Petrobras: Compromisso de combustível barato de Lula ameaça dividendos

Ações atingiram mínimas após ex-presidente dizer que a empresa não deveria vender combustível atrelado a preços internacionais

Investidores discutem política de dividendos da empresa após eleição
Por Vinicius Andrade e Peter Millard
09 de Fevereiro, 2022 | 01:40 PM

Bloomberg — Nos últimos quatro anos, a estatal brasileira de petróleo Petrobras (PETR4) passou do posto de produtora de petróleo mais endividada do mundo ao daquela que derrama lucros sobre os investidores. Uma controvérsia sobre os preços dos combustíveis na campanha eleitoral brasileira está sinalizando que os bons tempos podem não durar.

O aumento dos preços nas bombas está irritando os eleitores. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é o favorito para ser eleito o próximo líder do Brasil em outubro, está propondo que a empresa ofereça combustível a preços abaixo do mercado que antes empobreciam a gigante do petróleo. Foi o que aconteceu entre 2011 e 2015, quando o Partido dos Trabalhadores de Lula estava no poder.

Um retorno a essas políticas pode significar gasolina barata para os consumidores brasileiros, mas também uma interrupção nos dividendos robustos que a Petrobras vem pagando. As ações atingiram as mínimas da sessão no início deste mês, depois que Lula disse que a empresa não deveria vender combustível atrelado a preços internacionais mais altos para enriquecer os investidores.

“Há muito valor a ser extraído nos próximos 12 meses e temos exposição à Petrobras, mas protegemos nossa posição comprada na ação para podermos defender qualquer possível queda”, disse André Caldas, gestor da Clave Capital. “Afinal, é um ano eleitoral.”

PUBLICIDADE

Valuations baixos

Desde que o Partido dos Trabalhadores perdeu o poder em 2016, duas administrações consideradas pró-business transformaram a Petrobras em uma empresa mais enxuta e lucrativa. Sob o comando de um diretor-presidente nomeado por Jair Bolsonaro, o titular socialmente conservador que tem seguido Lula consistentemente nas pesquisas, a empresa está vendendo combustível a preços internacionais – e o petróleo está subindo. Também cortou pessoal e reduziu o tamanho de divisões menos lucrativas, como refino e biocombustíveis.

Os investidores acorreram à empresa, atraídos pela promessa de pagamentos maciços de dividendos. As ações subiram 11% este ano.

Há razões para manter as ações, apesar das preocupações do ano eleitoral. A relação preço/lucro da Petrobras é apenas uma fração da dos concorrentes dos EUA e da Europa, e menor do que suas contrapartes estatais russas e chinesas. Também está bem posicionada para aproveitar os preços mais altos do petróleo porque continuou a desenvolver campos gigantes em águas profundas durante a pandemia.

Ainda assim, não é apenas a política de preços dos combustíveis que é uma preocupação no governo Lula. Ele também pode forçar a Petrobras a construir novas refinarias que não fazem sentido econômico, disse Daniel Sensel, analista de investimentos da Emso Asset Management em Nova York. Guilherme Mello, assessor econômico de Lula, disse à Bloomberg em entrevista que, se a Petrobras tivesse mais capacidade de refino, não precisaria depender de importações caras de combustível que estão alimentando a inflação.

“Parece mais provável que essa forma de gestão vá mudar”, disse Sensel. A Petrobras não “seria tão independente”.

Comprar rating

PUBLICIDADE

O Goldman Sachs (GS) está mantendo sua classificação de ‘compra’ na Petrobras, apesar da conversa de Lula sobre o preço do combustível. Mesmo que a empresa aumente os investimentos em refino e venda combustível abaixo da paridade internacional para dar alívio aos consumidores, na pior das hipóteses, isso apagaria o fluxo de caixa livre da empresa, em vez de torná-lo negativo como aconteceu há uma década, disse o banco em relatório de 2 de fevereiro. O conselho da Petrobras também teria que mudar o estatuto destinado a impedir que o governo estabeleça os preços dos combustíveis, disse o banco.

Embora Bolsonaro também tenha criticado fortemente a política de preços da Petrobras, ele parou de intervir na estatal. O CEO Joaquim Silva e Luna se comprometeu a continuar acompanhando as taxas internacionais.

“É difícil prever como será a política de combustíveis da Petrobras a partir de 2023, com Lula sinalizando que faria algumas mudanças”, disse William Leite, gestor e sócio-fundador da Helius Capital. “Mas até lá, terá pago tantos dividendos, devolvendo tanto capital aos detentores, que isso é suficiente para compensar todos esses riscos”, disse Leite, que tem ações da Petrobras.

(atualizado às 18h05 com correção dos cargos de gestores citados)

Veja mais em bloomberg.com

Leia também