Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — À medida que os investimentos em criptos crescem mundo afora, surge mais uma funcionalidade da moeda digital: o pagamento de salários. Apesar de o mercado desse ativo ainda não ser regulamentado em toda a América Latina, a ideia de usar as criptomoedas na remuneração de serviços ganha espaço.
Em novembro, por exemplo, o deputado brasileiro Luizão Goulart (Republicanos/PR) apresentou, na Câmara dos Deputados, o projeto de lei nº 3908/2021 para que trabalhadores da iniciativa privada e da pública possam optar por receber parte de seus vencimentos em criptomoedas. Até uma decisão a respeito, na prática isso já é possível.
Proposta semelhante foi apresentada, em julho, pelo deputado federal argentino José Luis Ramón ao Congresso local, defendendo o pagamento de parte ou integral dos salários em Bitcoin ou outra criptomoeda.
Para Ramón, o projeto de lei permitiria ao trabalhador manter seu poder aquisitivo em um momento em que o país luta para sair da crise econômica, com inflação em alta e o peso depreciado diante do dólar.
Cassio Gusson é um jornalista brasileiro que escreve sobre o mercado de moedas digitais nos últimos quatro anos. Seu primeiro contato com as criptomoedas foi em 2017, por acaso: ao comprar um notebook usado acabou levando para casa também vários adesivos sobre Bitcoin que estavam colados no computador adquirido. A curiosidade sobre o que seria aquilo o levou até o mundo cripto.
O interesse de Gusson começou por escrever sobre o assunto, mas não demorou muito para que ele enxergasse as vantagens em ter seu salário pago naquela moeda. “Desde que iniciei falar sobre o mercado de criptomoedas, ainda em 2017, decidi receber meu pagamento por meio desse ativo digital por acreditar nele e minha experiência tem sido fantástica”, conta.
Gusson fala que a “liquidez do mercado cripto é incrível”, sendo uma das razões pelas quais fez aquela opção. Diz que a prova dessa facilidade foi comprovada em recente viagem à Rússia, quando usou um cartão de débito recarregado com criptos para fazer todos os pagamentos.
“Isso me permitiu economizar muito já que não tive de trocar os reais por dólares e depois ainda trocar esses dólares por rublos russos”, diz.
Carlos, nome fictício de um designer argentino que preferiu não ser identificado, é outro adepto das criptomoedas em sua folha de pagamento. Embora não trabalhe diretamente com essas moedas, ele conta que há anos prefere receber nesse ativo por prestar serviços para clientes internacionais, reduzindo assim as taxas envolvidas na hora de trocar por pesos.
“Em 2021, passei a receber tudo em criptomoedas. Pagamentos internacionais costumam ser caros e demorados e as criptos resolvem esse problema. E eu ainda consigo agir dentro da lei, declarando meus impostos e obtendo os pagamentos de forma correta”, diz o designer.
Canais de recebimento
Outra vantagem apontada por quem recebe em ativos digitais está na variedade de opções para o recebimento. Gusson fala que tem seu salário depositado diretamente em uma exchange de criptomoedas e utiliza um cartão carregado com o saldo de sua conta na plataforma para pagar as contas.
“O único procedimento que eu faço é converter parte do valor para alguma stablecoins (tokens lastreados em moeda fiduciária, como dólar, euro, imóveis ou ouro, entre outras), assim escapo da volatilidade.” Para o jornalista, separar os bancos de seu salário é um grande atrativo.
Já o designer argentino utiliza a Bitwage, serviço que intermedia as relações de trabalho e viabiliza pagamentos em criptomoedas. Carlos conta que utilizar esse serviço permite receber sempre em cripto, ainda que o cliente pague em moeda fiduciária, além de ajudar nas transações internacionais.
Facilidade em investir
A remuneração em criptomoedas tem um atrativo a mais: receber o valor em cripto sem pagar as taxas de corretagem para negociar o ativo. Cassio Gusson e Carlos apostam nessa utilidade.
Gusson brinca que o salário em criptomoedas “atrapalha” seus investimentos. “Fico com dó de gastar o dinheiro esperando minhas criptos valorizarem, então sempre dá uma dor no peito quando uso para pagar as contas do dia a dia.”
Já Carlos diz que recebe 30% da renda em Bitcoin, enquanto os 70% restantes são pagos com a stablecoin DAI, lastreada no dólar. “Consigo manejar os valores ao longo do mês, vendendo um pouco do Bitcoin quando ele sobe e usando DAI para recomprar nas quedas. Facilita bastante meus investimentos.”