BC ‘hawk’ sobe o tom e fala em perseverar até ancoragem

Postura deve pressionar juros futuros mais curtos, já que reduz a chance de uma desaceleração no ritmo de aperto monetário a partir do próximo ano

Comunicado repetiu o alerta de que “questionamentos em relação ao arcabouço fiscal” mantêm assimetria altista no balanço de riscos
Por Caroline Aragaki - Josue Leonel e Marisa Castellani
08 de Dezembro, 2021 | 08:40 PM

Bloomberg — O Copom elevou o tom ao sinalizar nova alta de 1,5 ponto percentual da Selic em fevereiro e afirmar que irá “perseverar” na estratégia até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas.

Postura vista como mais hawkish deve pressionar os juros futuros mais curtos, já que a comunicação reduz a chance de uma desaceleração no ritmo de aperto monetário a partir do próximo ano, como esperava parte do mercado.

Nesta quarta-feira, o Copom elevou a Selic em 1,5 pp, para 9,25%, como esperado pelos economistas. Para o BC, diante do aumento da projeção de inflação, que subiu para 4,7% no cenário básico de 2022, e do “risco de desancoragem” para prazos mais longos, “é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista”.

Veja mais: Copom mantém ritmo do aperto e leva Selic a 9,25%

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O comunicado do Copom também repetiu o alerta de que “questionamentos em relação ao arcabouço fiscal” mantêm assimetria altista no balanço de riscos. O BC reconheceu ainda que a evolução da atividade foi “moderadamente abaixo da esperada”, enquanto a inflação ao consumidor continua elevada.

Decisão deve ser positiva para o câmbio, que cedeu nesta quarta-feira (8), mas pesar sobre a bolsa, que sobe há cinco dias, à medida que a Selic deve romper os dois dígitos nos próximos meses e estimular a migração para a renda fixa.

Veja o que dizem os analistas:

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

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  • "Uma decisão prudente e esperada"
  • "Copom está pronto para aprofundar a Selic em território contracionista e se manter hawkish até que a tendência de desinflação se consolide e as expectativas de inflação se ancorem"
  • "Não é fácil, mas é factível"
  • "Infelizmente, o Copom não pode encontrar muito apoio da política fiscal"

Gustavo Pessoa, sócio e gestor da Legacy Capital

  • "Copom se mostrou preocupado não só com convergência da inflação para as metas, mas também com a ancoragem de expectativas"
  • "Se mostrou disposto a entrar no território restritivo significativamente"
  • "Projeções de inflação do BC refletem maior realismo frente à piora fiscal e dinâmica perversa de inflação"
  • "Indicação de Selic final parece ser coerente com o que está precificado na curva, algo próximo de 12%"

Gustavo Brotto, CIO da Greenbay Investimentos

  • "O destaque do comunicado foi que o comitê irá perseverar em sua estratégia, mostrando uma postura firme ao manter com igual relevância a convergência da inflação para o ano-calendário de 2022 e 2023, apesar de já estarmos no final do ano"
  • "Curva de juros deve abrir taxa amanhã, apesar de o mercado ter precificado quase que integralmente o aumento de 150bps, com sinalização de manutenção desta magnitude"
  • "O tom do comunicado segue favorável para a apreciação do real"

Gustavo Ribeiro, economista-chefe da Asa Investments

  • Projeções surpreenderam e vieram acima do esperado
  • "Comunicação hawkish, com o BC sinalizando preocupação com o processo de desancoragem em curso e sinalizando que irá reagir para controlar as expectativas"
  • Na parte "mais relevante", "sinalizou perseverar na estratégia atual até que não só se consolide um processo de desinflação, mas também de ancoragem de expectativas

Emily Weis, macroestrategista da State Street Corporation

  • "Duas coisas me chamam a atenção. A revisão da inflação de 2021 de 9,5% para 10,2% e a mudança para adicionar que vão avançar no processo de aperto monetário significativamente no território contracionista"
  • "Se inclina para o hawkish"

Rodrigo Cruz, sócio e gestor de renda fixa e moedas da Meraki

  • Comunicado hawk, sinalizando +1,5 pp para a próxima reunião também e que vai perseverar no ajuste não somente enquanto se consolida o processo de desinflação, mas também a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas

João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos

  • "Comitê não surpreendeu, mas foi mais duro com a inflação e com a desancoragem das expectativas"
  • "Fará o que for necessário para desacelerar a inflação e colocá-la na meta"
  • "Não estabelece limite para a Selic ao final do ciclo"

Carlos Menezes, sócio e gestor da Gauss Capital

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  • "Decisão deve ser lida como mais hawk do que esperado"
  • "O ponto mais hawk é a frase adicionada de que o Copom irá perseverar em sua estratégia"
  • "Isso reduz a possibilidade de uma desaceleração do ritmo até que as expectativas ancorem"
  • "Apesar dos dados fracos se mostrou preocupado principalmente com desancoragem das expectativas"
  • "Decisão deve ser positiva para real, mas negativa para bolsa"

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados

  • "Há sinalização de que BC vai ter que subir Selic com agressividade ainda nas próximas reuniões"
  • Reafirma projeção de Selic final de 11,75%, "mas não dá para descartar de que eventualmente seja mais"

Thais Zara, economista sênior da LCA Consultores

  • "Trouxe um tom um pouco mais hawk. Manteve a expectativa de que a Selic vai avançar em terreno significativamente contracionista com 1,5pp na próxima reunião"
  • "Manteve a avaliação de que a atividade está apenas moderadamente abaixo do esperado e a avaliação de que a inflação continua bastante preocupante"

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital

  • "É muito mais hawkish do que o mercado esperava"
  • Comunicado do Copom deve levar a apreciação do real, reajuste nos juros, com DIs subindo de modo geral, e correção na bolsa com migração da renda variável para a renda fixa
  • "Teremos uma Selic de 2 dígitos já no início do ano, então taxa de juros ao longo de 2022 deve ficar um pouco mais elevada do que o mercado esperava até esse último Copom"

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