Bloomberg — A China está intensificando os esforços para aliviar a revolta pública por uma mãe de oito filhos que foi encontrada acorrentada pelo pescoço em uma casa após as autoridades locais serem acusadas de minimizar o assunto.
O governo da província oriental de Jiangsu está formando uma equipe para “encontrar a verdade, punir os que violaram as leis, responsabilizar os envolvidos e divulgar os resultados ao público oportunamente”, disse a emissora estatal China Central Television na quinta-feira (17) em um breve comunicado em uma de suas contas nas redes sociais.
Uma conta administrada pelo Diário do Povo, principal jornal do Partido Comunista, ofereceu garantias de que a investigação seria eficaz, dizendo: “A verdade prevalecerá!” Um jornal publicado pela Federação das Mulheres da China afirmou em uma publicação nas redes sociais que a decisão das autoridades de Jiangsu “responderia às preocupações do público”.
A investigação e as garantias de alguns dos maiores meios de comunicação estatais do país de 1,4 bilhão de habitantes são um sinal de que o governo do presidente Xi Jinping está sob maior pressão para resolver o escândalo, que ameaça ofuscar os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. A situação da mulher viralizou desde que seu vídeo surgiu no final de janeiro e então circulou durante o feriado do Ano Novo Lunar.
O assunto foi novamente um dos tópicos mais lidos na plataforma de mídia social Weibo, semelhante ao Twitter, na quinta-feira, atraindo centenas de milhões de visualizações. Embora muitos tenham dito que se sentiam encorajados porque seus pedidos por uma investigação mais minuciosa foram atendidos, alguns alertaram que as autoridades locais poderiam atrapalhar uma investigação.
“Será que posso confiar nos resultados de uma investigação do governo sobre si mesmo?”, perguntou um usuário do Weibo.
Declarações contraditórias
Grande parte da revolta pública foi direcionada às autoridades de Xuzhou, terceira maior cidade da rica província costeira de Jiangsu, que faz fronteira com o centro financeiro de Xangai. As primeiras declarações do governo pareciam minimizar a situação da mulher que morava na vila rural de Dongji – e às vezes pareciam ser contraditórias.
Uma delas afirmava que não havia tráfico de pessoas, embora duas pessoas tenham sido detidas posteriormente por suspeita de cometer esse crime. As autoridades disseram que um amigo trouxe a mulher de sobrenome Yang – que sofria de problemas na fala e esquizofrenia – da província de Yunnan, no sudoeste, para Jiangsu anos atrás para tratamento médico e para encontrar uma “boa família para se casar”. Ela se separou da pessoa e se casou com o marido em 1998, segundo elas.
Na semana passada, a polícia deteve seu marido, de 55 anos, por suspeita de cárcere privado. As declarações oficiais não divulgaram a idade de Yang. As autoridades também não divulgaram as idades dos filhos do casal, embora as postagens nas redes sociais especulem um intervalo entre dois e 23 anos.
A Caixin Global, de Pequim, levantou questões sobre a verdadeira identidade de Yang, citando uma pesquisa de uma ex-jornalista investigativa que afirma que a foto em sua certidão de casamento não parece corresponder às imagens da mulher vistas nos vídeos. A Caixin também relatou que uma segunda mulher da mesma vila vivia em circunstâncias semelhantes às de Yang, indicando um vídeo que apareceu nas mídias sociais, mas foi excluído.
No início da semana, a China censurou uma carta assinada por 100 ex-alunos da Universidade de Pequim pedindo que o governo central investigasse a questão – um raro questionamento do público ao governo.
A carta desapareceu das redes sociais chinesas na noite desta terça-feira (15), logo após ter sido publicada. As tentativas de abrir a publicação no aplicativo da rede social levavam a uma página que dizia: “Não é possível visualizar este conteúdo porque viola os regulamentos”.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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