Investidores voltam às compras ante chance de conciliação no front geopolítico

Futuros de índices e bolsas europeias se recuperam das perdas de ontem; mercados acompanham desfecho da questão Ucrânia-Rússia e ata do Fed, prevista para amanhã

As variáveis que orientarão os mercados
15 de Fevereiro, 2022 | 08:43 AM

Barcelona, Espanha — Depois da queda de ontem, os investidores aproveitam para ir às compras nos mercados de renda variável da Europa e dos Estados Unidos. O ambiente ainda é incerto e as tensões geopolíticas estão longe de uma solução imediata, mas a percepção é de que existe um aceno para uma conciliação. Algumas unidades militares russas começarão a retornar às suas bases permanentes nesta terça-feira (15) após a conclusão dos exercícios, informou a Interfax, citando o Ministério da Defesa.

  • Há pouco, tanto os negócios com futuros de índices nos EUA como as bolsas europeias operavam em alta. O petróleo recuava e se afastava das cotações máximas desde 2014, enquanto os preços do gás natural caíam ante um possível arrefecimento da tensão geopolítica. Ao mesmo tempo, os prêmios dos títulos do Tesoro de 10 anos caíam no mercado norte-americano, enquanto o ouro, o investimento mais defensivo em tempos de crise, voltava a cair.
📡 Geopolítica no radar

Todos os olhos estarão voltados ao encontro de hoje do chanceler alemão Olaf Scholz com o presidente da Rússia Vladimir Putin. Ontem, o mandatário russo rebateu as advertências dos EUA de que o seu país pode invadir a Ucrânia em poucos dias. Os comentários foram as indicações mais fortes até agora de que o Kremlin continuará as negociações para evitar um confronto em uma crise que levantou temores de guerra na Europa.

No domingo, as autoridades dos EUA alertaram que uma invasão russa da Ucrânia pode ser iminente, embora Moscou tenha considerado isso uma “histeria”. O Ocidente ameaçou a Rússia com sanções econômicas caso opte por um ataque.

🧐 Menos matéria-prima, mais inflação

Uma deterioração na Ucrânia poderia suscitar preocupações sobre as pressões de preços se o fornecimento de energia russa for interrompido - a Rússia é a principal provedora de gás do continente. Os preços mais altos da energia já impulsionaram a inflação em toda a Europa, provocando uma crise de custo de vida que tem levado vários governos a intervir para ajudar a amortecer o golpe do aumento das contas de energia para os consumidores.

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Além disso, a Rússia é um grande produtor de metais como o alumínio e o níquel - representa cerca de 40% do fornecimento do paládio, utilizado em conversores catalíticos. A Rússia e a Ucrânia também são responsáveis por quase um terço das exportações de trigo e cevada.

🕵️ À caça de pistas

As suposições sobre política monetária também jogam fumaça no ar. Amanhã o Federal Reserve divulga a ata de sua última reunião, no final de janeiro, quando deixou claro que usará todos os seus recursos para frear a escalada dos preços.

Ontem, o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, voltou a polemizar ao dizer que o banco central dos EUA precisa levar adiante seus planos de aumentar as taxas de juros para garantir sua credibilidade no combate à inflação.

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Bullard repetiu sua opinião de que o Fed deve aumentar as taxas de juros em 100 pontos-base até 1º de julho e começar a encolher seu balanço patrimonial no segundo trimestre. Na prática, isso significaria menos liquidez ao mercado, já que a autoridade monetária deixa de rolar os títulos em vencimento.

📊 A macro do dia

O Índice de Preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) é o indicador mais esperado do dia pelos investidores. Darão uma mostra de como a escassez de matéria-prima e os altos custos de energia estão afetando a produção nos Estados Unidos. Além disso, esta manhã foi anunciado que o emprego na zona do euro ultrapassou o nível pré-pandemia, ignorando o aumento das infecções por Covid-19 para destacar a crescente resiliência da economia às interrupções do vírus.

O número de pessoas empregadas aumentou 2,1% em relação ao ano anterior no último trimestre de 2021, atingindo 161,8 milhões, mostraram dados divulgados nesta terça-feira (15). Este é o terceiro aumento consecutivo desde que o bloco monetário de 19 países emergiu de uma recessão dupla. A taxa de desemprego da região atingiu um recorde de baixa em dezembro, informou o Eurostat.

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Um panorama dos mercadosdfd

🟢 As bolsas ontem: Dow (-0,49%), S&P 500 (-0,38%), Nasdaq (0,00%), Stoxx 600 (-1,83%), Ibovespa (+0,29%)

As bolsas de valores dos EUA caíram novamente em meio à escalada das notícias sobre o conflito Ucrânia-Rússia. Ontem, o Secretário de Estado norte-americano Anthony Blinken anunciou que seu governo irá transferir o restante de seu pessoal da embaixada para Lviv, uma cidade próxima à fronteira com a Polônia. Blinken disse que a decisão se seguiu “à dramática aceleração do acúmulo de forças russas”.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

EUA: IPP (Jan), Índice Empire State de Atividade Industrial (Fev)

Europa: Zona do Euro (Taxa de Desemprego/Dez; segunda estimativa do PIB/4Tri21; Balança Comercial); Alemanha (Pesquisa de percepção econômica ZEW(Fev); Reino Unido (Taxa de Desemprego/Jan); Espanha (IPC/Jan); O chanceler alemão Olaf Scholz viaja hoje para a Rússia

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Japão: Produção Industrial e Utilização da Capacidade Instalada (Dez)

Bancos Centrais: Pronunciamento de François Villeroy (BCE)

Balanços do dia: Airbnb, Glencore, Randstad

Na América Latina: Brasil (IGP-10/Fev); Colômbia (PIB, Índice de Atividade Econômica/Dez); Argentina (IPC/Jan); Peru (Índice de Atividade Econômica/Dez)

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📌 E para o resto da semana:

• Inventários de petróleo bruto EIA (amanhã)

• Ata da reunião de política monetária do Fed (amanhã)

• Inflação ao consumidor e ao produtor da China (amanhã)

• Grupo de 20 ministros das finanças e governadores de bancos centrais se reúnem na Indonésia (quinta-feira)

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• Discursos da presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, e do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard (quinta-feira)

• Boletim econômico do Banco Central Europeu (quinta-feira)

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• Fórum de Política Monetária dos EUA: palestrantes incluindo funcionários do Fed Charles Evans, Christopher Waller e Lael Brainard (sexta-feira)

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-- Com informações de Bloomberg News

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.