Citigroup efetua pagamento de cupom de US$ 117 mi da Rússia

Declaração oficial corrobora relatos anteriores de que o JPMorgan havia processado a quantia, em meio a receios de calote

Os pagamentos foram denominados em dólares, disseram duas pessoas diferentes
Por Saleha Mohsin - Laura Benitez e Lyubov Pronina
18 de Março, 2022 | 07:43 PM

Bloomberg — O Citigroup (C) processou os US$ 117 milhões transferidos pela Rússia para pagar cupons sobre duas emissões de títulos denominados em dólares e enviou o dinheiro mais adiante na cadeia de pagamento, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.

Os recursos não estão mais com o Citigroup, disse a pessoa, que não quis ser identificada porque não está autorizada a falar publicamente sobre o assunto. Uma porta-voz do Citigroup se recusou a comentar. Os pagamentos foram denominados em dólares, disseram duas pessoas diferentes.

Mais cedo, o Ministério das Finanças da Rússia informou que os pagamentos estavam com o Citigroup e que o país cumpriu suas obrigações junto aos investidores. Ainda assim, cinco detentores de títulos na Europa afirmaram que não haviam recebido os pagamentos dos cupons até as 11:00 em Londres.

A declaração oficial corrobora relatos anteriores de que o JPMorgan (JPM) havia processado a quantia de US$ 117 milhões e enviado o dinheiro para o Citigroup. Os relatos impulsionaram a valorização dos títulos e reduziram o custo do seguro da dívida russa contra inadimplência. Nesta sexta-feira, os derivativos de crédito da Rússia implicavam 48% de chance de inadimplência dentro de um ano, de acordo com dados da CMAI, comparado a 60% na manhã de quinta-feira.

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“Não me lembro de uma época em que houvesse mais incerteza sobre um emissor soberano – o default da Argentina em 2001 foi confuso, mas previsível”, disse Gary Kirk, gestor de carteiras da TwentyFour Asset Management. “Isso é muito mais difícil devido às sanções globais.”

A confirmação de que o Citigroup tem o dinheiro é o mais recente desdobramento de uma novela no pagamento de cupons que passou a representar o novo e complexo relacionamento da Rússia com o resto do mundo desde que invadiu a Ucrânia no mês passado. Nas semanas desde o início da guerra, o país com energia abundante passou a ser o mais sancionado do planeta. Sua classificação de risco de crédito desabou em meio a expectativas de calote — se não nos cupons com vencimento nesta semana, possivelmente mais tarde.

Segundo reportagem da RIA Novosti, o ministro das Finanças, Anton Siluanov, teria dito nesta semana que um pagamento de cupom em dólar foi efetuado. Se for bloqueado, então o pagamento será em rublos. A Rússia tem carência de 30 dias para cumprir as obrigações, contando a partir da quinta-feira.

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“Se os fundos não estiverem acessíveis pelos investidores ou se um pagamento for feito em moeda não estipulada nos termos da obrigação e entendermos que o investidor não concorda com o pagamento alternativo, podemos considerar isso um default”, afirmaram analistas da S&P em comunicado. A agência rebaixou o rating da dívida em moeda estrangeira da Rússia de CCC- para CC.

Alguns investidores confiam que os detentores de títulos serão pagos em dólares. O risco de crédito do país caiu e seus títulos com prazos até 2023 e 2043 — que tinham dois cupons vencendo nos últimos dias — estão mantendo ganhos após a apreciação superior a 100% nesta semana. Ainda assim, ambas as emissões ainda são negociadas em níveis de profundo estresse, em cerca de metade do valor nominal.

Como agente de pagamentos, o Citigroup coleta pagamentos de cupons de emissores de títulos e distribui os recursos aos custodiantes por meio de câmaras de compensação e o dinheiro eventualmente chega aos detentores dos títulos. O serviço é peça essencial do mecanismo financeiro mundial, embora raramente se fale dele.

Um porta-voz do Departamento do Tesouro dos EUA afirmou na quarta-feira que as restrições a negociações com o banco central e outras instituições da Rússia não impedem que o país faça pagamentos de sua dívida denominada em dólares, pelo menos até o final de maio.

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