Saraiva revê plano de recuperação judicial com dívida de R$ 271,5 mi

Assembleia de credores vai tentar votar aditivo ao plano de recuperação a ser apresentado na próxima quarta

Loja da Saraiva em shopping: últimas unidades foram fechadas enquanto a rede de livrarias passa pelo processo de recuperação judicial
06 de Fevereiro, 2022 | 09:49 PM
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São Paulo — Em recuperação judicial desde 2018, a Saraiva (SLED3), que foi a maior rede de livrarias do Brasil, ainda tem o futuro incerto, sem um acordo definitivo com seus credores. A companhia fechou 2021 com uma dívida de R$ 271,5 milhões, patrimônio negativo de R$ 560,7 milhões e prejuízo de R$ 15,7 milhões, segundo dados divulgados na sexta-feira (4).

O Banco do Brasil e o Itaú-Unibanco são os principais bancos credores da companhia. Na próxima quarta-feira (9), um versão mais atualizada do plano de recuperação de judicial deve ser apresentado, a fim de ser levado à votação em assembleia de credores marcada para o dia 16 deste mês, a partir das 14h, segundo a RV3 Consultores, administradora judicial do caso.

Enquanto não é votado um aditivo ao plano de recuperação judicial sobre a forma de pagamento aos credores, os papéis da Saraiva negociados na Bolsa caem nos filtros que detectam possíveis movimentos especulativos. Na sexta, a B3 questionou a Saraiva sobre oscilações atípicas entre 20 de janeiro e 3 de fevereiro. Na quinta (3), a ação ON chegou a disparar 49,06%, com volume de negócios bem acima da média. Já a ação PN (SLED4) saltou 57,34% no mesmo dia.

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A empresa respondeu que desconhece motivo para justificar as oscilações bruscas dos papéis, citando apenas que recebeu informação de uma acionista sobre a conclusão de negociação relevante com as ações ON, uma operação informada também no dia 4. No comunicado sobre a participação acionária relevante, a Saraiva disse que a acionista Alyssa Nunes Bruscato Costa passou a deter 8,04% do capital da empresa, a título de “investimento pessoal e financeiro, sem objetivos pré-estabelecidos”.

Confira a última assembleia geral de credores da Saraiva, realizada no último dia 26 de janeiro, que não conseguiu votar o aditivo ao plano de recuperação judicial:

A Saraiva não conseguiu ainda vender seus ativos para pagar parte dos seus credores. Houve a proposta de pagá-los com ações, mas sofreu resistência com os credores. A companhia disse que ainda negociava a nova versão do plano com o Banco do Brasil, um credor relevante, por isso solicitou a suspensão da assembleia de credores no último dia 26 de janeiro, argumentando que o BB não estava apto ainda a votar.

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A situação financeira da empresa se deteriorou no ano passado. Em dezembro, houve uma queda de 64% nas vendas, e a Saraiva atribuiu o resultado à redução nas vendas no e-commerce e nas lojas físicas, divulgou a rede na sexta. A empresa encerrou dezembro com margem bruta de 44%, redução de 14 pontos percentuais em relação a dezembro de 2020.

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A Saraiva teve de demitir para reduzir suas despesas. No fim de 2021, contava com 449 colaboradores ativos. Em setembro, cortou oito postos de trabalho. Considerando só as dívidas com bancos e demais intituições de crédito, excluindo o passivo representado pelo arrendamento mercantil de suas lojas, o passivo oneroso do grupo soma R$ 178,3 milhões.

Desse total, a dívida com o Banco do Brasil representa 88%, a do Itaú-Unibanco, aproximadamente 8%, e aquela com fornecedores (SAP e Oracle), cerca de 4%. As dívidas financeiras (fornecedores e bancos, excluindo as despesas com aluguel de lojas) com vencimento nos próximos 12 meses totalizam R$ 31,8 milhões, ou seja, 19% do total de R$ 178,3 milhões, informou a empresa.

O juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho toca o processo de recuperação judicial de nº 1119642-14.2018.8.26.0100, na 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial da Comarca da Capital do Estado de São Paulo, envolvendo Saraiva Livreiros e Editores S/A e Saraiva e Siciliano.

Concorrência com digital

Ao entrar em recuperação judicial em 2018, a Saraiva enfrentava um desafiante contexto de mudanças estruturais no mercado editorial brasileiro, com a popularização do hábito de comprar livros pela internet, em que a competição com players estrangeiros, como os sites da Amazon e da Fnac, ameaçava a sobrevivência de quem não conseguia oferecer preços menores, principalmente em momentos de recessão econômica no Brasil.

Para piorar, as unidades de venda de CDs, DVDs e games dessas livrarias passaram a ser desafiadas pelo movimento de migração do consumidor para aplicativos com Spotify, Deezer e SoundCloud. Nos anos 2000, o setor de livrarias no Brasil demorou a investir agressivamente em e-commerce devido à desconfiança inicial dos brasileiros ao comércio eletrônico por questões de segurança cibernética. Redes tradicionais no país como Livraria Cultura, Leitura, Nobel e Livraria da Travessa, ainda possuem lojas físicas.

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.