10 gráficos para entender impacto de um mês de guerra sobre mercados

De petróleo a alimentos, conflito militar entre Rússia e Ucrânia pressionou ainda mais os mercados já perturbados

Bolsa de Metale de Londres
26 de Março, 2022 | 08:17 AM

Bloomberg Línea — Há um mês, o presidente russo Vladimir Putin anunciou uma “operação militar especial” na Ucrânia que marcou o início da invasão de seu vizinho, após meses de tensões e alertas dos Estados Unidos de que um conflito entre os dois países estava cada vez mais iminente. A guerra do Kremlin afetou ainda mais os mercados que já estavam sob pressão do ritmo de recuperação das economias depois da pandemia, bem como de uma crise logística que afetou igualmente todos os setores.

O conflito militar entre Kiev e Moscou não atingiu apenas dois dos principais produtores mundiais de trigo, grãos e petróleo, mas teve um impacto global. A reação dos Estados Unidos e de seus aliados à invasão foi rápida, tornando a Rússia o país mais sancionado do mundo. As multinacionais abandonaram em massa o país, o bloqueio de grande parte do sistema financeiro derrubou a bolsa local e boa parte de suas reservas continuam congeladas.

Confira os 10 gráficos que mostram o impacto da guerra na Ucrânia sobre os mercados:

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A moeda da Rússia sentiu as sanções contra Moscou, que também limitaram a possibilidade de que operadores e o próprio governo possam fazer transações com dólares. A queda foi tanta que o rublo (RUB) é uma das moedas mais desvalorizadas do mundo, com queda de 14,28% no último mês. O declínio é de mais de 20% até agora este ano.

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O número seria mais alto se a moeda não tivesse se recuperado nas últimas horas após a decisão do presidente Putin de exigir que os países usem a moeda local para compras de gás natural russo, apesar de ainda não ter conseguido recuperar os níveis anteriores à guerra.

O mercado de ações foi tão afetado que não pôde continuar operando. Não só foi atingido pela limitação que as empresas sofreram, mas também porque todas as agências de risco decidiram retirar as ações da Rússia de seus índices e até rebaixaram classificação de risco do país.

A bolsa de Moscou levou quase um mês para retomar as operações, depois que decidiu fechá-las em 25 de fevereiro após o início da invasão e acumular uma queda de 30%. Após voltar a operar, conseguiu uma alta de mais de 4%, embora com certas limitações estabelecidas pelas autoridades.

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Os preços do petróleo, que já estavam sob pressão, receberam seu último impulso depois que o petróleo russo foi afetado pelas sanções dos EUA, mas também pelo risco de que o abastecimento do terceiro maior produtor mundial desse material seja cortado.

O custo do barril, tanto de WTI como de Brent, ultrapassou os US$ 100 – barreira que já se esperava que fosse quebrada de qualquer forma, já que a oferta de petróleo não acompanhou a recuperação das economias após a pandemia.

Se existe um ativo de refúgio por natureza, é o ouro, e o comportamento do preço voltou a demonstrar isso na pior crise que a Europa viveu desde a Segunda Guerra Mundial. O valor por onça também ultrapassou os US$ 2 mil, algo que não acontecia desde 2020, quando o mundo vivia o avanço da pandemia.

O tom mais agressivo do Federal Reserve, que busca controlar a inflação mais alta em quatro décadas, juntamente com os maiores rendimentos de títulos americanos, também beneficiam a classificação do metal como ativo de refúgio.

Outro metal que se beneficiou da crise foi o cobre, essencial para economias latino-americanas como Chile e Peru. No entanto, a matéria-prima, assim como outros produtos básicos, também é considerada um ativo de refúgio, e os consumidores buscam adquirir suprimentos diante das fragilidades da cadeia produtiva, segundo Diego Hernández, presidente da Sociedade Nacional de Mineração do Chile, à Bloomberg News.

A oferta também seria afetada se o comitê de cobre da London Metal Exchange decidir banir novas remessas russas do metal da bolsa. A Rússia é o sétimo maior produtor mundial e responde por cerca de 4% da produção mundial.

A volatilidade tem sido comum no mercado de níquel, metal destinado à fabricação de aço inoxidável, mas também utilizado em baterias de automóveis. A Rússia contribui com cerca de 10% da produção mundial e conta com a Norilsk Nickel em seu país, com minas no extremo norte da Sibéria, que fornece cerca de 17% do metal destinado a baterias.

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O mercado também foi abalado pelas posições vendidas do magnata chinês Xiang Guangda, que provocaram uma alta sem precedentes e forçou o fechamento da negociação de níquel na London Metal Exchange (que foi retomada nos últimos dias, mas ainda com extrema volatilidade e suspensões após ultrapassar limites diários).

O bitcoin (BTC), maior criptomoeda por valor de mercado, foi divulgado por seus fãs como um ativo de refúgio. E, embora seu preço tenha subido no último mês, agora se encontra estagnado acima de US$ 43 mil, longe da máxima histórica alcançada em novembro do ano passado, quando ultrapassou os US$ 67 mil. Nesta quinta-feira (24), criptomoeda chegou a quase US$ 44 mil.

Uma desvantagem para o token digital é que seus movimentos estão cada vez mais correlacionados aos dos ativos tradicionais em um momento em que os retrocessos nos mercados são a regra. “O Bitcoin está acima do nível dos US$ 40 mil, e isso é bom para investidores de longo prazo. A moeda deve continuar sendo uma operação lateral até que Wall Street decida se renda variável pode continuar indo bem com toda a incerteza geopolítica do momento”, disse Edward Moya, analista da Oanda.

Algo que afetou todos os consumidores igualmente foi o preço dos alimentos, cada vez mais alto em meio à crise logística que já assolava o mundo e a alta das matérias-primas, do trigo ao petróleo.

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O índice de preços dos alimentos, que acompanha a variação mensal dos preços internacionais e é elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, teve média de 140,7 pontos em fevereiro, 3,9% a mais que em janeiro e 24,1% acima do nível do ano anterior, conforme divulgado pela agência da ONU. O aumento dos óleos vegetais e dos laticínios levaram o índice a uma máxima histórica.

Em meio ao rali das matérias-primas, as moedas das economias latino-americanas apresentam bom desempenho em relação ao dólar, com exceção da economia argentina, que historicamente sofre com a fraqueza de sua moeda.

As moedas da região se tornaram um dos destinos preferidos do capital estrangeiro em meio ao aumento dos preços das commodities, taxas de juros cada vez mais altas para combater a inflação e a visão de que os ativos locais estão subvalorizados, conforme destacado pela Bloomberg News.

Todo esse cenário afetará as economias da América Latina, que crescerão menos que o projetado antes da guerra. Analistas do Goldman Sachs (GS) projetam um crescimento real de 1,8% no PIB das sete maiores economias – menos que os 2,1% previstos antes do conflito na Europa. Os dois principais países da região cresceriam apenas 0,6% (Brasil) e 1,4% (México).

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O FMI também se pronunciou no mesmo sentido, apesar de ainda não ter atualizado suas projeções de crescimento. Para o órgão internacional, os altos preços dos produtos básicos podem acelerar significativamente, o que vai pressionar os bolsos dos consumidores.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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Carlos Rodríguez Salcedo (BR)

Jornalista colombiano, especializado em economia. Fui jornalista e editor do jornal La República, com experiência em questões macroeconômicas, comerciais e financeiras. Eu também trabalhei para a agência de notícias Colprensa.