. Talvez, como alguém que trabalhou em casa a maior parte de sua carreira, eu não seja a melhor pessoa para trazer esta notícia. Mesmo assim, é a verdade.

Falei recentemente com uma executiva bem-sucedida de 50 anos, em uma grande empresa de mídia. Ela disse que nunca quis voltar para o escritório. Ela adorava trabalhar em sua segunda casa em Miami – ou no resort no México de onde ela acabou de voltar. Ela disse que era tão produtiva quanto, senão mais, trabalhando dessa maneira. Perguntei se ela achava que o arranjo era igualmente bom para a equipe júnior.

Essa executiva construiu contatos valiosos, cultura e camaradagem ao passar muitas horas no escritório com seus colegas de trabalho enquanto subia na hierarquia. Há muito trabalho pesado no início de uma carreira, mas o tempo nas trincheiras com os colegas, pedir comida quando você tem que trabalhar durante o jantar e sair para beber depois é o que ajuda a torná-lo suportável. Você desenvolve relacionamentos que duram o resto de sua vida profissional.

Portanto, não basta que os jovens voltem ao escritório; eles também precisam ver e interagir com os funcionários seniores. Seus colegas de trabalho mais velhos não apenas os treinam, mas o tempo gasto trabalhando juntos – presencialmente – é a forma pela qual a equipe sênior investe no sucesso de seus colegas mais novos. É por isso que eles oferecem novas atribuições, defendem promoções e os orientam. É fundamental na progressão das carreiras. E é difícil, senão impossível, construir esse tipo de vínculo por meio de uma tela de computador.

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A executiva concordou que ela se beneficiava de passar dias no escritório quando era mais jovem e que a equipe sênior a havia orientado. Perguntei se ela sentia necessidade de retribuir aquela generosidade voltando. Ela pensou sobre isso e depois argumentou que ir ao escritório representava um risco para a saúde, então é diferente agora.

Voltar ao trabalho está emergindo como um problema de ação coletiva. As pessoas mais velhas e estabelecidas não querem voltar e não sentem que isso seja necessário para que seu trabalho seja feito. Mas tê-los de volta ao escritório é importante para a cultura do local de trabalho, produtividade no longo prazo e para transmitir habilidades e influência para colegas mais jovens. Se esses profissionais mais velhos não retornarem, haverá menos motivação para os mais jovens retornarem também. E agora não há muitas pessoas voltando: as taxas de ocupação de escritórios são de apenas 40% nos Estados Unidos e são ainda mais baixas em cidades como Nova York e São Francisco.

Voltar ao escritório é fundamental não apenas para treinar trabalhadores mais jovens, mas também para estabelecer a cultura do escritório em todas as idades. Se você não vê seus colegas de trabalho regularmente, é fácil esquecer que gosta deles. Uma pessoa amigável pode se transformar naquele gerente que existe apenas para impedir que suas grandes ideias se concretizem, ou pode-se simplesmente morrer de tédio por ficar muito tempo em reuniões virtuais. Conectar-se com os colegas é uma grande parte do que mantém as pessoas felizes no trabalho. Um retorno lento ao escritório pode ser uma das razões pelas quais os pedidos de demissão estão em alta.

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É verdade que ir ao escritório pode parecer uma perda de tempo. Envolve vestir roupas mais bonitas e se deslocar, às vezes por longas distâncias. Uma pesquisa do economista de Stanford, Nicholas Bloom, e seus coautores estimam que trabalhar em casa durante a pandemia aumentou a produtividade em até 5% (dependendo do trabalho), principalmente por evitar deslocamentos e ter mais tempo de silêncio. Mas ele explicou por e-mail que pode ser bom um pouco além do limite: “Eu vejo o impacto do teletrabalho na produtividade um pouco como ir à academia – ótimo com moderação, mas problemático em excesso”.

Ele está preocupado com o impacto de trabalhar muito em casa na produtividade no longo prazo. Ele diz que o ideal são cerca de três dias no escritório para facilitar a criatividade, a inovação e a construção da cultura, em muitos tipos diferentes de trabalhos e profissões.

Cultura, retenção e treinamento são provavelmente o motivo pelo qual muitos chefes estão exigindo que as pessoas voltem ao escritório. Superar um problema de ação coletiva geralmente requer um certo empurrão. Mas o problema aqui é que o empurrão pode não funcionar. Bloom descobriu que exigir presença no escritório pode tornar os empregadores menos competitivos. Os funcionários podem aceitar um corte salarial de até 8% para manter a flexibilidade. Até 15% das pessoas dizem que planejam nunca mais voltar ao trabalho no escritório.

Então, por que não voltar dois ou três dias por semana? A pesquisa de Bloom sugere que é isso que a maioria das pessoas que podem trabalhar remotamente planeja fazer. Ele acha que um modelo híbrido pode ser ótimo em termos de produtividade, pois equilibra a economia de tempo de deslocamento com tempo suficiente no presencial. E o retorno ao escritório provavelmente começará assim.

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Mas pode não ser sustentável. Em algum momento, a opção de trabalhar em casa pode se tornar equivalente à ideia de que você não precisa responder seu e-mail no fim de semana. Tecnicamente é uma escolha, mas não uma que você possa realmente fazer se quiser avançar. Aparecer no escritório todos os dias sinalizaria mais dedicação e ofereceria a oportunidade de se voluntariar para grandes tarefas, ou apenas conversar durante o café e decidir algo importante com as outras pessoas que também estarão lá naquele dia.

A forma como trabalhamos está sempre em evolução. Durante a maior parte da história humana, as pessoas não trabalhavam em um escritório ou fábrica. À medida que a tecnologia muda, o mesmo acontece com o arranjo de trabalho ideal. Agora temos a tecnologia para trabalhar à distância em muitos empregos, e a pandemia impulsionou essa transição. Mas a tecnologia e a cultura nem sempre mudam na mesma proporção. Idealmente, o trabalho em casa continuará existindo de alguma forma – talvez como uma opção se você trabalha por contrato e deseja mais flexibilidade. Ou você poder[a lançar mão dessa alternativa quando precisar, como quando seu filho estiver doente. Caso contrário, todos precisam voltar.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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