Por que a mudança de tom de Powell deixa o mercado encurralado

Investidores não ouviam praticamente nada além de palavras encorajadoras do Fed desde 2018

Powell fala durante audiência no Congresso
Por Lu Wang e Vildana Hajric
01 de Dezembro, 2021 | 10:35 AM

Bloomberg — O apetite de Jerome Powell por uma redução mais rápida do estímulo do Federal Reserve lhe confere um papel que os mercados financeiros não viam desde 2018: “hawk”, ou seja, mais favorável a apertar a política monetária.

As bolsas caíram, as taxas de juros de curto prazo subiram, e indicadores de volatilidade das ações dispararam depois que o presidente do banco central dos EUA alertou que a inflação elevada poderia justificar o fim das compras de ativos antes do planejado. Também sob o impacto da ansiedade em torno do coronavírus, o S&P 500 enfrentou o pior período de turbulência em mais de um ano.

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Para investidores, uma questão urgente é se o depoimento de Powell ao Congresso na terça-feira foi um divisor de águas para as políticas monetárias que ajudaram o S&P 500 a dobrar de nível desde o Natal de 2018. Foi quando ocorreu o último grande giro de Powell: o desmantelamento dos aumentos de juros que fizeram daquele quarto trimestre um dos piores de todos os tempos para as bolsas.

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“Ele não está apenas falando em um tom mais ‘hawkish’, mas também revelando grandes implicações das políticas quase sem levar em conta a reação dos mercados”, disse Max Gokhman, diretor de investimentos da AlphaTrAI. “Toda a previsibilidade que ele tentou cultivar anteriormente em termos de programação da redução e aumento dos juros está em questão.”

O que faltou no roteiro de Powell na terça-feira foi o senso de cautela que tem definido sua mensagem desde que se transformou de “hawk” em “dove”, ao afrouxar a política monetária, no fim de 2018.

Embora ainda não se saiba o quão radical seria o giro da política, a mudança de tom foi inconfundível em mercados que não ouviam praticamente nada além de palavras encorajadoras do Fed desde 2018. Investidores agora se encontram potencialmente à mercê de relatórios econômicos que retratam um quadro cada vez mais sombrio da inflação.

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“Os mercados serão muito reativos aos dados, provavelmente excessivamente reativos”, disse Michael Kantrowitz, chefe de estratégia de portfólio da Cornerstone Macro. “Há muito nevoeiro pelo qual precisaremos passar.”

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Desde o início de seu mandato como presidente do Fed em fevereiro de 2018, Powell se desdobrou para redefinir a forma como o banco central avalia seus mandatos de emprego e inflação, permitindo que os preços se acelerem acima das metas anteriores com o objetivo de atrair mais pessoas para a força de trabalho e em empregos de melhor remuneração. Em praticamente todos os movimentos, os mercados aplaudiram a política de afrouxamento do Fed ampliando o rali dos Treasuries e gerando altos retornos nos mercados acionários.

Agora, Powell sugere que a meta de inflação foi cumprida. Se a recuperação do emprego continuar, o presidente do Fed está efetivamente preparado para dar início a taxas de juros mais altas, de acordo com Neil Dutta, economista-chefe para EUA na Renaissance Macro.

Powell “está abrindo a porta para um aumento antecipado dos juros ao sinalizar um fim mais rápido para a redução” do estímulo, disse Dutta. “O risco para os mercados seria se o Fed começasse a apertar muito antes de as metas de emprego serem alcançadas. Isso não está acontecendo. Do atual momento até a redução ser concluída, o emprego continuará se acelerando.”

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