Inflação pode corroer lucros do S&P 500, alertam estrategistas

Após alta constante desde o ano passado, as estimativas de 12 meses para as margens operacionais do S&P 500 estagnaram desde meados de outubro

“Os consumidores começam a ficar cansados dos aumentos de preços e estão reagindo"
Por Katie Greifeld
29 de Dezembro, 2021 | 02:49 PM

Bloomberg — A máquina de lucros do setor corporativo dos Estados Unidos tem sido a base de praticamente todos os argumentos para o otimismo em relação ao mercado acionário neste ano. Ajudou as bolsas a absorverem o impacto da sinalização de aperto monetário do Federal Reserve e cada nova variante do coronavírus. Mas a persistente pressão inflacionária pode levar a uma reavaliação das previsões de lucros cada vez maiores.

Essa é a principal teoria por trás da visão baixista para o mercado acionário americano, destacando que, após uma alta constante desde o ano passado, as estimativas de 12 meses para as margens operacionais do S&P 500 estagnaram desde meados de outubro. Essa estagnação coincidiu com o início de uma temporada de lucros em que empresas soaram o alarme sobre os custos crescentes dos insumos e obstáculos relacionados à mão de obra.

Veja mais: Loucuras de memes e 68 recordes: Superlativos dominaram ralis do S&P

Embora um número suficiente de empresas tenha conseguido repassar esses custos aos consumidores, o que aumentou as margens de lucro do índice para máximas, o recente nivelamento nas estimativas pode dificultar repetir o desempenho. Embora a demanda seja sólida, a inflação persistentemente alta irá corroê-la, de acordo com Gina Martin Adams, da Bloomberg Intelligence. Não está claro se os consumidores continuarão dispostos a pagar preços mais altos, afirmou.

PUBLICIDADE

“Os consumidores começam a ficar cansados dos aumentos de preços e estão reagindo. Estamos vendo isso se manifestar nas margens”, disse Martin Adams, estrategista-chefe de renda variável da BI para EUA.

Sinais de que o consumidor americano começa a sentir a inflação mais forte em décadas apareceram na semana passada. Os dados mostraram que as compras de bens e serviços, ajustadas para o aumento dos preços, mostraram pouca variação em novembro. Essa estagnação dos gastos coincidiu com uma queda de 1,9% dos salários reais no mês.

Por enquanto, na melhor das hipóteses, o impacto da inflação no mercado acionário tem sido ambíguo, em um ano em que o S&P 500 deve fechar com ganho de 27%. Apesar dos gargalos das cadeias de suprimentos e da escassez de mão de obra, todos os setores registraram ganhos de dois dígitos em 2021, ajudados pelo fato de que as margens de lucro líquido subiram na maioria dos principais setores no último trimestre.

PUBLICIDADE

Veja mais: Mão de obra ainda será desafio para setor logístico em 2022

Analistas de Wall Street não se incomodam com a perspectiva da pressão dos preços e projetam aumento dos lucros para empresas do S&P 500 de quase 9% em 2022, para US$ 220,40 por ação. Ainda assim, mesmo com essa expansão, o índice é negociado a uma relação preço/lucro futura de quase 22, bem no topo da faixa histórica e em nível que sugere risco caso os resultados não atinjam a marca.

Veja mais em bloomberg.com