Plattsburgh, cidade do estado de Nova York, aprovou uma suspensão temporária de novas atividades de mineração de criptomoedas por um ano.
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Bloomberg Opinion — Bitcoin é uma moeda virtual que deixa uma pegada física significativa. Isso em forma de instalações gigantescas, com altíssimo consumo de energia, que surgiram para explorá-la. O tamanho dessa pegada e seu impacto sobre o meio ambiente se tornaram uma questão fortemente contestada: o consumo de energia da rede de mineradoras de criptomoedas este ano provavelmente será de 91 terawatts-hora, o que equivale, aproximadamente, ao consumo do Paquistão, segundo a BloombergNEF. O co-fundador da Microsoft, Bill Gates, e o CEO da Tesla, Elon Musk, criticaram a indústria por seu vício em energia barata, que geralmente é derivada de combustíveis fósseis, nada alinhada com os tempos atuais de emissões zero.

O contra-argumento das mineradoras de criptomoedas é que estão gradualmente fazendo a transição para fontes de energia renováveis e saindo de países com uso mais intensivo de carvão na sua matriz, como a China - que introduziu uma proibição geral de criptomoedas. Elas também dizem que farão um favor ao mundo encorajando novos parques eólicos e solares centrados no Bitcoin.

Veja mais: Mineradoras de criptomoedas buscam alternativa sustentável em vulcões e na energia nuclear

Tudo isso é muito bom na teoria, mas na prática há um problema muito mais urgente que as mineradoras de criptomoedas precisam enfrentar: uma crise de energia mundial na qual as nações estão disputando uma reserva limitada de gás natural para alimentar a recuperação pós-pandemia e reabastecer os estoques esgotados antes do inverno. Em um momento em que os países estão acusando uns aos outros e entrando em pânico com as contas de aquecimento, quem quer uma mina de Bitcoin em sua cidade?

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O problema não é apenas o impacto global do Bitcoin, mas também como ele é percebido localmente. Sua rede representa cerca de 0,5% do consumo mundial de energia, o que significa que os entusiastas da criptomoeda sempre poderão apontar para drenos maiores no sistema. Ainda assim, no nível de uma rede elétrica local, em um momento de oferta baixa e demanda alta, ter um consumidor de porte exorbitante pode aumentar os custos para todos. Relatos da mídia sugerem que é isso que está acontecendo no Quirguistão. A nação da Ásia Central está aumentando as tarifas de eletricidade para criptomoedas - e outros setores como a mineração de ouro - para contabilizar a “intensidade energética”.

Recentemente foi feito um estudo acadêmico, de autoria de Matteo Benetton, da Berkeley Haas School of Business, e colaboradores, sobre o ônus estimado que uma comunidade no interior do estado de Nova York pode ter com a chegada de uma mineradora de cripto . Ele aponta que os benefícios previstos, como mais impostos e empregos, se apequenam em comparação com os custos extras de energia, que, anualmente, chegam a cerca de US$ 165 milhões para pequenas empresas e US$ 79 milhões para indivíduos. O estudo usou aumentos nos preços do Bitcoin e curvas de demanda de eletricidade para estimar os custos extras implícitos. Ampliado para os Estados Unidos, no nível nacional, eles chegam a US$ 1 bilhão.

Pode ser que os EUA não sofram tanto com escassez de gás, se comparado a outras regiões. Mas a diáspora das mineradoras não vai ter sossego, dada a frustração que já está evidente. Colin Read, o ex-prefeito de Plattsburgh, Nova York, disse à CNBC em julho que receber a mineradora de Bitcoin durante seu mandato não gerou mais que “um punhado” de empregos - em comparação com um enorme alvoroço dos moradores sobre o aumento dos preços da eletricidade. A cidade estava desviando de 10% a 15% de seu abastecimento para mineradoras, colocando pressão na rede e em todos os demais. Em 2018, a cidade aprovou uma suspensão temporária de novas atividades de mineração de criptomoedas por um ano.

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O Texas tem enaltecido a oportunidade econômica de atrair empresas de mineração de criptomoedas, que, por sua vez, estão ansiosas para aproveitar a energia barata do estado. Mas já vimos o impacto que a crise do inverno do ano passado teve em sua rede frágil, elevando os custos e provocando interrupções. Isso derrubou muitas instalações de mineração de criptomoedas. Não está claro se o estado está pronto para atender a um novo fluxo de mineiros egressos da China - ou se será sustentável a tendência de fazendas renováveis de criptomoedas injetando energia de volta para a rede.

Ninguém está sugerindo que o Bitcoin é a causa da atual crise de abastecimento global, assim como os hedge funds, que negociam commodities, não são culpados pela escassez de gás.

Mas com um Bitcoin sendo negociado por mais de US$ 50.000, e as mineradoras, em alguns casos, relatando uma margem de 67,5% e US$ 7,5 milhões em lucro por trimestre, elas terão pouco incentivo para desacelerar, mesmo que se vejam expostas ao aumento dos preços da energia. Em outros lugares, a ferida está aberta: gigantes industriais europeus estão fechando fábricas ou reduzindo a produção, os fornecedores de energia do Reino Unido estão falindo e os americanos estão sendo alertados sobre o susto que vão ter com o preço do aquecimento. Nesse ritmo, será um inverno frio para os lobistas da mineração.

Lionel Laurenté colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre a França e a União Europeia. Já trabalhou para a Reuters e a Forbes.

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Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

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