Unilever amplia metas de redução de emissões apesar de críticas de investidores

Gigante de bens de consumo adota metas absolutas para diminuir emissões de fontes indiretas como lojas que vendem seus produtos e produtores do campo que fornecem insumos

Sede da Unilever, em Roterdã
Por Dasha Afanasieva - Akshat Rathi
06 de Março, 2024 | 08:16 AM

Bloomberg — A Unilever anunciou novas metas de redução de emissões mais ambiciosas, que visam fornecedores e até mesmo as lojas que comercializam suas marcas, apesar das preocupações de uma ala de investidores de que os objetivos não-financeiros se tornaram uma distração para a empresa.

Em seu mais recente plano climático divulgado nesta quarta-feira (6), a gigante global de bens de consumo, com marcas como Dove, Hellmann’s e Ben & Jerry’s afirmou que pretende reduzir as emissões de gases de efeito estufa associados à comercialização e ao consumo de seus produtos até o final da década.

A Unilever planeja, por exemplo, que as emissões provenientes de fontes indiretas, incluindo refrigeradores de sorvete nas lojas e a reciclagem dos produtos que comercializa, diminuam 42% em relação aos níveis de 2021.

Ela também busca reduzir as emissões provenientes de florestas, terras e agricultura - o que inclui o cultivo de commodities como o óleo de palma - em 30% no mesmo período.

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A nova abordagem surge em um momento desafiador para a Unilever.

A empresa tem sido prejudicada pelo desempenho financeiro e pela queda na participação de mercado, que alguns investidores atribuem à sua ênfase dos negócios na sustentabilidade.

Ao mesmo tempo, a reação liderada pelos republicanos nos Estados Unidos contra o investimento de muitas empresas com objetivos ambientais, sociais e em governança (ESG) ameaça torná-las mais tímidas na definição de suas prioridades climáticas.

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Executivos estão sob pressão crescente para tranquilizar os investidores de que os programas ambientais não serão prejudiciais ao resultado final.

Thomas Lingard, diretor global de sustentabilidade da Unilever, disse em uma entrevista que os planos climáticos da empresa estão incorporados em seu modelo de crescimento financeiro.

"Temos que trabalhar muito para garantir que o que estamos fazendo em sustentabilidade também apoie a estratégia geral de crescimento do negócio e seja consistente com isso", disse. "Agora, parte disso economiza dinheiro, parte disso requer algum investimento, mas, no balanço geral, é consistente com os objetivos financeiros gerais."

Segundo Lingard, os clientes desejam produtos mais verdes, e os impactos climáticos começaram a afetar a cadeia de suprimentos da empresa. Por exemplo, os preços do chocolate dobraram neste ano devido ao aumento da frequência de secas e inundações.

O CEO Hein Schumacher, que assumiu o cargo no ano passado, enfatizou o desempenho operacional e está simplificando as metas de ESG em quatro pilares: clima, natureza, plásticos e meios de subsistência. Schumacher também afirmou que nem todas as marcas da Unilever precisam ter um “propósito”.

Ao longo dos anos, a Unilever tem combatido com sucesso suas próprias emissões - categorizadas como Escopo 1 e 2 -, mudando suas instalações para perto de unidades de geração de energia renovável, por exemplo. No entanto a maior parte de suas emissões vem da cadeia de valor - chamada de Escopo 3 -, o que se mostrou um desafio muito maior.

A Unilever já havia anunciado metas do Escopo 3 medidas por emissões por cliente. Hoje é a primeira vez que anuncia uma meta absoluta para essa categoria de emissão.

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As iniciativas de sustentabilidade da empresa lhe renderam uma alta classificação entre os pares, como a Nestlé e a Procter & Gamble, em termos de ação climática, de acordo com a Planet Tracker.

Vale ressaltar que a Unilever afirmou desde 2021 que não usaria offset de carbono para atingir suas metas de redução a curto prazo. Também prometeu atingir emissão zero em toda a cadeia de valor até 2039, o que é mais cedo do que muitas metas nacionais estabelecidas para 2050.

No entanto esses compromissos de redução de carbono foram criticados por serem muito nebulosos e difíceis de mensurar.

Lingard disse que a empresa vem refinando a forma como mede seu progresso para melhorar a precisão - e vê os investidores apoiando o roteiro de sustentabilidade como um todo.

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"Os investidores são muito claros em seu apoio ao que estamos fazendo, mas também querem que sejamos comercialmente bem-sucedidos, rentáveis e cresçamos", disse ele. "Isso não é realmente uma surpresa."

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