App cristão Glorify capta US$ 40 milhões do SoftBank

A Série B vem três meses após a captação de recursos com a a16z; para o CEO da Glorify, o Brasil é prioridade

Henry Costa e Ed Beccle, co-fundadores do Glorify
08 de Março, 2022 | 11:47 AM

O aplicativo religioso Glorify, com sede no Reino Unido, levantou uma rodada de US$ 40 milhões da Série B liderada pelo SoftBank Latin America Fund. Em dezembro de 2021, o Glorify já havia captado US$ 40 milhões da a16z, o SoftBank Latin America Fund e K5 Global, além de celebridades americanas como Kris Jenner, Corey Gamble, Michael Ovitz, Michael Bublé, Jason Derulo e os cofundadores do Candy Crush. No total, o aplicativo cristão já arrecadou US$ 84,6 milhões desde seu lançamento em 2020.

Edward Beccle, 22, é o CEO da Glorify. Empreendedor serial, ele nasceu em Hong Kong e foi para o Reino Unido quando criança. “O Glorify veio da minha mente e do meu coração. Parte em nível emocional e outro em nível de carreira comercial”, diz. “Tive sorte na minha vida, iniciei empresas de tecnologia antes da Glorify e tive muita sorte. Tive algum sucesso nos negócios e realmente tenho o privilégio de escolher como passar minha vida e meu tempo. É muito difícil quando você é muito jovem não ficar filosófico sobre tudo o que você faz.”

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Beccle tinha 17 anos quando vendeu sua primeira empresa. Ele deixou a escola naquela época para construir seu próximo aplicativo e não tinha nenhuma qualificação de ensino médio, nem foi para a universidade. O que fazer quando você é super-rico e jovem? Ele fez o Glorify.

“Ganhei algum dinheiro e pensei que todos os meus amigos estavam indo para a universidade, tentando conseguir emprego, mas eu meio que consegui pular algumas etapas, o que é uma loucura. Posso me dar ao luxo de comer a comida que quero, morar onde quero e, além disso, não gasto dinheiro. Então, o que eu faço a partir disso, o que eu faço com minha mente e meu tempo? Decidi que só queria construir negócios dos quais me sentisse verdadeiramente orgulhoso”, disse o empresário, em entrevista. “Muitas pessoas se sentem neutras sobre o trabalho que fazem. Eles não acham que é ruim e não acham que é bom.”

Parte dos empreendedores mais jovens, Beccle olha muito para as mídias sociais. Instagram, Facebook, Twitter. Ele diz que sentiu que as redes sociais fazem uma grande parte da vida de tantos jovens e isso mudou a forma como esses jovens consomem mídia e conteúdo.

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“E é bem negativo. Catalisa as pessoas para ficarem deprimidas, as pessoas se comparam com as outras e não é tão bom assim”, diz. Mesmo assim, os jovens ainda acessam esses aplicativos com frequência por causa das experiências do usuário que os tornam viciantes.

Beccle queria fazer algo assim, mas para a fé. Não é como se ele quisesse fazer um Facebook para cristãos, mas a ideia do Glorify, diz ele, era conseguir a comunidade massiva de cristãos que existem nessas redes sociais e construir um lugar específico para eles viverem. “Minha fé ia e vinha. Meu sócio Henry Costa, que co-fundou meu último negócio, é meio que meu irmão mais velho, meu melhor amigo, e ele tem 33 anos. Estávamos sentados no escritório olhando para esses aplicativos Calm e Headspace e pensamos como não há um versão disso para os cristãos?”

Como as mídias sociais, o Glorify permite que os cristãos se envolvam e interajam uns com os outros, em um lugar “onde não há negatividade ou exposição de forma ruim”, segundo Beccle. O núcleo do aplicativo são devocionais, com citações da Bíblia, música e orações.

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“Quando eu era mais jovem, ia a uma igreja assustadora com músicas estranhas que não se conectavam comigo. Disseram-me para ir à igreja, o que não era uma escolha quando eu era mais jovem. Não estava associado com o que eu acredito que Deus é. Sim, Deus está na igreja, um lugar incrível para encontrá-lo. Mas para muitas pessoas, quando se trata de todos os dias, como podemos construir esses elementos, como você pode impulsionar os ensinamentos e a positividade que vêm da Bíblia o tempo todo pelo seu telefone? Foi daí que veio o Glorify”, acrescenta.

