Bloomberg — As empresas de ativos digitais estão reagindo contra as alegações de uso excessivo de energia no setor de criptomoedas, enquanto os líderes mundiais se dirigem a Glasgow, nesta semana, para negociações importantes sobre mudanças climáticas.
A Global Digital Finance, cujos membros incluem os gigantes da indústria BitMEX, Coinbase Global e Abu Dhabi Global Market, pediu maior transparência de dados em torno de questões de sustentabilidade. O grupo publicou um relatório na segunda-feira (1) em um esforço para definir metas ambientais para toda a indústria, em meio a um movimento de maior escrutínio quanto à contribuição do Bitcoin para o aquecimento global. O relatório contempla formas mais precisas de medir o impacto ambiental dos ativos digitais, analisa sua utilidade social e adverte os reguladores contra a necessidade de compensações.
O aumento dos investimentos em ESG, onde os investidores levam em consideração o desempenho ambiental, social e de governança corporativa de uma empresa ou ativo, traz um risco de redução da demanda por ativos digitais. O defensor das criptomoedas, Elon Musk, mencionou o uso excessivo de energia quando parou de aceitar Bitcoins como pagamento para os veículos da Tesla, no início deste ano.
A resistência da indústria ficou evidente na contribuição do think-thank Z/Yen, com sede em Londres, para o relatório, intitulada: “Não jogue fora o bebê digital junto com a água do banho climática”.
A pegada de carbono do Bitcoin é uma realidade estranha para os investidores que migraram para a moeda digital este ano em meio a uma alta, na qual o preço mais do que dobrou. Cada vez mais os investidores se comprometem a alinhar seus portfólios com a meta do Acordo de Paris, de manter o aquecimento global em 1,5 °C, trazendo clareza sobre a pegada de carbono do Bitcoin. Assim, tomar medidas para mitigar essa pegada será cada vez mais crucial.
O diretor de políticas da Coinbase, Faryar Shirzad, propôs um compromisso de divulgar relatórios voluntariamente: “Talvez seja hora de nossa indústria buscar uma parceria com líderes estabelecidos, que têm experiência em calcular sua pegada de carbono e emitir os respectivos relatórios, para desenvolver uma estrutura padronizada para avaliar e divulgar os impactos climáticos da mineração, do comércio e da posse de criptomoedas. "
Os dados serão um desafio. O relatório da Global Digital Finance argumenta que a narrativa em torno da mineração de criptomoedas e da intensidade de energia, que tem sido amplamente negativa, parece “intelectualmente desonesta em suas afirmações e conclusões”. É verdade que o setor de criptomoeda sempre afirmou que medir seu impacto - financeiro ou de outra natureza - requer atenção especial a fatores que não estão ajustados ao mundo crescente das finanças não tradicionais.
Nenhum dos dois argumentos - de que”o Bitcoin é um desastre climático” ou que é “uma das indústrias mais sustentáveis” do planeta - se sustenta quando contraposto às evidências, afirmam Michel Rauchs e Alexander Neumueller, pesquisadores do Cambridge Center for Alternative Finance.
Um equívoco comum sobre o uso de energia da rede Bitcoin começa ao compará-la aos sistemas de pagamento tradicionais, que atrela o consumo de eletricidade ao volume de transações, dizem eles. Ter uma estimativa confiável do consumo total de energia depende da intensidade de carbono da fonte de energia usada para gerar eletricidade, dizem os pesquisadores de Cambridge. Isso exigiria uma avaliação mais detalhada dos fatores, incluindo o local das instalações de mineração ou das redes de computadores usadas para processar transações, bem como a sazonalidade.
Enquanto isso, há também um esforço crescente para aplicar uma lente de justiça social ao investimento em ativos digitais. “Como uma indústria inovadora, podemos e devemos fazer mais do que apenas compensar as emissões de carbono”, disse Alexander Höptner, executivo-chefe da exchange de cripto BitMEX.
A plataforma da Blockchain, Cardano, por sua vez, pretende plantar árvores como parte de seu primeiro “desafio de impacto global”. A Fundação Cardano se comprometeu a plantar 1 milhão de árvores em Madagascar e, potencialmente, no Quênia e no sudeste da Ásia.
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