O que fazer quando o mercado está volátil e perde referencial de preço

Estratégia de longo prazo, ainda que óbvia, é esquecida por muitos gestores. “No limite é tentar comprar uma moeda de um real por 50 centavos”, diz Caio Lewkowicz, gestor de portfólios

Na dúvida, olhe para os fundamentos da empresa
11 de Agosto, 2021 | 09:24 AM

São Paulo — A busca de papéis resilientes a longo prazo e que apresentem fundamentos fortes num horizonte de três a cinco anos pode oferecer margem de segurança para investidores quando o mercado está volátil e a maioria dos agentes perde a referência de preço.

“Sempre tentamos comprar por um valor abaixo do que achamos que vale, que é onde entra a questão de margem de segurança”, conta. “No limite, é comprar uma moeda de um real por cinquenta centavos. Nem sempre conseguimos tudo isso, mas tentamos compor o portfólio dessa forma”, afirmou Caio Lewkowicz, gestor de portfólio e sócio da Tarpon.

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Por que isso é importante? O gestor conta que o objetivo dos fundos é sempre buscar por um portfólio bem equilibrado, contando com uma parte que dependa mais da atividade macroeconômica e outras menos expostas. O leque do fundo Wahoo, por exemplo, conta ainda com papéis ligados ao agronegócio, como Kepler Weber e Brasil Agro, e companhias de utilities, que garantem a parte mais defensiva.

“Em momentos de volatilidade, o mercado perde um pouco o referencial de preço e valor; ou seja, a relação de quanto de fato vale o ativo e quanto está sendo negociado na bolsa. Nesses momentos, costumam aparecer muitas oportunidades de investimento.”

Contexto: Lewkowicz relembra que, no início da pandemia de covid-19, muitos papéis da bolsa caíram em magnitudes parecidas. Inicialmente, o primeiro passo dos gestores da Tarpon foi estudar se as empresas conseguiriam atravessar os desdobramentos do vírus; depois, tentaram adiantar como as empresas seriam afetadas; por último, buscaram quais ações seriam beneficiadas por aquela situação. Isso fez com que aumentassem suas exposições a papéis que se mostraram bastante resilientes após o susto inicial - como Arcos Dorados, responsável pela operação do McDonald’s na América Latina, ele exemplifica.

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Já na pandemia, o papel da Locaweb foi incluído no Wahoo, um dos fundos da gestora. “Era um IPO recente, a ação ainda tinha caído, e o mercado não tinha percebido o potencial. A Locaweb tem uma parte de digitalizar o pequeno e médio varejista, que consegue montar um e-commerce em 10 minutos, já conectado a todos os principais marketplaces. Os varejistas precisaram se digitalizar muito rápido nesse período, e a Locaweb pegou todo esse movimento de digitalização, que já era tendência e a pandemia acelerou.”

E daqui para frente? As ofertas iniciais de ações no Brasil estão em um momento quente. Só no primeiro semestre, a B3 registrou 28 aberturas de capital, o mesmo número de todo o ano de 2020, somando R$ 66,1 bilhões.

“Queremos estar em empresas e setores que tenham bom desempenho, independente do cenário macropolítico”, explica o gestor. “O próximo ano será eleitoral, e provavelmente mais volátil. Anos eleitorais trazem ainda ruídos políticos. Nosso papel é usar a volatilidade a nosso favor.”

A Tarpon trabalha com dois fundos, ambos voltados para o longo prazo e para públicos diversos:

  • O GT, que engloba empresas pequenas e médias, fechou para novas captações recentemente ao tocar o R$ 1 bilhão.
  • Já o Wahoo, criado em outubro de 2019, voltado para empresas maiores, está em R$ 250 milhões e tem capacidade para R$ 4 bilhões.
  • A gestora de 19 anos administra, no momento, cerca de R$ 7 bilhões no total, incluindo os outros polos além desses fundos. De acordo com o sócio, o lançamento de novos fundos não está no radar, já que esses dois já abrangem “todo um universo da bolsa”.
Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.