Bloomberg Línea — A Udemy, uma das maiores plataformas de aprendizado online do mundo, realizou o seu IPO na Nasdaq em outubro de 2021. Desde então, os resultados carregam duas características: o primeiro é o crescimento da receita, que subiu 8% em 2024 em relação ao ano anterior e fechou em US$ 786,6 milhões.
O segundo é o registro de prejuízos líquidos, que ficaram em US$ 85,3 milhões no último ano, valor 30% inferior aos 12 meses anteriores.
O ano de 2025, no entanto, caminha para se tornar um ponto de inflexão, com a operação a caminho de seu primeiro resultado positivo.
Nos seis primeiros meses, a Udemy apresentou lucro líquido de US$ 4,5 milhões, em reversão ao prejuízo de US$ 50,2 milhões no mesmo período de 2024.
A nova perspectiva, para além dos números, é decorrente de mudanças estratégicas que a companhia tem adotado. Conhecida como uma plataforma de conteúdo para aprendizagem, a Udemy, companhia de origem turca, tem acelerado para colocar a inteligência artificial como peça central do seu modelo de negócio.
As mudanças são encabeçadas por Hugo Sarrazin, que assumiu o comando da operação como CEO em março deste ano.
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O executivo, que antes liderou o UKG (Ultimate Kronos Group), tem dado um novo impulso apesar do pouco tempo de casa, de acordo com André Almeida, VP para a América Latina desde o começo deste ano e também recém-chegado.
“Sarrazin chegou com um viés muito grande de transformação para que a Udemy se torne um player de IA, no sentido de transformar o negócio em uma empresa de alfabetização de IA e plugar soluções práticas como Role Play, assessments e laboratórios”, afirmou Almeida.
“Não é só mais aprendizado, do ponto de vista dos cursos livres, mas como validar e certificar esse aprendizado prático.”
O Role Play é uma ferramenta que permite aos alunos treinarem para determinada conversa ou reunião de negócios e receberem feedbacks, a partir de um agente de IA, com pontos positivos e o que pode ser melhorado.
Segundo o executivo, com passagens por EF Education, Abril Educação e Voxi, pessoas com mais experiência na companhia relatam que têm visto mais aplicação de inovação nos últimos quatro meses.
Uma das grandes apostas no processo de transformação é a adoção ao Model Context Protocol (MCP).
Trata-se de um sistema global que permite que os usuários, sem sair de aplicativos de trabalho e apenas com um prompt, solicitem o curso que desejam e recebam a sugestão mais adequada e conectada com o seu ambiente profissional.
“O que falamos há décadas, que é o aprendizado no fluxo de trabalho, se torna possível através do MCP - o aluno não precisa entrar na Udemy”, disse Almeida sobre o sistema que pode ser usado para diferentes funções.
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Os alunos podem, por exemplo, criar uma trilha de aprendizagem personalizada ou se preparar por meio do Role Play; e profissionais em cargos executivos podem buscar entender como está o ritmo de produtividade e de performance em diferentes áreas da companhia.
O produto está sendo usado em fase beta em diferentes países, incluindo o Brasil, e deve ser levado de forma comercial ao mercado nos próximos meses, de acordo com uma previsão da companhia.
“Nós vamos lançar muito mais em curto espaço de tempo. Estamos desenvolvendo produtos com realidade virtual. Temos um pipeline de inovação a cada trimestre”, disse o executivo em evento recente organizado pela Udemy para clientes.
Educação corporativa como motor
Apesar do reconhecimento de marca por pessoas físicas, a principal fonte de receita da Udemy vem do mercado corporativo, com a contratação dos serviços por empresas para o aprimoramentos dos seus profissionais.
Na divisão das receitas, o B2B responde por cerca de 65%, e o B2C, com o restante. A tendência é a frente corporativa avançar cada vez mais.
Os principais segmentos de clientes são: tecnologia, bancos, empresas de serviços profissionais, varejo e indústrias, com nomes como Latam, Femsa e AB Inbev.
Os cursos com maior demanda no B2B em 2025 estão relacionados ao aprendizado de IA, com alta de 170% na base anual; gestão de projetos (+19%), gestão de time (+18%) e liderança (+13%).
Dos 81 milhões de alunos na plataforma, o Brasil responde por mais 6 milhões, número que cresceu 20% nos últimos 18 meses. Na América Latina, são mais de 16,5 milhões de usuários.
Desde que assumiu a operação para a região, Almeida tem feito ajustes internos, como estabelecer métricas de faturamento localmente e contar com times de atendimento locais, em uma “agenda de tropicalização”.
Em paralelo, busca aumentar a penetração nos clientes corporativos atuais, que somam 1.200 na região.
“Nós estamos só começando. E a América Latina já vem crescendo de maneira consistente há mais um ano. Os resultados estão sendo muito positivos e muito além das expectativas”, afirmou, sem abrir o ritmo de expansão do ponto de vista financeiro.
“O Brasil tem uma importância muito relevante no crescimento da região, mas crescemos de forma bem consistente em todos os países.”
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