Bloomberg — O presidente Donald Trump avançou nos planos para que investidores americanos comprem as operações do TikTok nos EUA de sua proprietária chinesa ByteDance.
As autoridades definiram um valor potencial de US$ 14 bilhões e delinearam medidas para garantir a segurança do novo empreendimento.
Em uma ordem executiva assinada na quinta-feira (25) na Casa Branca, Trump declarou que o acordo está em conformidade com uma lei de 2024 que exige que a ByteDance desfaça o controle ou enfrente uma proibição nos EUA da popular plataforma de compartilhamento de vídeos e de social commerce.
Trump também reiterou que havia obtido a aprovação do presidente chinês, Xi Jinping, para o acordo.
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“Tive uma conversa muito boa com o presidente Xi”, disse Trump a jornalistas no Salão Oval da Casa Branca. “Falamos sobre o TikTok e outras coisas, mas falamos sobre o TikTok e ele nos deu o aval.”
O acordo que Trump tenta finalizar transformaria os negócios da TikTok nos EUA em um novo empreendimento com sede nos EUA, de propriedade principalmente de investidores americanos, com a participação da ByteDance reduzida para menos de 20%, conforme exigido pela lei de segurança nacional.
A venda ajudaria a cumprir uma promessa de campanha de Trump e removeria um problema nas relações com a China.
Proteção de dados pela Oracle
Trump e outras autoridades dos EUA enfatizaram que o acordo protegeria os dados dos usuários americanos, com a Oracle encarregada de manter suas informações em uma nuvem segura e ajudar a nova entidade TikTok a proteger o software de recomendação do aplicativo contra influência estrangeira.
A embaixada chinesa em Washington respondeu aos últimos comentários de Trump reiterando uma declaração anterior sobre o assunto. O “lado dos EUA precisa oferecer um ambiente aberto, justo e não discriminatório para os investidores chineses”, disse.
Mesmo com o endosso de Trump, a transação continua envolta em incertezas, já que a China ainda não disse publicamente se concedeu sua aprovação. A embaixada chinesa não respondeu imediatamente na quinta-feira a um pedido de comentário da Bloomberg News após os últimos comentários de Trump.
Possíveis compradores
Os principais elementos do acordo ainda não estão claros, incluindo a composição do grupo de compradores.
A Oracle, a Silver Lake Management e a empresa de investimentos MGX, com sede em Abu Dhabi, estão em negociações para investir no TikTok US e receber assentos no conselho da nova empresa, de acordo com pessoas familiarizadas com as discussões, que advertiram que as negociações permanecem incertas.
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Outra “ponta solta” é o preço do novo empreendimento nos EUA.
O vice-presidente JD Vance, que desempenhou um papel central na elaboração do acordo, disse na quinta-feira que a transação avaliaria a nova empresa americana em cerca de US$ 14 bilhões.
“Em última análise, os investidores vão decidir em que querem investir e qual é o valor adequado”, disse Vance.
A estimativa de Vance ficou muito abaixo de algumas projeções anteriores que avaliavam as operações nos EUA em cerca de US$ 35 bilhões a US$ 40 bilhões.
Avaliar as operações da TikTok nos Estados Unidos sempre foi difícil devido à incerteza em torno da tecnologia envolvida em qualquer negócio, especificamente o cobiçado algoritmo de conteúdo do aplicativo.
A principal analista da Emarketer, Jasmine Enberg, disse que a avaliação de US$ 14 bilhões estava de acordo com sua estimativa para a receita de publicidade da TikTok nos EUA esperada para 2026.
“A publicidade é a principal linha de negócios da TikTok nos EUA, e ainda há muitas perguntas sem resposta sobre como o novo negócio funcionará”, disse Enberg em um comunicado.
Mas outros observadores do setor reagiram com incredulidade a uma avaliação que - na superfície - parecia subestimar enormemente o valioso ativo da maior empresa privada da China.
“O valor sugerido parece um roubo à luz do dia”, disse Vey-Sern Ling, consultor sênior de ações para tecnologia na Ásia da Union Bancaire Privee.
A ordem concede às partes 120 dias para fechar o negócio, na quinta extensão de prazo concedida por Trump, que testa os limites da lei de desinvestimento ou proibição, que permitia apenas uma pausa na execução.
O acordo agora deve ser fechado até o final de janeiro de 2026, ou seja, mais de um ano após a entrada em vigor da lei assinada no governo de Joe Biden.
A medida do presidente cria um possível confronto com os legisladores dos EUA, que permanecem céticos quanto ao fato de o acordo que está sendo formado atender aos termos da lei de 2024.
Membros do Congresso prometem examinar o acordo - especialmente se ele encerra o controle da ByteDance sobre o TikTok e seu cobiçado software de recomendação nos EUA.
“Se um acordo foi fechado, os detalhes precisam ser compartilhados com o Congresso”, disse o deputado Raja Krishnamoorthi, o principal democrata do Comitê Seleto da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês, em um comunicado na segunda-feira (23).
Seu colega republicano que lidera o comitê, o deputado John Moolenaar, disse na semana passada que planejava “discutir essas questões com as partes da transação para garantir que qualquer acordo cumpra os requisitos legais da lei”.
Ainda não está claro até que ponto os legisladores, especialmente os colegas republicanos de Trump, desafiarão o presidente em relação aos termos.
De acordo com o acordo, os proprietários do TikTok, com sede nos EUA, alugariam uma cópia do algoritmo da ByteDance, que seria então retreinada “do zero” com a supervisão da Oracle, segundo uma autoridade dos EUA.
A Oracle inspecionaria o algoritmo retreinado e como ele fornece conteúdo aos usuários, para ajudar a entidade dos EUA a garantir que ele não esteja sendo usado para fins maliciosos ou influenciado de outra forma.
Projeto Texas
Os dados dos usuários dos EUA seriam armazenados em uma nuvem segura gerenciada pela Oracle com controles estabelecidos para impedir a entrada de adversários estrangeiros, incluindo a China, disse a autoridade.
A ByteDance não teria acesso a informações sobre os assinantes americanos do TikTok, disse o funcionário.
A configuração reflete a parceria multibilionária conhecida como Projeto Texas, em que a Oracle foi encarregada de separar e proteger os dados dos usuários norte-americanos do TikTok da China.
A TikTok propôs a colaboração do Projeto Texas com a Oracle para o governo Biden em 2022 para aliviar as preocupações com a segurança nacional, mas o governo dos EUA acabou rejeitando-a como uma solução adequada.
Não está claro se esse acordo satisfará as preocupações de longa data entre as autoridades de Pequim.
O Ministério das Relações Exteriores da China disse apenas que “o governo chinês respeita os desejos da empresa em questão e ficaria feliz em ver negociações comerciais produtivas, de acordo com as regras do mercado, levarem a uma solução que esteja em conformidade com as leis e regulamentações da China e leve em conta os interesses de ambas as partes”.
-- Com a colaboração de Kurt Wagner, Ed Ludlow, Zheping Huang, Jeanny Yu e Min Jeong Lee.
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