Decolar entra em modo ‘jet ski’ e faz uso de IA para ampliar o seu mercado

Com integração ao ecossistema de iFood e Sympla e assistente virtual Sofia como agente que melhora a conversão, plataforma de viagens amplia projetos para crescer mais, diz Max Gonzales, CEO para o Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea

Por

Bloomberg Línea — A Decolar, uma das maiores plataformas de viagens online da América Latina, vive um novo capítulo em sua história após a sua aquisição pela Prosus, holding global de investimento em empresas de tecnologia, concluída em maio.

A transação tirou a companhia da bolsa e a colocou dentro do ecossistema latino-americano que reúne nomes como iFood e Sympla, o que significou abrir espaço para sinergias que pretendem mudar a forma como milhões de consumidores da região planejam e pagam suas viagens.

“O Brasil sempre foi e continua sendo o mercado mais importante para nós, responsável por cerca de 40% da receita total do grupo. Hoje, é o país foco para o grupo pelo peso do mercado e pelas oportunidades”, afirmou o argentino Max Gonzalez, CEO da operação brasileira desde maio, em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea em rápida passagem pelo país.

No último resultado antes de fechar o capital, a Decolar informou uma receita de US$ 774,1 milhões, alta de 10% em relação ao ano anterior.

Leia mais: CVC dobra venda para o Caribe com ajuda do câmbio e de novos destinos, diz CEO

Segundo o executivo, que também é Head de Desenvolvimento Corporativo do Grupo Decolar - Despegar na região - e está há mais de dez anos no grupo, a integração com a Prosus não alterou a independência da gestão mas trouxe a ambição de acelerar testes e conexões com outras empresas do portfólio.

Algumas ações já estão em prática atualmente.

Clientes do iFood passaram a receber pontos para usar em compras na Decolar, enquanto usuários do clube de fidelidade da plataforma de delivery líder no Brasil podem acessar ofertas exclusivas de passagens e hotéis.

“Tem muitas coisas que estamos provando, no que chamamos de ‘modo jet ski’, de testes rápidos e ágeis para entender como gerar valor para o cliente. Uma vez que encontramos isso, iremos escalar. Mas estamos convencidos de que o valor virá pelo lado do ecossistema”, disse Gonzalez.

O “jet ski” é usado como metáfora dentro do iFood para testes rápidos de projetos sem a necessidade de manejar toda a operação - o “transatlântico”.

“É um termo novo. Mas me parece muito apropriado para representar o que estamos buscando, que é dispor de agilidade para poder manobrar e encontrar um caminho antes de escalar”, contou.

Aposta em IA

Enquanto os projetos com o ecossistema ainda não decolam, o argentino tem uma nova xodó, a Sofia, a assistente virtual lançada no ano passado e que responde por 800 mil interações mensais. A solução está integrada ao app, ao site e até ao WhatsApp - 400 mil interações ocorrem pelo app de mensageria da Meta.

“A Sofia não é apenas um chatbot. Tem interface visual, voz e imagens. Permite comparar voos ou hotéis em tempo real e acompanhar o usuário em todo o processo de compra e pós-venda. Vemos taxas de conversão [de vendas] mais altas e NPS [Net Promoter Score] melhor”, disse o executivo.

A solução também está sendo testada em canais telefônicos, com uso de voz em chamadas, para expandir ainda mais a omnicanalidade da operação.

Fundada em 1999, a Decolar cresceu “surfando” ondas tecnológicas que transformaram a indústria de turismo: primeiro com as vendas online, depois com o mobile. Agora, aposta na inteligência artificial generativa como diferencial competitivo.

Leia mais: O próximo alvo de Fabricio Bloisi: dobrar a receita da Prosus em três anos

“Nós temos muita fé nesse produto como futuro e oportunidade”, disse Gonzalez, que destacou a Sofia como um diferencial frente à concorrência.

Para além da agente, a companhia tem reforçado todos os canais com o uso de IA para potencializar a relação com os clientes, mantendo o foco na estratégia multicanal.

“Nós queremos estar onde estão as pessoas que querem comprar turismo, usando toda a tecnologia disponível”, afirmou o executivo. “E hoje, com IA, temos acesso a uma quantidade de recursos quase ilimitados que antes não tínhamos.”

Leia mais: Prosus, dona do iFood, planeja levantar US$ 2 bi com a venda de participações

Mercado em expansão

O momento para as mudanças na companhia não poderiam vir em melhor hora, em sua avaliação. A região vive um ciclo de expansão do turismo, mercado que deve movimentar cerca de US$ 260 milhões nos próximos 10 anos, de acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC).

Internamente, a ambição é “crescer cada vez mais rápido”, resultado que está sendo alcançado ao longo deste ano. Após fechar em 2024 com alta de 10% na receita, o CEO trabalha com um ritmo mais forte. “Nós estamos apontando uma expansão mais rápida do que tínhamos registrado.”

Além dos investimentos em integrações, a companhia segue apostando no histórico de marca que a consolidou em posição de destaque. “No Brasil e no resto dos mercados, nós temos uma oferta de produtos super completa”, disse Gonzalo, sobre opções como hotéis, voos, pacotes, atividades, transfers e cruzeiros.

Outra frente de crescimento para o negócio está nas verticais B2B e B2B2C — que incluem parcerias white label com companhias aéreas como a Latam. No último balanço, as divisões representaram 18% da receita total.

Mais novas que as vendas ao consumidor final, que respondem por mais de 80% da receita, esses “braços”, em que a Decolar oferece tecnologia e inventário, avançaram 28% e 30%, respectivamente, em relação a 2023.

“Em white label, o cliente captura toda a aprendizagem de anos de nosso negócio de e-commerce e de OTA [Online Travel Agency] vendendo aos consumidores”, afirmou.

“Nós não temos um teto de quantos esses negócios podem representar, mas a verdade é que ambos têm crescido muito bem, muito rápido e vamos maximizar o quanto pudermos.”

Leia também

iFood anuncia R$ 17 bi em investimentos e mira 200 milhões de pedidos mensais