Apenas 3 em cada 10 mulheres tomam decisões financeiras na América Latina

Educação financeira não é suficiente para mulheres no Brasil, Colômbia, Equador e Peru, aponta estudo

A woman working from home with a laptop computer and mobile phone in the U.K.  Photographer: Hollie Adams/Bloomberg
08 de Março, 2022 | 03:53 PM

Bloomberg Línea — A inclusão financeira e a tomada de decisões econômicas nas famílias também são diferentes entre homens e mulheres, segundo relatório do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).

As pesquisas aplicadas ao estudo de capacidades financeiras das mulheres permitiram identificar que apenas 33% das mulheres no Brasil, Colômbia, Equador e Peru “afirmam que tomam decisões financeiras por conta própria, ante 48% dos homens”.

O planeamento financeiro é um dos eixos temáticos do relatório, pois constitui um fator chave para o bem-estar do lar e de seus habitantes. Observa-se que “essa lacuna de gênero é maior no Equador, onde 49% dos homens e 31% das mulheres tomam decisões diárias sobre as finanças domésticas”, ou seja, a lacuna é de 18 pontos-base.

A tendência é revertida pela possibilidade de terceiros intervirem nas decisões cotidianas sobre as finanças das famílias. Especificamente, perante as opções de resposta ‘Alguém toma essas decisões’ e ‘Eu tomo essas decisões com outra pessoa’, as pesquisas mostram que mais mulheres do que homens precisam que outras pessoas decidam sobre suas finanças. Em média, 67% das mulheres e 52% dos homens responderam que precisam de outra pessoa para tomar decisões.

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Mulheres economizam menos

Um dos pilares do planeamento financeiro de um lar no médio e longo prazo é a economia, seja através de instrumentos financeiros ou de alguns métodos menos elaborados que permitam à família estabelecer metas.

No entanto, o estudo da CAF mostra que as mulheres têm uma menor propensão a economizar. “Em média, 34% das mulheres afirmam ter economizado nos últimos 12 meses ante 44% dos homens. O Brasil tem a maior disparidade de gênero (11 pontos-base) e o Peru tem maior percentual de homens e mulheres que poupam: 51% e 42%, respectivamente.

Como consequência destes resultados, as mulheres também têm percentual menor no componente “Metas financeiras” (38% contra 42% nos homens).

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De acordo com os resultados dessa seção do relatório, as mulheres tendem a priorizar os objetivos de comprar um imóvel ou reformar a casa, enquanto os homens têm maior probabilidade de ter o objetivo financeiro de abrir um negócio ou constituir uma empresa.

“Por sua vez, as mulheres têm maior tendência a cortar gastos para atingir uma meta financeira, apresentando uma diferença média de gênero de aproximadamente 6,7 pontos-base em favor das mulheres”, acrescenta o texto.

Digitalização em casa

Um aspecto importante avaliado no estudo é o uso de mídia digital para gerenciar as finanças, que é muito baixo nos quatro países tanto para mulheres quanto para homens. Apenas 24% dos homens e 17% das mulheres usam aplicativos bancários.

É preciso trabalhar na implementação de estratégias nacionais ou programas de educação financeira e criar sistemas de indicadores de gênero para criar políticas públicas que reduzam as desigualdades e estimulem uma maior participação das mulheres na economia de seus países. Isso implica trabalhar para reduzir as lacunas de comportamento, planejamento, conhecimento e atitudes financeiras, bem como de inclusão e vulnerabilidade financeira.

Diana Mejía, especialista sênior de inclusão financeira da CAF

Além disso, o texto também sugere que as mulheres tomam menos decisões quanto à escolha de produtos financeiros para o lar, bem como tendem a fazer menos comparações entre eles.

O estudo também destacou que em relação à “predisposição para arriscar algum dinheiro quando se faz um investimento, observa-se que, entre os quatro países, o Brasil apresenta a maior aversão ao risco (50% homens e 53% mulheres) enquanto o Peru tem a taxa mais baixa (27% homens e 41% mulheres)”.

As pesquisas foram realizadas a partir de uma amostra de 1,2 mil pessoas em cada país, levando em conta diferentes níveis socioeconômicos, áreas geográficas, idades e níveis educacionais. Foram 33 perguntas sobre comportamentos, conhecimentos e atitudes financeiras.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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Sebastián  Osorio Idárraga

Comunicador social y periodista. Ex Editor de Home en la Revista Semana. Ex periodista económico en Revista Dinero y la Radio Nacional de Colombia. Podcaster.