Brasil tem aumento de casos de ‘flurona’

Não se trata de uma nova cepa do coronavírus, mas caso de influenza concomitantemente à variante ômicron

Variante ômicron deve se tornar a dominante em breve
Por Martha Viotti Beck, Caroline Aragaki e Rachel Gamarski
04 de Janeiro, 2022 | 07:42 PM

Bloomberg — O sistema hospitalar brasileiro pode estar em risco devido a um aumento repentino nos casos de gripe em todo o país ao mesmo tempo em que a variante ômicron passa pelas fronteiras.

Algumas pessoas foram acometidas por infecções consecutivas, ou até mesmo contraíram as duas doenças ao mesmo tempo, no que se denomina “flurona”. Até agora, isso aconteceu em pelo menos três estados, mas os especialistas dizem que o número tende a aumentar à medida que a ômicron, a variante mais contagiosa do coronavírus, se torna a dominante.

“Não é surpresa, considerando que existem dois vírus altamente infecciosos circulando no Brasil em um momento em que as pessoas estão sendo menos cuidadosas com o uso de máscaras e o distanciamento social”, disse Jean Gorinchteyn, secretário de Saúde do Estado de São Paulo, um dos três estados que relataram casos de infecções simultâneas.

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Cerca de 60% dos casos de covid analisados em São Paulo são pela variante ômicron, observou , acrescentando que a cepa provavelmente se tornará dominante em duas semanas.

O Brasil passou por um hiato relativo em casos de Covid, embora os dados tenham sido afetados pelo apagão nos sistemas do Ministério da Saúde após ataque hacker no mês passado. Os casos confirmados raramente ultrapassaram a marca de 10 mil por dia, uma fração dos mais de 100 mil casos diários no auge da pandemia, enquanto as mortes permaneceram em sua maioria abaixo de 150 por dia. Os números devem crescer à medida que a ômicron se espalha pelo país após duas semanas de comemorações de fim de ano marcadas por reuniões familiares e aglomerações em diferentes destinos turísticos.

Há muitas evidências de que os casos de gripe estão aumentando. Em São Paulo, os casos de doenças respiratórias ultrapassaram 238 mil em dezembro – mais que o dobro do mês anterior. Menos da metade deles eram suspeitos de serem Covid. Na Diagnósticos da América (Dasa), uma dos maiores provedoras de diagnósticos do país, a demanda por testes de gripe aumentou em dezembro, e mais de 22% deles foram positivos, em comparação com 9% no mês anterior.

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Um sistema nacional de monitoramento prevê que os casos de gripe devem aumentar em 12 dos 27 estados brasileiros, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, três dos mais populosos do país.

O impacto de infecções consecutivas ou simultâneas sobre a saúde ainda é desconhecido. O médico Claudio Maierovitch, ex-diretor da agência nacional de saúde, indicou que os diferentes vírus se multiplicam de forma independente, e ser infectado por duas cepas diferentes de Covid ao mesmo tempo é provavelmente um cenário mais preocupante. Ainda assim, Estevão Urbano, diretor da Sociedade Brasileira de Doenças Infecciosas, enxerga o risco potencial de que alguém que tem gripe e Covid possa exigir mais atenção.

“Para o sistema hospitalar, o simples fato de haver um aumento da gripe e de Covid já é um risco”, disse Urbano. “A maioria dos casos não exigirá internação, mas se o volume de infecções for muito alto, uma pequena porcentagem já é suficiente para sobrecarregar os hospitais”.

No entanto, os altos níveis de vacinação no Brasil provavelmente reduzirão a necessidade da hospitalização de longo prazo que sobrecarregou o sistema de saúde nas primeiras ondas do vírus, disse Gorinchteyn. Até agora, cerca de 74% da população já recebeu duas doses da vacina contra Covid, segundo dados compilados pela Bloomberg, e quase 13% receberam a dose de reforço.

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