Turbi reforça aposta na venda de seminovos e prevê salto com crédito próprio

Startup de compartilhamento de carros por hora fechou o segundo trimestre com R$ 82 milhões em receitas. Pouco mais de um terço vem de seminovos e o plano é dobrar esse peso, contam os executivos Artur Oliveira e Mario Liao à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — A Turbi, startup de mobilidade que opera com a proposta de transformar a experiência de locação de automóveis, acelera a frente de venda de seminovos, com aberturas de lojas e o projeto piloto de uma linha de financiamento.

Após alcançar o breakeven no início do ano e expandir sua frota para cerca de 6.000 veículos, a companhia quer fechar 2025 com 10.000 carros, reforçando a estratégia de usar a venda direta ao consumidor como motor de receita e rentabilidade.

A autotech atua no mercado paulista, em cidades como São Paulo, Guarulhos, Osasco e na região do ABC.

Com 300 estacionamentos, que funcionam 24h por dia, a startup, criada em 2017, opera no modelo de carsharing, que permite ao usuário alugar o automóvel por horas - em contraposição às tradicionais diárias - e de forma digital.

A vertical de seminovos nasceu no ano passado e já responde por mais de 30% do negócio. Ao abrir lojas físicas, a Turbi quer se aproximar dos consumidores finais, permitir o contato com os veículos e mudar a dinâmica das vendas, em que 70% dos veículos são negociados no B2B.

“Nós queremos inverter a atual proporção: que 70% dos carros sejam vendidos para o consumidor final ainda neste ano”, afirmou Artur Oliveira, diretor comercial da Turbi, à Bloomberg Línea.

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“Nós não conseguíamos vender mais por uma questão de capacidade operacional da própria loja”, disse o executivo, que antes trabalhou na Kavak, startup mexicana que é uma das mais valiosas da América Latina com foco na revenda de carros usados.

Até o fim do ano, a rede contará com quatro unidades, nos bairros da Vila Olímpia, aberta no ano passado, e da Vila Guilherme e do Tatuapé, recém-inauguradas, além de uma em São Caetano, no ABC paulista, prevista para os próximos meses.

Em 2024, no primeiro ano de operação dessa frente de negócios, a startup teve mais de 1.300 carros vendidos; e, no primeiro semestre de 2025, realizou cerca de 900 vendas.

Na receita líquida do segundo trimestre, que chegou a R$ 82 milhões, a divisão entrou com R$ 29,3 milhões - ou cerca de 36% do total.

No curto prazo, a Turbi aposta que a vertical representará cerca de 50% do negócio, mesmo patamar de concorrentes como Movida e Localiza.

O apelo para o crescimento da linha de negócios B2C está no produto que a startup tem colocado no mercado, de acordo com Mario Liao, CFO da Turbi e ex-executivo da Gol, companhia na qual ficou por quase 20 anos.

A Turbi compra veículos de categorias intermediárias e premium, não atende motoristas de aplicativos e “desmobiliza” os carros com cerca de 25.000 a 30.000 km — metade da quilometragem média rodada por concorrentes.

“É um produto que conversa diretamente com o consumidor final, mais parecido com a experiência de concessionária do que com a de locadora”, disse.

Os números explicam a aposta: enquanto as vendas no atacado (B2B) rendem valores entre 80% e 85% do valor de tabela Fipe, no varejo (B2C), o índice passa de 90%, próximo ao de plataformas digitais como a própria Kavak.

Com mais lojas físicas, a Turbi espera capturar esse “prêmio”. Hoje, 60% dos clientes que visitam uma de suas unidades fecham a compra no mesmo dia.

O investimento na vertical está sendo acompanhado pela criação de uma linha de financiamento, ainda em fase piloto e projetada para os últimos meses do ano. O produto está sendo estruturado com a ajuda de parceiros para definir as “réguas” de análise de crédito.

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“Hoje, perdemos muitas vendas porque o cliente depende do financiamento bancário, que cobra taxas de juros muito altas. Como conhecemos a vida do carro desde o zero, acreditamos que conseguimos oferecer crédito muito mais competitivo se tivermos um produto [financeiro] veicular próprio”, disse Liao.

A oportunidade que se abre, em sua avaliação, é elevar o percentual de vendas financiadas para um patamar de 50%, versus os 30% atuais. O preço médio dos veículos negociados pela Turbi está na faixa de R$ 100 mil.

A expansão da frente de seminovos anda em paralelo ao crescimento do negócio de carsharing, que segue como core da companhia.

A frota dobrou em 12 meses, com veículos espalhados em mais de 200 pontos de retirada em São Paulo. No segundo trimestre, a área fechou com R$ 52,7 milhões em receita, alta de 35% sobre igual período do ano passado.

“Com menos escala, já entregamos margens operacionais próximas às dos líderes do setor, que têm frotas dezenas de vezes maiores”, disse Liao. A margem Ebitda recorrente ficou em 57,9%, com avanço de 39,4 pontos percentuais.

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