Após “efeito-Powell”, mercados voltam a se guiar por impacto da guerra nos preços

Bolsas europeias e futuros nos EUA, que chegaram a subir no início do dia, operam no vermelho, enquanto as cotações do petróleo e de outras commodities disparam

As variáveis que orientarão os mercados
03 de Março, 2022 | 08:23 AM

Barcelona, Espanha — Os futuros de índices norte-americanos e as bolsas europeias tentaram, no começo da manhã, encadear uma nova alta. Mas acabaram não resistindo à pressão das commodities, em disparada devido à guerra na Ucrânia.

As ações de serviços públicos lideram um declínio no índice Stoxx 600 da Europa, bem como os papéis de empresas com exposição à Rússia. Mineração e energia, ao contrário, subiam, acompanhando o petróleo - que atingiu o nível mais alto desde 2008. O gás natural europeu bateu um novo recorde, enquanto o zinco tocou o nível mais alto desde 2007. Os investidores voltam a posicionar-se em ouro e títulos soberanos, ativos de proteção por excelência.

Ainda que o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, tenha trazido alento às bolsas ontem, o cenário no mercado financeiro está longe de ser tranquilizador. A guerra detonada pela Rússia entra em sua segunda semana, com ataques já dirigidos à população civil.

Sanções e reações

Continua em curso a enxurrada de sanções econômicas impostas à Rússia por diversos países, sobretudo EUA e os do continente europeu. A reação da Rússia às penalizações e o risco de desabastecimento de matéria-prima energética por parte do país, grande player no mercado petrolífero e principal provedor de gás natural à Europa, levam as cotações das commodities a uma subida frenética. O petróleo alcança o maior nível desde 2008. O petróleo tipo Brent chegou a superar os US$ 118 por barril, enquanto WTI ultrapassou os US$ 115 no momento de maior nervosismo.

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Mais inflação

O aumento dos preços das commodities trará consequências à inflação mundial, já em níveis historicamente elevados. Ontem, foi divulgado que o IPC da zona do euro alcançou novo recorde. Subiu a 5,8% em fevereiro na comparação anual, superando as estimativas de 5,6% e os 5,1% da leitura anterior.

A fala de Powell

O mercado ouviu do pronunciamento do presidente do Federal Reserve (Fed) exatamente o que queria escutar: que o caminho cimentado para a alta de juros não se agrava com a guerra no leste europeu. Pelo menos por enquanto.

No Congresso, Jerome Powell se disse “inclinado a propor e apoiar uma elevação de 0,25 ponto porcentual” do custo do dinheiro na reunião de 16 de março – e não com uma carga mais alta, de 0,50 ponto, como temia a turma da renda variável –, o que elevaria o juro básico de 0% a 0,25%.

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🔴 Ele observou, no entanto, a necessidade de estar “preparados para uma ação mais agressiva”, caso a inflação persista em níveis elevados.

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Um panorama dos principais mercadosdfd

🟢 As bolsas ontem: Dow (+1,79%), S&P 500 (+1,86%), Nasdaq (+1,62%), Stoxx 600 (+0,90%), Ibovespa (+1,80%)

As bolsas subiram com força, apesar de todas as incertezas geradas pela guerra Rússia-Ucrânia e pela inflação recorde na Europa. O discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, ajudou a sustentar as bolsas em território positivo, em meio ao impacto do conflito bélico. O chefe do banco central dos EUA apoiou um aumento da taxa de juros de 0,25 ponto percentual agora em março para dar a largada a uma série de aumentos.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

• Indicadores PMI/Fev: EUA, Zona do Euro, Reino Unido, Espanha, França, Itália, Brasil

Europa: Zona do Euro (Índice de Preços ao Produtor/Jan, Taxa de Desemprego)

• EUA: Pedidos semanais de seguro-desemprego, Índice ISM de Atividade Não-Manufatureira/Fev, Encomendas às Indústrias/Jan

Japão: Taxa de Desemprego/Jan

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Bancos Centrais: Powell prossegue com seu testemunho semestral perante o Comitê Bancário do Senado. BCE publica minuta da reunião de fevereiro. Pronunciamentos de Tiff Macklem (governador do Banco do Canadá), de John Williams (Fed) e de Silvana Tenreyro (BoE)

• Balanços: Broadcom, Costco, Merck

No Brasil: (Balança Comercial/Fev, Fluxo de Capital Estrangeiro)

📌 E para amanhã:

EUA: Folha de pagamento não agrícola/Fev, Taxa de Desemprego, Salário médio por hora

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Zona do Euro: (Vendas no Varejo/Jan), França (Produção Industrial/Jan), Alemanha (Balança Comercial/Jan, PMI construção/Fev), Reino Unido (PMI construção/Fev)

Ásia: Hong Kong (Reservas Internacionais (Fev)

Na América Latina: Brasil (IPC-Fipe/Fev, PIB/4T21, Produção Industrial/Jan); México (Investimento Fixo Bruto/Dez)

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-- Com informações de Bloomberg News

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.