FMI: Commodities impulsionam crescimento na América Latina e no Caribe

Preço das commodities vai ajudar as economias exportadoras da região, o que contrasta com o desempenho econômico de outras partes do mundo

Gita Gopinath, Conselheira Econômica e Diretora do Departamento de Pesquisa do FMI, chamou a atenção para as lacunas entre os países no processo de vacinação
12 de Outubro, 2021 | 11:54 AM

Bloomberg Línea — O Fundo Monetário Internacional (FMI) baixou ligeiramente as projeções de crescimento para o mundo e as economias avançadas, tendência que a América Latina e o Caribe não conteve, de acordo com a atualização divulgada nesta terça-feira em meio à reunião anual realizada pelo organismo. De acordo com o FMI, embora a recuperação econômica esteja no caminho certo, o ímpeto inicial enfraqueceu, em parte por causa de problemas nas cadeias de abastecimento.

Essas pressões, somadas aos surtos da Covid-19 e aos choques climáticos, impactaram a atividade de manufatura e causaram uma escassez de insumos. Esses fatores ajudaram a aumentar a inflação em várias economias, o que, de acordo com o FMI, poderia agravar a carga sobre as famílias mais pobres.

O órgão internacional calculou que a inflação voltará aos níveis pré-pandêmicos em meados do próximo ano para o grupo de economias avançadas e economias emergentes e em desenvolvimento, embora tenha dito que os bancos centrais terão de estar preparados caso se materialize uma alta dos preços.

O relatório calculou que neste ano o Produto Interno Bruto (PIB) mundial crescerá 5,9%, 0,1 ponto percentual abaixo da projeção que o FMI entregou em julho, enquanto manteve a projeção em 4,9% para o próximo ano. “As perspectivas para o grupo de países em desenvolvimento de baixa renda diminuíram consideravelmente, devido ao agravamento da dinâmica da pandemia”, acrescentou Gita Gopinath, assessora econômica e diretora do Departamento de Pesquisa do FMI, no documento.

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Além disso, o órgão alertou que as perspectivas divergem entre os países: enquanto as economias avançadas vão retomar sua tendência pré-pandêmica no próximo ano e superá-la em 0,9% em 2024, as economias emergentes e em desenvolvimento, excluindo a China, devem continuar 5,5% abaixo da pré-pandemia. Isso, diz Gopinath, implicará em um retrocesso na melhoria de seus padrões de vida.

O FMI explica no documento que um dos motivos para as diferenças de crescimento se deve às lacunas que ainda existem no processo de vacinação, já que enquanto 60% da população das economias avançadas está totalmente vacinada, cerca de 96% da população países de baixa renda não são vacinados contra Covid-19.

Gopinath garantiu que se o impacto do vírus continuar por muito tempo, o PIB mundial poderá ser reduzido em US$ 5,3 trilhões nos próximos cinco anos. “A comunidade mundial deve redobrar seus esforços para garantir o acesso equitativo às vacinas em todos os países, superar as dúvidas sobre as vacinas e garantir melhores perspectivas econômicas para todos”, disse ele.

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América Latina e a alta das commodities

Embora haja menos otimismo em relação ao crescimento mundial, o comportamento dos preços das commodities ajudará a América Latina e o Caribe, região com economias exportadoras de commodities. De acordo com o relatório do FMI, a região crescerá 6,3% neste ano, embora a retomada seja menor em 2022, considerando que se projeta um aumento de 3,0% do PIB até então, com a ausência da baixa base estatística de 2020, ano em que o impacto da pandemia foi sentido com mais força.

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Na comparação com o relatório divulgado em julho, isso representa alta de 0,5 ponto percentual neste ano, mas queda de 0,2 ponto no próximo. Gopinath garantiu que “as previsões de alguns exportadores de matérias-primas melhoraram graças ao aumento dos preços”.

Chile (11%), Peru (10%) e Colômbia (7,60%) seriam os países que liderariam o crescimento entre as economias selecionadas na região.

Os futuros do petróleo estão se aproximando de US$ 90, com o agravamento da crise energética global, enquanto o cobre passou de estar acima de US$ 7.700 em janeiro deste ano para ser negociado acima de US$ 9.500 esta semana na bolsa de valores da London Metals.

Argentina (7,50%) e México (6,20%) fecham os cinco primeiros lugares, apesar de a economia liderada por Andrés Manuel López Obrador ter sofrido uma redução de 0,1 ponto em relação à projeção entregue em julho. No relatório daquele mês, além dos cálculos para a região e o México, a entidade revelou apenas projeções para o Brasil, país que agora espera crescer 5,20%, também com revisão para baixo de 0,1 ponto.

Além de reduzir a lacuna na vacinação, Gopinath apela a esforços “multilaterais” para garantir a liquidez internacional e mais uma vez sugeriu que os países que têm a possibilidade de fazê-lo deveriam canalizar os Direitos Especiais de Saque fornecidos pelo FMI para um fundo fiduciário. Para o crescimento e redução da pobreza.

Na semana passada, o Banco Mundial também elevou a projeção da região de 5,2% para 6,3%, embora com o alerta de que a maioria dos países ainda não será capaz de reverter o golpe da pandemia.

Carlos  Rodríguez Salcedo

Periodista colombiano, especializado en economía. Fui periodista y editor del diario La República, con experiencia en temas macroeconómicos, empresariales y financieros. Además, pasé por la agencia de noticias Colprensa.