(Bloomberg) - A recuperação do Bitcoin das fortes baixas vistas em julho ainda carece de um de seus elementos habituais: alavancagem.
Os investidores da criptomoeda precisam aumentar significativamente a alavancagem - que, basicamente, é a quantia de dinheiro emprestada que pode amplificar os retornos ou as perdas - como fizeram em ralis anteriores. O spread entre os futuros do Bitcoin e seu preço à vista encolheu em relação a fevereiro, quando a criptomoeda estava no meio de uma alta que acabou levando ela a sua máxima histórica, o que sugere que a demanda por posições compradas alavancadas permanece tímida.
Para Stephane Ouellette da FRNT Financial, isso poderia sugerir duas coisas - a primeira é que os investidores não estão convencidos de que o retorno do Bitcoin para patamares acima de US$ 46.000 significa um verdadeiro rompimento. Mas aos olhos de Ouellette, o cenário mais provável é que os investidores alavancados ainda estejam por vir, tendo em vista a trajetória das altas anteriores - e se eles vierem, isso tornaria a recente onda de previsões de preço de US$ 100.000 mais provável de ser materializada, disse.
“Geralmente, vemos isso como uma alta forte, o que implica que a parte da alavancagem da alta vem depois”, disse Ouellette, cofundador e CEO da FRNT, no programa “QuickTake Stock” da Bloomberg. “Se for esse o caso, eu diria que essas metas de US$ 100.000 são muito razoáveis. A última vez que vimos um movimento dessa pequena alavancagem, estávamos apontando para US$ 20.000 e não vimos realmente a alavancagem chegar ao mercado de forma agressiva até atingirmos US$ 40.000, o que nos levou a US$ 65.000.”
Em cinco das últimas sete sessões, o Bitcoin subiu constantemente, superando níveis-chave. Na sexta-feira, a moeda chegou a subir até 4,9%, para US$ 46.679, avançando cerca de 50% desde a forte baixa recente, na qual ficou abaixo de US$ 30.000.
Na criptosfera, o uso de alavancagem para aumentar os retornos - o que deixa os traders vulneráveis a terem suas posições vendidas automaticamente se os preços caírem - tem sido o centro das atenções nos últimos meses. Muitos disseram que a queda dos preços em maio, que levou à interrupção do serviço em algumas das maiores bolsas, foi exacerbada pela eliminação das posições alavancadas. Segundo algumas contas, a liquidação fez com que mais de 775.000 corretores tivessem suas contas liquidadas em um período de 24 horas, equivalente a cerca de US$ 8,6 bilhões em cripto.
Desde então, duas das maiores bolsas de criptoativos - Binance e FTX Trading - reduziram a alavancagem máxima oferecida aos traders. No mês passado, ambos a limitaram a 20 vezes, abaixo de mais de 100 para cada. Embora tenham feito a mudança para controlar o uso mais extremo da estratégia, elas estão longe de desligá-la - a alavancagem ainda é 20 vezes maior do que o que é oferecido nas contas padrão do mercado de ações dos Estados Unidos.
Mas agora, o Bitcoin está desafiando uma série de notícias negativas, incluindo críticas sobre seu impacto ao meio ambiente e com os reguladores em vários países do mundo prometendo um escrutínio mais rígido ao criptoativo. A China, por exemplo, tomou uma série de medidas para restringir a mineração de criptos, enquanto os legisladores dos EUA estão se concentrando em ativos digitais de uma nova maneira. O presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, Gary Gensler, recentemente chamou o espaço de “Velho Oeste” e disse que não faria concessões para proteger os investidores ao estabelecer uma estrutura regulatória.
Hunter Horsley, CEO da Bitwise Asset Management, por exemplo, diz que esses desenvolvimentos indicam maior clareza regulatória, algo que a comunidade cripto sempre desejou e poderia ajudar a atrair novos investidores.
“O mercado cripto está recebendo um presente incrível agora, deixando de ser um lugar não muito confiável para ser um espaço que as pessoas acreditam possuir fortes rédeas regulatórias em torno dele”, disse em entrevista por telefone. “Essa é talvez a coisa mais importante que está acontecendo no mundo das criptomoedas.”
