Escalada da crise na Ucrânia coloca China em posição delicada

Governo de Xi adotou um tom mais sutil à medida que aumentam os temores de uma invasão, apesar das repetidas negações dos russos

Para Xi, a crise é um teste de seus esforços para retratar a China como líder global responsável
Por Bloomberg News
22 de Fevereiro, 2022 | 02:31 PM

Bloomberg — Enquanto a maioria dos diplomatas participantes de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas condenou o governo de Vladimir Putin por causa da escalada das tensões com a Ucrânia, o enviado da China cuidadosamente evitou qualquer menção à Rússia.

“Todas as partes envolvidas devem exercer moderação e evitar qualquer ação que possa alimentar tensões”, afirmou o embaixador Zhang Jun na segunda-feira, em uma declaração de apenas seis frases. “A atual situação na Ucrânia é resultado de muitos fatores complexos”, acrescentou. “A China sempre tem sua própria posição, de acordo com o mérito da questão em si”.

O breve comentário contrasta com a longa declaração conjunta divulgada no início deste mês, após a primeira reunião pessoal entre Putin e Xi Jinping em dois anos. Em seguida, o presidente chinês apoiou a demanda da Rússia de garantias dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) quanto à Ucrânia, manifestando fundamental apoio a Putin quando ele confrontou o Ocidente.

O governo de Xi adotou um tom mais sutil à medida que aumentam os temores de uma invasão, apesar das repetidas negações dos russos. No fim de semana, o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, disse que a China apoia o direito da Ucrânia à “soberania, independência e integridade”, ao mesmo tempo em que critica o Ocidente por “criar pânico”.

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Após a decisão de Putin na segunda-feira de reconhecer duas repúblicas separatistas no leste da Ucrânia, Wang Yi pediu que todas as partes protejam os princípios da ONU durante um telefonema com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, mais tarde pediu que todos os envolvidos “esfriem a situação por meio de diálogo e negociação”.

“A China precisará lidar com uma linha tênue nesta crise”, disse Noah Barkin, especialista em relações sino-europeias na empresa de pesquisas Rhodium Group. O país “vai evitar criticar abertamente as ações da Rússia na Ucrânia, ao mesmo tempo em que reafirma seu apoio aos princípios de integridade territorial e não interferência. Quanto mais o conflito na Ucrânia se agrava, mais difícil será para Pequim se manter nessa linha”.

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Para Xi, a crise é um teste de seus esforços para retratar a China como líder global responsável. Enquanto Putin é conhecido como aventureiro em questões militares, a China regularmente defende a ordem internacional apoiada por agências da ONU, ainda que condene os EUA e seus aliados pela imposição de sanções.

Uma grande preocupação para a China é a estabilidade em um ano politicamente sensível. Xi deve conseguir um terceiro mandato, algo sem precedentes, durante uma convenção do Partido Comunista que só acontece duas vezes por década.

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