BC leva Selic ao maior nível em cinco anos e sinaliza redução no aperto

Esta é a primeira vez em um ano e meio que a taxa básica de juros fica acima da inflação acumulada em 12 meses

BC protagoniza um dos ciclos de aperto monetário mais agressivos da história
02 de Fevereiro, 2022 | 06:42 PM

Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (2) elevar a taxa básica de juros pela oitava vez consecutiva. O Copom determinou uma alta de 1,5 ponto percentual na Selic, para 10,75%, o maior nível desde maio de 2017, em linha com as expectativas do mercado, mas sinalizou uma redução no ritmo do aperto monetário.

“Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, disse o BC em nota.

No comunicado, o BC admite que a inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. “Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como principalmente nos itens associados à inflação subjacente; As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, disse.

Esta é a primeira vez em um ano e meio que a Selic fica acima da inflação acumulada em 12 meses. A elevação em 1,5 ponto percentual é a terceira seguida do Comitê, em um dos ciclos de aperto monetário mais agressivos do mundo.

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O Copom também discorreu sobre a incerteza em relação ao arcabouço fiscal, que “segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação”. “Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência.”

Cenário

Entre 37 economistas pesquisados pela Bloomberg, 36 projetavam uma alta de 1,5 ponto na Selic e apenas um esperava elevação menor, de 1,25 ponto. A curva de juros também indicava uma maior probabilidade de alta de 1,5 ponto no 1º Copom do ano, com desaceleração para 1 ponto em março e 0,5 ponto em maio.

A pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira elevou projeções para o IPCA neste e no próximo ano. Segundo as projeções, o IPCA deve fechar 2022 em 5,38% - há uma semana, a projeção era de 5,15%. Para 2023, a expectativa subiu de 3,4% para 3,5%.

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O ajuste na política monetária brasileira ocorre enquanto o Federal Reserve se programa para fazer em março o seu primeiro aumento de juros em três anos, também para controlar as expectativas de inflação, movimento que vem trazendo forte tensão aos mercados internacionais.

-- Esta notícia está sendo atualizada

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.

Toni Sciarretta

News director da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista com mais de 20 anos de experiência na cobertura diária de finanças, mercados e empresas abertas. Trabalhou no Valor Econômico e na Folha de S.Paulo. Foi bolsista do programa de jornalismo da Universidade de Michigan.