Investidor global vê ganhos adicionais para o real e o peso chileno

Brasil, Chile e Peru têm as divisas de melhor desempenho entre mercados emergentes este ano, uma reviravolta em relação ao ano passado

Derivativos apontam que o nível de otimismo dos investidores estrangeiros com o real é o maior em quase quatro anos
Por George Lei
17 de Fevereiro, 2022 | 03:08 PM

Bloomberg — As moedas latino-americanas estão se recuperando após um 2021 sombrio. Investidores estão aprendendo a conviver com o risco político e focando no aumento dos juros locais e dos preços de commodities. A expectativa é de valorização adicional para pelo menos duas dessas moedas — do Brasil e do Chile.

Brasil, Chile e Peru têm as divisas de melhor desempenho entre os mercados emergentes este ano — uma reviravolta em relação ao ano passado, quando a América Latina tinha quatro das seis moedas de pior desempenho.

“As moedas latino-americanas permanecem muito baratas nos níveis atuais”, disse Andres Pardo, estrategista-chefe de macroeconomia da América Latina na XP Investimentos. A combinação de alta de juros e avaliações reduzidas deve “atrair contas internacionais cheias de dinheiro interessadas em aumentar a exposição regional”.

Veja mais: Gestores veem Ibovespa em 120 mil, mas ampliam hedge contra eleição

PUBLICIDADE

Pardo destacou o real, que segundo a taxa de câmbio real está cerca de 40% mais barato do que seu valor justo e é uma das moedas especialmente subvalorizadas da região. Peso colombiano e peso chileno também estão significativamente subvalorizados, segundo ele. A alta dos preços do cobre e do minério de ferro e as elevações de juros tornam os valores dessas moedas mais atraentes.

Os bancos centrais latino-americanos foram os primeiros a subir juros no ano passado e autoridades no Chile e na Colômbia surpreenderam os mercados com acréscimos substanciais este ano, em preparação para o aperto monetário nos EUA. O mercado especula sobre aumentos emergenciais de juros nos dois países diante da disparada da inflação.

No Brasil, a taxa Selic agora em 10,75% é a mais alta em quase cinco anos.

As moedas devem se apreciar ainda mais graças a “avaliações mais atraentes, o auge dos riscos idiossincráticos, ciclos de aperto mais agressivos e preços de commodities mais fortes”, afirmaram os estrategistas Saad Siddiqui e Gisela Brant, do JPMorgan, em nota enviada a clientes em 10 de fevereiro.

Esses “riscos idiossincráticos” são principalmente políticos. Chile e Peru elegeram governos de esquerda no ano passado e Colômbia e Brasil dão sinais de que vão seguir seus passos em 2022. As preocupações dos investidores estão diminuindo, já que os novos líderes de esquerda não parecem inclinados a reverter políticas que sustentam a economia de livre mercado.

Alta de preços das commodities

Todas as principais moedas latino-americanas subiram este ano. O real registra o maior ganho, de 8,7%, enquanto o peso mexicano, que menos avançou na região, se apreciou 1,3%.

Os preços das commodities podem ser o grande catalisador para valorização adicional.

PUBLICIDADE

Enquanto os juros sobem em todo o mundo desenvolvido, a China intensificou esforços para impulsionar sua economia, anunciando o primeiro corte de juros desde abril de 2020.

O índice de commodities Bloomberg, medido em dólares, subiu 8,7% em janeiro, o maior avanço para o mês desde 1980. A cotação à vista do minério de ferro se apreciou mais de 16%. O índice estendeu os ganhos em 3,5% este mês, embalado pela alta de 5% do cobre.

Em busca de vencedores

Os investidores preferem particularmente as moedas do Brasil e Chile, que lideram em 2022 o ranking de moedas de 31 países desenvolvidos e emergentes acompanhadas pela Bloomberg.

Veja mais: Bolsa e real devem avançar mais com fluxo estrangeiro, diz Citi

No Brasil, investidores estrangeiros e locais aceitaram a perspectiva de Luiz Inácio Lula da Silva voltar à presidência. Derivativos apontam que o nível de otimismo dos investidores estrangeiros com o real é o maior em quase quatro anos. Na B3, os não residentes compraram R$ 32,5 bilhões em ações em janeiro.

O Brasil “é nossa principal escolha para a região tanto em renda fixa quanto em ações” e “um real ainda subvalorizado deve dar suporte aos preços dos ativos”, escreveram os estrategistas Kathryn Rooney Vera e Gregan Anderson, da Bulltick, na semana passada. O Citigroup recomenda o pareamento de posições compradas em moedas do Chile, Brasil e Uruguai com uma “posição vendida menor em pesos colombianos”.

Veja mais em bloomberg.com