O que são stablecoins e o que você precisa saber sobre elas

Segmento de criptomoeda tem como principal característica seu atrelamento a ativos mais estáveis

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07 de Novembro, 2021 | 07:03 AM

São Paulo — Há muito tempo, o mercado de criptomoedas não se resume apenas aos Bitcoins. Cada vez mais surgem novos segmentos no ramo, como é o caso das stablecoins, que possuem algumas peculiaridades que podem ser bastante atrativas para quem quer entrar no mundo das criptos.

Ao contrário do Bitcoin, que não possui nenhum tipo de lastro, as stablecoins são uma categoria de cripotmoedas que possuem seu valor atrelado a algum outro ativo considerado mais estável. Esse ativo pode ser o ouro ou até mesmo moedas tradicionais, como o dólar e o euro.

Esse atrelamento acontece de maneira simples: o emissor se compromete a manter uma reserva do ativo subjacente (o ouro, por exemplo) que seja equivalente ao número de tokens emitidos. Com isso, é criado um mecanismo de conversibilidade em que o investidor pode entregar o token e receber o ativo (ou o contrário)”

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As stablecoins podem ser classificadas em duas categorias: as centralizadas, que mantém a paridade com o ativo por conta de lastro, e as que mantém a paridade através de um algoritmo. As principais stablecoins do mercado em termos de capitalização são a Tether (USDT), o USD Coin (USDC) e o DAI.

Criada em 2014, a Tether foi a primeira stablecoin lançada. Ela é atrelada ao dólar e, hoje, é a maior representante da classe de ativos, com uma capitalização total de $68 bilhões.

Como qualquer ativo, as stablecoins possuem vantagens e desvantagens. Justamente por serem criptomoedas, um de seus principais benefícios é a instantaneidade com que podem ser enviadas e recebidas, em qualquer lugar do mundo.

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Por outro lado, por serem algo relativamente novo, ainda há dúvidas entre investidores e especialistas sobre sua capacidade de paridade, além do fato de que todas transações podem ser monitoradas por terceiros, já que acontecem na blockchain. Por exemplo, existem “dúvidas em relação ao lastro da Tether”, alerta Alex Buelau, CTO da Parfin. “A empresa por trás da Tether declarou que grande parte do lastro é constituído de papéis comerciais, o que pode significar empréstimos para outras empresas”, completa.

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Outro ponto negativo é que, devido às suas especificidades, esses ativos não possuem potencial de valorização como outras criptomoedas. Apesar disso, uma outra vantagem das stablecoins é que elas podem ser utilizadas em plataformas DeFi, que estão ganhando cada vez mais popularidade. Nesses espaços, elas podem ser trocadas por outra stablecoin ou criptomoeda.

Devido ao fato de que não só as stablecoins como também o mercado de criptomoedas ainda são relativamente uma novidade no mundo financeiro, é difícil saber quais serão os caminhos dos ativos. Mas justamente por serem novas, as stablecoins vêm atraindo muitos investidores. “A demanda continua alta e novos modelos de stablecoins que eliminam o risco de contraparte centralizada vão continuar a serem testados”, pontua Buelau.

“Muitos analistas acreditam que caso haja um evento significativo com o Tether (como, por exemplo, a intervenção de reguladores), isso poderia afetar o resto do mercado”, comenta o Buelau. Já João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex, lembra que as stablecoins “são muito mais associadas aos seus ativos subjacentes do que propriamente as criptomoedas”. “O risco predominante é o do ativo subjacente”, completa.

Discussões

Durante discurso no Instituto Empresarial Americano em agosto, Christopher Waller, diretor do Federal Reserve, demonstrou ter dúvidas sobre os possíveis benefícios de uma moeda digital feita pelo banco central, uma CBDC na sigla em inglês. Waller disse estar cético sobre a possibilidade de um dólar digital resolver problemas do sistema de pagamentos dos Estados Unidos.

Alguns entenderam as críticas como um sinal verde para as stablecoins. Isso porque, em outro momento do discurso, ao falar sobre as questões regulatórias e o setor privado, Waller citou a categoria tipo de ativo.

“Há muitas questões legais, regulatórias e de políticas que precisam ser resolvidas antes que as stablecoins possam proliferar com segurança”, disse Waller. “Meu ponto é que o setor privado já está desenvolvendo alternativas de pagamento para competir com o sistema bancário. Portanto, parece desnecessário para o Federal Reserve criar um CBDC para reduzir os custos dos pagamentos”, completou.

Igor Sodré

Jornalista com formação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com experiência na cobertura de cultura e economia, tendo como foco mercado financeiro e companhias. Passou pela Bloomberg News e TradersClub.