Por que modelo de energia por assinatura está crescendo no Brasil?

Energia solar distribuída já representa mais de 4% da matriz energética do país e cresce a passos largos em ano de crise hídrica

Modelo de negócio tem crescido no Brasil e atraído investimentos, apesar de regulação ainda ser ameaça
06 de Dezembro, 2021 | 02:26 PM

Bloomberg Línea — A capacidade de produção de energia solar distribuída deve encerrar 2021 com um crescimento superior a 50% no Brasil. Dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar) mostram que, até outubro, a capacidade nacional estava em 7,3 mil MW, 52,4% superior ao acumulado de todo o ano passado. Sozinho, o modelo de produção já representa cerca de 4% da matriz energética brasileira.

Na prática, o modelo prevê a contratação de créditos de energia gerados pelas fazendas solares. Com base na demanda mensal, os consumidores contratam o volume equivalente, geralmente a preços mais baixos que os pagos às distribuidoras tradicionais.

Na esteira desse crescimento, a Órigo, uma das maiores empresas de geração compartilhada de energia em atuação no Brasil, vai encerrar o ano com 25 fazendas de energia solar em operação e cerca de 25 mil clientes. Em janeiro, eram apenas 13 fazendas em atividade com pouco mais de 7 mil contratos.

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Em 2017 trouxemos o modelo de geração compartilhada para o Brasil, com a construção da primeira fazenda, no município de João Pinheiro (MG), capacidade de 1 MW e uma carteira de 63 clientes. O ano de 2021 foi importante para o crescimento da empresa, que foi alavancada pela crise hídrica”, afirma Tatiana Fischer, diretora de marketing da Órigo.

A empresa captou cerca de R$ 354 milhões neste ano e praticamente dobrou sua capacidade de produção. Os 55 MW de potência existentes em janeiro passarão para 100 MW agora em dezembro. Estimativas do mercado indicam que para gerar 1 MW é necessário um investimento de aproximadamente US$ 1 milhão.

Segundo Tatiana, o aumento da energia elétrica no Brasil neste ano atraiu o interesse dos consumidores, tanto das pessoas físicas quanto de empresas de pequeno e médio porte. A executiva lembra que o modelo de geração compartilhada promove uma redução de 10% a 15% na conta de luz do usuário final. Podemos dizer que desde 2017, quando iniciamos nossas operações no Brasil, já foi gerada uma economia de R$ 40 milhões nas contas de energia elétrica dos nossos clientes. Além disso, deixaram de ser emitidas 15 mil toneladas de CO2 equivalente em comparação às emissões do sistema nacional de energia elétrica”, afirma.

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Apesar de atrativo, apenas consumidores e empresas de Minas Gerais podem se beneficiar do modelo. Todas as fazendas de geração solar estão instaladas em terras mineiras devido às altas tarifas praticadas no Estado, a disponibilidade de terras improdutivas para instalação da estrutura e do potencial de desenvolvimento do mercado. Diante desse quadro, a expectativa da empresa para 2022 é expandir as operações regionalmente, ainda dentro de Minas Gerais.

Outro motivo para a cautela na expansão para outros Estados está na regulamentação do sistema que ainda está em validação. O modelo de geração distribuída prevê que a energia produzida nas fazendas seja colocada nas redes locais de distribuição, como Cemig, Enel e outras, para chegar até o usuário final. Contudo, está em discussão qual taxa deve ser cobrada pela distribuição da energia. “A taxa precisa ser em um valor que permita o desenvolvimento do setor. Isso é o que está sendo discutido nesse momento”, afirma Tatiana.

Impacto social

A Órigo criou neste ano o Projeto Mulheres de Origem com o objetivo de incentivar o trabalho feminino na construção de suas fazendas solares. O primeiro envolvido foi o da usina instalada na região de Papagaios, a 140 quilômetros a noroeste de Belo Horizonte, onde 40% da mão-de-obra utilizada na construção civil foi feminina. “Cerca de 50% dos nossos colaboradores da área corporativa já são mulheres e 45% da equipe de liderança também. Queremos que na construção civil esses percentuais se mantenham ao redor de 50%, em um setor majoritariamente masculino”, diz Tatiana.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.