Mutações da ômicron podem fornecer pistas sobre sua origem

Cientistas têm se apressado para responder questões sobre variante que foi sequenciada pela primeira vez em Botswana e na África do Sul no mês passado

Gene S permite a formação da proteína spike do vírus, a quel possibilita que ele entre nas células humanas
Por Antony Sguazzin
06 de Dezembro, 2021 | 02:38 PM

Bloomberg — O número excepcionalmente grande de mutações da ômicron no gene que ajuda a propagação do coronavírus pode fornecer pistas sobre como ele se desenvolveu, segundo uma análise computacional da variante.

A coexistência de mutações no chamado gene S, que normalmente inibiria a capacidade do vírus de prosperar, sugere que as alterações estão, em vez disso, trabalhando para tornar a variante mais eficaz na propagação, de acordo com uma publicação no blog de pesquisadores liderados pelo professor associado Darren Martin, do Instituto de Doenças Infecciosas e Medicina Molecular da Universidade da Cidade do Cabo.

“Embora individualmente as mutações possam diminuir a aptidão de qualquer genoma em que ocorram, coletivamente elas podem compensar os déficits umas das outras para produzir um genótipo de vírus mais adequado”, escreveram os pesquisadores.

Os cientistas têm se apressado para responder questões sobre a ômicron, que foi sequenciada pela primeira vez em Botswana e na África do Sul no mês passado, incluindo como ela se desenvolveu, quão transmissível é e a gravidade da doença causada pela cepa em comparação com as suas predecessoras, como a delta.

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O gene S permite a formação da proteína spike do vírus, a quel possibilita que ele entre nas células humanas. As mutações mostram que “pode haver cooperação entre diferentes partes do vírus”, disse Martin em uma entrevista.

Segundo os pesquisadores, algumas das hipóteses sobre o seu desenvolvimento incluem:

  • A cepa surgiu em uma área onde a vigilância genômica é baixa ou as pessoas têm pouco acesso aos cuidados de saúde
  • Alternativamente, ela poderia ter se desenvolvido em uma pessoa imunossuprimida, que teria abrigado o vírus por um longo período, permitindo sua mutação
  • A última hipótese é de que o vírus poderia ter voltado para uma espécie animal, sofrido mutação e, em seguida, reinfectado humanos

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A Organização Mundial da Saúde e especialistas em saúde em todo o mundo alertaram repetidamente que a falta de acesso às vacinas na África e a incapacidade de alguns países de aplicá-las poderia levar a mais mutações no coronavírus.

Apenas 7% da população do continente de 1,2 bilhão de pessoas está totalmente vacinada, em comparação com cerca de 69% no Reino Unido. A República Democrática do Congo, uma nação de 100 milhões de pessoas, imunizou apenas 0,1% de sua população e a Eritreia ainda não iniciou a vacinação.

Na África Austral, a alta taxa de infecções por HIV mostra que milhões de pessoas são imunodeprimidas.

“Só seremos capazes de distinguir entre essas hipóteses com mais dados”, disseram os pesquisadores. “Se uma ou mais linhagens SARS-CoV-2 forem descobertas como parentes próximos da ômicron, então isso apoiaria a hipótese de falha de vigilância.”

Mas se outras variantes forem descobertas em infecções humanas de longo prazo ou em outras espécies animais, elas apoiariam as outras hipóteses, segundo eles.

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