Bloomberg Línea — Os investimentos em startups latino-americanas encerraram o terceiro trimestre somando US$ 2,6 bilhões, alta de 65% em relação ao mesmo período de 2024. O mercado brasileiro respondeu por 48% - ou US$ 1,2 bilhão.
Em número de rodadas, a alta foi menor, 19% na comparação anual de trimestre contra trimestre, o que mostra o apetite por negócios em estágios mais avançados.
Os números, levantados pelo SlingHub, plataforma de dados sobre as startups na região, consolidam também a tendência de aportes em negócios de IA. No período, houve alta de 99% em relação ao terceiro trimestre de 2024 nos investimentos desse segmento. Em volume, o crescimento foi de 62%.
Startups de “IA-first”, negócios que dependem de IA para existir como a brasileira Juvo, receberam US$ 294 milhões - 72% do total captados por startups nesta categoria. E os negócios “AI-enabled”, que usam a tecnologia para aprimorar produtos e serviços, US$ 112 milhões, 28% dos recursos.
Aproveitando o momento, a mexicana Kapital, que usa IA para a gestão financeira das PMEs, captou US$ 87 milhões, em rodada Série C com valuation de US$ 1,3 bilhão. A fintech é a segunda a alcançar o startup de unicórnio na América Latina em 2025. A primeira foi a também mexicana e fintech Plata, no começo do ano.
Veja as principais rodadas da semana:
Pagaleve
A Pagaleve, fintech especializada em parcelamento via Pix, captou R$ 160 milhões em rodada que combina equity e recursos no FIDC da companhia. A transação avaliou a fintech em cerca de R$ 1 bilhão.
A operação foi liderada pela OIF Ventures, com co-liderança da Sun Hung Kai & Co — um dos maiores fundos de investimento da Ásia — e contou ainda com a participação de Credit Saison e Endeavor Catalyst, além de investidores atuais, como Salesforce Ventures, BB Ventures e Founder Collective.
Criada em 2021 por Henrique Weaver e Michael Greer, a Pagaleve opera no modelo BNPL (Buy Now, Pay Later), oferecendo parcelamentos via Pix. O novo capital será usado para acelerar a inovação e o desenvolvimento de produtos que ampliem o alcance do BNPL no país.
A startup diz ter mais de 10.000 varejistas parceiros — como AliExpress, Temu e Vivara— e mais de 5 milhões de consumidores. Nos últimos 12 meses, o volume processado (TPV) atingiu R$ 3 bilhões, quatro vezes mais que no ano anterior, segundo a empresa. A expectativa é alcançar R$ 500 milhões de receita anualizada até 2026.
Telepatia AI
A healthtech Telepatia AI, incubada na Universidade de Stanford, nos EUA, recebeu US$ 9 milhões - o equivalente a R$ 50 milhões - em rodada Seed liderada pela A-Star, com participação de Canary, Picus Capital, Abstract VC e SV Angel.
A startup chega ao Brasil com a missão de aliviar a sobrecarga de médicos e apoiar diagnósticos clínicos por meio de inteligência artificial.
Fundada por Nicolás Abad e pelo médico Tomás Giraldo, a Telepatia desenvolveu um “AI Doctor” que atua como copiloto em consultas, transcrevendo conversas, preenchendo prontuários e sugerindo protocolos clínicos personalizados.
A solução já é usada por hospitais da Colômbia, da Argentina, do México e da Espanha. Até 2026, a meta é alcançar 20.000 médicos brasileiros e, até 2030, estar presente em todo o país.
A plataforma utiliza modelos de linguagem treinados em três bases — estudos científicos, diretrizes nacionais de saúde e protocolos institucionais —, o que permite adaptar a IA às realidades locais. A expansão no Brasil deve priorizar parcerias com hospitais, operadoras verticalizadas e o SUS.
Akua
Criada com a proposta de modernizar a infraestrutura de pagamentos digitais na América Latina com o uso de inteligência artificial, a paytech Akua levantou US$ 8,5 milhões em uma rodada Seed, co-liderado por Flourish Ventures e Cathay Latam. Atlântico, Honey Island 4UM, Krealo (da Credicorp) e Simma Capital também participaram.
Fundada por Carlos Marín (Colômbia), Juan José Behrend (Uruguai) e Rodrigo Rodrigues (Brasil), a Akua desenvolveu uma plataforma de “Adquirência como Serviço” (AaaS), com certificações homologadas pela Visa e Mastercard e capacidade para processar até 50 milhões de transações diárias.
A startup opera na Colômbia e no Uruguai e prepara a entrada no Brasil em 2026. Mira ainda México, Argentina, Peru e América Central como novos mercados.
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