O aplicativo semelhante ao Headspace tem meditação de ansiedade, meditação do sono, música para ajudar os cristãos a pensar e a se conectar com Deus. As pessoas também podem criar orações, publicá-las e compartilhá-las.

“Você pode ver alguém orando 30 minutos, milhões de minutos, temos algumas orações no Brasil que tem muitas pessoas orando juntas em uma oração. Eles oraram milhões de minutos, é muito poderoso.”

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Também como o Headspace, o Glorify tem a opção de pagar por conteúdo premium baseado em assinatura, mas Beccle diz que nunca colocará o lucro acima do propósito. “Se você não puder pagar pelo aplicativo, nós o daremos gratuitamente. Quando você ainda pode pagar pelo aplicativo, ainda damos a maior parte de graça também. Meu objetivo é construir um grupo realmente grande, de centenas de milhões de usuários dentro do aplicativo, e monetizá-los de diferentes maneiras posteriormente”, explica.

“Queríamos criar um lugar onde todo cristão pudesse vir todos os dias e encontrar essa conexão. Muito do meu pensamento começou quando eu olhei para a minha fé como um músculo, você tem que dar consistência e disciplina.”

E consistência é a palavra-chave nos negócios. “Se você olhar para as empresas mais bem-sucedidas do mundo, elas são aquelas em que você pode usa pela manhã e à noite. E quando se trata de seu relacionamento com Deus e fé, não há diferença, nunca houve uma interface em seu telefone que permitisse esse tipo de paz.”

Investidores migram para empresas que “fazem o bem”

Beccle e seu parceiro não tiveram problemas para encontrar pessoas para investir no aplicativo. Eles também tiveram algum sucesso anterior em outras empresas, além de um grupo de anjos que queriam investir na dupla novamente. “Eu não sei quantas pessoas da minha idade poderiam experimentar o que estou experimentando agora. É um sonho completo, sou muito grato por isso”, diz Beccle.

Depois do Reino Unido, o Glorify foi lançado nos EUA. O CEO diz que Deus abriu uma porta para o aplicativo ir para o Brasil.

“Quando lançamos o aplicativo, as pessoas adoraram e o impacto foi extraordinário, mudando a vida das pessoas. Fui para o Brasil visitar um amigo, antes da pandemia. E no Brasil a fé das pessoas é notável.”

Beccle conheceu celebridades no país e conseguiu que vários dos maiores influenciadores do Brasil postassem sobre o aplicativo, o que gerou mais de 2,2 milhões de downloads só no país. Amigo de celebridades, ele também conseguiu que influenciadores americanos postassem sobre o assunto.

“O Glorify está se tornando um meio incrível para permitir que as pessoas que têm fé falem sobre essa fé por meio de algo com o qual se sintam confortáveis”, diz.

O Brasil foi o primeiro passo na América Latina e é o maior mercado para a empresa. Recentemente, o Glorify foi lançado na América Latina de língua espanhola. Só nos últimos 30 dias o aplicativo teve quase 600.000 usuários. Ao todo, tem 3,5 milhões de cristãos, e o Brasil responde por cerca de 60% disso.

Os novos recursos vão para construir a equipe e o produto, e gastar mais em conteúdo. “O Brasil é uma grande prioridade para mim. Vamos investir no marketing do aplicativo, fazendo com que mais pessoas baixem.”

Não era como se o Glorify precisasse de dinheiro para isso. A Série B foi toda de interesse dos investidores. “É um sinal muito bom, muitos investidores agora estão pensando que deve haver uma mudança, assim como a mudança que tive. Acho que mais pessoas querem investir em empresas que estão genuinamente fazendo o bem, não apenas ganhando dinheiro. Especialmente para a geração mais jovem, não invisto em nenhuma empresa que não esteja alinhada com meus valores. Eu sei que mais e mais investidores estão fazendo isso e eles podem ver que esse espaço de fé baseado em tecnologia é enorme. Vai ser enorme”.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups