Título verde do agronegócio vira case do Brasil na COP-26

Amapá já emitiu o título para captar R$ 3,5 bil referente a 35 mil hectares preservados, mas governo estima que papel possa girar R$ 30 bi por ano com áreas de reservas mantidas por agricultores e pecuaristas

Áreas preservadas em fazendas com atividades agropecuárias podem movimentar R$ 30 bilhões por ano como lastro de títulos financeiros
11 de Outubro, 2021 | 11:39 AM

São Paulo — O pagamento sobre serviços ambientais será um dos temas que o Brasil levará para a 26ª Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, em Glasgow, no fim de outubro. Na mala, o caso realizado pelo Amapá, que já emitiu R$ 3,5 bilhões em Cédulas de Produto Rural (CPR) Verde, referente a 35 mil hectares de matas nativas preservadas e sob responsabilidade do governo do Estado, transformadas em ativos ambientais e atualmente negociados na plataforma Tesouro Verde.

O governo do Amapá se antecipou à própria regulamentação federal. A CPR Verde foi apresentada pelo governo federal no início de outubro, estendendo o mecanismo de financiamento aos produtores rurais. A expectativa dos ministérios da Economia e Agricultura é que a modalidade movimente R$ 30 bilhões apenas entre os produtores rurais que tenham áreas nativas preservadas.

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“Com o mecanismo o Brasil assume o protagonismo com a CPR Verde. Ela traz segurança para o investidor, sem haver o risco de dupla contagem das áreas que estão sendo contabilizadas”, afirma Maria Tereza Umbelino, CEO do grupo BMV, que atua na estruturação de operações financeiras com ativos ambientais.

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Diferentemente da CPR convencional, onde o lastro do título é a produção de soja, milho, café e outras commodities, gerada em determinada área produtiva, a CPR Verde está lastreada nas áreas de mata nativas preservadas pelos agricultores. Segundo Maria Tereza, essas áreas de preservação são convertidas nas chamadas Unidades de Crédito de Sustentabilidade (UCS), que servem de lastro para a CPR. Cada UCS equivale a uma tonelada de carbono equivalente estocada nas florestas.

“Nossos estudos revelam que o Brasil tem uma capacidade de gerar 8 bilhões de UCS’s considerando a área preservada existente para uma demanda de 14 bilhões. Na prática, hoje não conseguimos atender nossa própria demanda”, afirma Maria Tereza.

A UCS se diferencia dos já conhecidos créditos de carbono. Enquanto os créditos são gerados a partir de cortes nas emissões a partir de determinado momento, a UCS é mensurada pela floresta já existente.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.