Brasil terá a menor safra de soja dos últimos dois anos

Entenda o que fez a Conab sair de um cenário de safra recorde em dezembro para uma visão muito mais pessimista dois meses depois

Em dois meses, produção de soja do Brasil saiu de uma expectativa de produção recorde para a pior safra dos últimos dois anos
10 de Fevereiro, 2022 | 12:17 PM

Bloomberg Línea — Foram necessários apenas dois meses para que o Brasil saísse de uma safra recorde de soja para a pior colheita dos últimos dois anos. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que em dezembro do ano passado estimou que a produção nacional seria de 142,8 milhões de toneladas neste ano, anunciou hoje uma redução de 15 milhões de toneladas em sua estimativa.

No mês passado, a estatal já havia cortado 2,3 milhões de toneladas. Em dois meses, o Brasil perdeu mais de 17 milhões de toneladas de soja, o equivalente à produção dos Estados de Goiás e Santa Catarina. Vale lembrar que na safra passada Goiás foi o quarto maior produtor de soja do Brasil.

Pelos números apresentados hoje, o Brasil deve colher 125,4 milhões de toneladas de soja. O volume representa uma queda de 10,7% em relação à estimativa de janeiro e de 8,6% em comparação à produção do ano passado.

E o motivo para tamanha redução é a seca. “O desempenho da atual safra sofre impacto da forte estiagem, verificada nos estados da Região Sul do país e no centro-sul de Mato Grosso do Sul, que justifica as perdas expressivas nas produtividades estimadas, sobretudo nas lavouras de soja e milho”, explica o presidente da Conab, Guilherme Ribeiro. Se os níveis de produtividade atuais se confirmarem, as lavouras de soja do Brasil terão os piores rendimentos dos últimos sete anos. Segundo Ribeiro, mesmo com a melhora das chuvas em relação a dezembro, os volumes não foram suficientes para atingir a média de todo o Sul do país.

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A mudança da Conab de um cenário otimista para um pessimista em tão pouco tempo tem uma explicação. Neste ano, o plantio da soja ocorreu dentro da janela correta, a partir do fim de setembro do ano passado, e com condições climáticas ideais, o que acabou gerando expectativas positivas de produção. Dois meses depois do início do plantio, o cenário mudou. “A influência do fenômeno La Niña interferiu fortemente nas precipitações registradas. Praticamente toda a Região Sul e parte do Mato Grosso do Sul sofreram restrição hídrica severa em novembro e dezembro, além de altas temperaturas, que provocaram drástica queda de produtividade nas áreas”, disse o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sergio De Zen.

Uma expectativa de corte na produção já era esperado pelo mercado. Ontem, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reportou um corte na expectativa de produção de soja não apenas do Brasil, mas de toda a América do Sul. A região é responsável por produzir metade de toda a soja colhida no mundo e a mudança no cenário mexeu com os preços.

Além disso, desde a semana passada, as consultorias privadas já começaram a atualizar suas estimativas, em resposta ao sentimento de perdas ainda maiores que o esperado. O resultado desse cenário de pessimismo foi sentido nos preços. As cotações da soja em Chicago já vinham operando nos últimos dias em seus patamares recordes. Hoje pela manhã, antes da divulgação dos dados da Conab, os contratos com vencimento em março haviam superado a barreira dos US$ 16 por bushel (US$ 35,27 por saca) e com o anúncio do corte a alta se acentuou ainda mais.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.