CTNBio libera venda de farinha de trigo transgênica no Brasil

Moinhos brasileiros vão convocar reunião para tentar reverter decisão e analisam entrar na Justiça para suspender a implementação da decisão

CTNBio libera importação de farinha de trigo feita a partir de trigo geneticamente modificado plantado na Argentina. Moinhos brasileiros querem reverter a decisão
11 de Novembro, 2021 | 03:23 PM

Bloomberg Línea — A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, liberou hoje a importação de farinha de trigo argentina, produzida com uma variedade geneticamente modificada do cereal. O tema vinha sendo debatido e colocado em pauta nas reuniões da comissão desde junho e foi finalmente aprovado nesta quinta (11).

Com isso, fica solucionado um problema que havia sido criado. Estima-se que os produtores argentinos cultivaram irregularmente entre 55 mil e 60 mil hectares com a variedade transgênica, que deve gerar cerca de 200 mil toneladas do cereal. A irregularidade ocorreu na venda das sementes, que só poderia ser feita após a liberação no Brasil, conforme uma determinação da Subsecretaria de Mercados Agropecuários da Argentina, fato que ocorreu apenas hoje. Com isso, a produção irregular pode ser transformada em farinha e ter o mercado liberado no Brasil.

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“Apesar da forte rejeição do mercado internacional nos últimos 20 anos, lamentavelmente o Brasil passará a ser conhecido como o primeiro país a aprovar a utilização de trigo transgênico no mundo”, disse a Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo) em nota. A entidade ainda informa que não pode ser ignorado o eventual impacto sobre as exportações brasileiras de produtos derivados como massas, biscoitos e pães.

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O parecer favorável da CTNBio indica que, tecnicamente, o produto não oferece riscos para o consumo animal ou humano nem para o meio ambiente. Contudo, a Abitrigo vai cumprir uma decisão antecipada pela Bloomberg Línea. A entidade irá solicitar à Casa Civil a convocação imediata do Comitê Nacional de Biossegurança (CNBS) para tentar reverter a decisão. Ao levar o debate para o CNBS, os moinhos de trigo reconhecem que as barreiras ao trigo transgênico não estão no aspecto técnico, mas sim, no campo socioeconômico.

Entre as atribuições do CNBS está analisar a conveniência e oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial de OGM e seus derivados e dar a palavra final sobre os processos relativos a atividades que envolvam o uso comercial de OGM e seus derivados.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.