Bloomberg Linea — Uma das big techs mais tradicionais do Vale do Silício, a Oracle tem executado um plano para se tornar mais atraente para a indústria de startups e empresas de alto crescimento no Brasil e na América Latina.
Em momento de mudança no mercado, com adoção de soluções em nuvem e a IA generativa, a gigante de software fundada por Larry Ellison procura capitalizar e interagir mais com o ecossistema de inovação.
O principal desafio é mostrar a sua capacidade de reinvenção e agregar tecnologias como machine learning e IA, cloud e big data e análise de dados, para potencializar o crescimento dos negócios de startups.
“A Oracle nunca esteve tão perto de startups, de empresas de tecnologia e desse universo”, afirmou Leandro Vieira, vice-presidente para empresas de IA e High Tech da Oracle para a América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea.
Na companhia há quase 15 anos, o executivo assumiu a nova posição no início de 2023. O nomenclatura já é uma resposta aos anseios da Oracle (ORCL) com a emergência da IA generativa.
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A empresa adota como trunfo uma parceria com a OpenAI, do ChatGPT. A startup roda os seus modelos, em parte, na companhia como resultado de uma relação de negócios construída há alguns anos com a Microsoft, a maior investidora da empresa cofundada por Sam Altman.
E também um acordo com a Nvidia, a partir do qual os times de engenharia das duas empresas usam as GPUs - unidades de processamento - para o desenvolvimento de novas aplicações.
“A Microsoft tinha cláusula de exclusividade para que todo o desenvolvimento da OpenAI acontecesse no Azure. Quando o ritmo começa a avançar muito e a empresa não consegue suportar toda a operação, a Oracle, que já era parceira, com modelo interconectividade e estrutura avançada em criar nuvens dentro da Microsoft, foi a opção da OpenAI para escoar parte do desenvolvimento”, disse Vieira.
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O desafio, porém, está na memória que muitos profissionais do próprio mercado de tecnologia têm em relação à Oracle: uma casa de softwares de gestão como ERP, CRM e de experiência do cliente ou uma infraestrutura de banco de dados - os dois braços de atuação que nutriram os negócios da companhia ao longo das últimas décadas.
“O rejuvenescimento da marca é o meu principal desafio”, disse o executivo
A guinada para uma base de clientes com estrutura mais tecnológica nos últimos anos passa pela adoção da nuvem e o desenvolvimento de aplicações nativas e parceiras com outras gigantes, com a Azure, da Microsoft, e a AWS, da Amazon, para dar mais densidade e fluidez de trânsito aos serviços aos clientes.

“Nós não tínhamos uma oferta para essas empresas de tecnologia. Eu chegava ao iFood e oferecia o banco de dados. Ou seja, não tinha uma oferta que casasse com a realidade deles. Ou chegava à Totvs, que me via como um concorrente. Quando migramos as nossas soluções para nuvem, entrando no jogo de infraestrutura, começamos a ter uma oferta em que não tínhamos um trabalho efetivo”, disse Vieira.
A identificação das oportunidades no Brasil começou no atendimento a pequenas e médias empresas, núcleo que Vieira comandava antes de assumir o novo “chapéu”. “Percebemos que havia um negócio diferente, que não dava para tratar como clientes pequenos. Eram empresas de alto crescimento e que precisavam de maior atenção e celeridade”, contou sobre a área iniciada há três anos.
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Na estrutura comandada pelo executivo, a Oracle atua com duas verticais. A primeira é mais consultiva e procura ajudar grandes empresas na criação de novas divisões de negócios ou na implementação de IA para a aceleração das atividades.
A segunda foca na aproximação com o universo das startups, em busca de negócios que estão nascendo e que têm potencial de crescer nos próximos anos.
Recentemente, a Oracle anunciou a criação de uma área chamada de Innovation Ecosystem Development, comandada por Renata Zanuto, ex-Cubo, hub de inovação criado pelo Itaú.
O plano é acelerar a relação com startups e trazê-las para a companhia no início das suas jornadas, o que diminui potenciais fricções ou a necessidade de migração de sistemas.
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A companhia fechou ainda acordos com hubs de inovação, como o próprio Cubo e a plataforma Distrito. O interesse central está em startups que atuam com SaaS B2B. “São negócios que têm complementariedade grande com as nossas soluções. Podemos ter um resultado mais efetivo”, disse Vieira.
Dentro de casa, a tech mantém o Oracle for Growth, programa em que financia a operação de startups, oferecendo engenheiros para desenvolvimento, tecnologias, mentorias e conexão com negócios que são clientes da própria companhia.
“Hoje, nós temos uma prospecção ativa, até mesmo esse posicionamento para o mercado que começamos com mais força agora. Queremos criar esse awareness para que a demanda acabe vindo de uma maneira mais orgânica”, disse o executivo.
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