Bloomberg Opinion — Quanto custa um bom traje atualmente? Aparentemente, na Nasa, custa cerca de US$ 500 milhões. Essa informação foi relatada por uma nova auditoria da jornada de 14 anos da agência espacial para projetar e construir uma nova geração de trajes espaciais. Sem grandes mudanças no programa, os trajes levarão pelo menos mais quatro anos para serem produzidos, prejudicando o plano da Nasa de voltar à Lua até 2024.
Apenas alguns anos atrás não seria possível acelerar esse processo de maneira viável. Mas graças ao crescimento da indústria espacial comercial dos EUA, a Nasa atualmente tem opções além dos empreiteiros tradicionais que há tempos ajudam a agência a construir hardware espacial internamente. Com o cronograma apertado, a agência deve contar com os empreendedores de alto escalão dos EUA para terminarem o trabalho – e correr atrás do prejuízo na missão de retorno à Lua.
O alto custo para explorar o espaço nunca foi realmente popular entre o público. Mesmo durante o apogeu da corrida espacial na década de 1960, as pesquisas de opinião mostraram de maneira consistente que a maioria dos norte-americanos considerava esses programas muito caros. Em uma pesquisa do ano passado, que classificou as possíveis prioridades espaciais para a administração do presidente Joe Biden, o tema climático ficou em primeiro lugar, seguido de instrumentos para evitar asteroides. Enviar pessoas para a Lua ou Marte ficou em último lugar.
Uma maneira de eliminar esse problema é concentrar os gastos da Nasa nos distritos de legisladores influentes, que mostraram grande habilidade em manter o financiamento dos da agência. A desvantagem dessa abordagem é que ela tende a corroer a responsabilidade, aumentar os custos e prolongar programas com pouca justificativa científica. Um exemplo considerável é o Sistema de Lançamento Espacial, programa de foguetes gigantescos iniciado pelo Congresso em 2011. O projeto está em desenvolvimento há uma década e há anos atrasado, e seu orçamento foi estourado em bilhões. No entanto, graças aos patrocinadores políticos, ele simplesmente continua.
O programa de trajes espaciais sofreu problemas semelhantes. O Congresso o financiou com a ideia de que a Nasa serviria como designer chefe e integradora, enquanto os prestadores de serviço cuidariam das peças. De fato, dar trabalho a prestadores de serviço parecia ser o ponto principal: agora 27 deles trabalham no programa de trajes.
Felizmente, uma abordagem melhor surgiu nos últimos anos. Em vez de pagar esses prestadores de serviço para construir equipamentos que a Nasa acabará possuindo, o governo pode pagá-los por determinados serviços – como o transporte de astronautas para a Estação Espacial Internacional – enquanto permite que eles fiquem com o hardware. A ideia é que empreendedores competitivos, buscando lucro e glória, vão inovar e reduzir custos. Por exemplo, construir o foguete Falcon 9 da SpaceX custou apenas 10% do que a Nasa provavelmente teria gastado usando uma abordagem de contratação tradicional.
Essa economia gerou muitas novas oportunidades no setor espacial. Mas também pressionou os legisladores a recuarem no patrocínio. No mês passado, a Nasa escolheu o foguete Falcon Heavy da SpaceX para lançar o Europa Clipper, uma das missões científicas mais importantes da década. Em anos anteriores, o Congresso havia exigido que a espaçonave fosse lançada no Sistema de Lançamento Espacial. Mas as dificuldades técnicas, combinadas com um custo estimado de mais de US$ 2 bilhões por lançamento, tornaram esse lançamento insustentável. Em vez disso, o uso do foguete da SpaceX deve economizar cerca de US$ 1,5 bilhão para os contribuintes.
Esse tipo de retorno financeiro é difícil de ignorar, mesmo para o governo. Em abril, a Nasa anunciou que pretendia adquirir “serviços de traje espacial” de parceiros comerciais. O setor respondeu com entusiasmo, com mais de 50 empresas manifestando interesse. Em julho, a agência avançou, publicando uma minuta de edital de licitação comercial.
Este é um bom sinal para o programa de trajes. Mesmo assim, os empreendedores do setor espacial parecem frustrados com o ritmo burocrático da Nasa. Na segunda-feira, depois que a auditoria do inspetor-geral foi divulgada, Elon Musk escreveu em seu perfil no Twitter que a SpaceX poderia simplesmente projetar e construir um traje alternativo “se necessário”. Patricia Stoll, executiva da ILC Dover, empresa que trabalhou com a Nasa em trajes espaciais desde as missões Apollo, acrescentou: “Só precisamos que a Nasa saia do caminho e permita que o setor nos leve à Lua até 2024.”
É claro que não há garantias de que Musk ou qualquer outra pessoa terá sucesso onde o governo falhou. Mas depois de 14 anos em busca de algo que os astronautas possam usar na Lua, é hora de deixar a indústria norte-americana se preparar.
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