Bloomberg Línea — Unicórnio de sistema de gestão (ERP) para PMEs, a paranaense Olist tem introduzido à sua plataforma novas verticais de negócios.
No ano passado, apresentou uma conta digital à sua base de clientes, com mais de 50 mil pequenos e médios lojistas. Em novo movimento, a startup acaba de criar uma divisão de logística, batizada de “Envios da Olist”.
Integrada ao ERP da companhia, a funcionalidade conecta lojistas automaticamente a uma rede com mais de 10 transportadoras e permite comparar preços, gerar etiquetas, acompanhar entregas em tempo real e optar por reenvio ou devolução em caso de falhas — em poucos cliques.
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A nova frente deve absorver mais da metade dos R$ 100 milhões anunciados pela startup em 2024 para desenvolvimento de novos produtos.
A expectativa é que ao menos 15% da base total de clientes adote o “Envios” ainda neste ano e que a divisão se torne uma das três principais em receita nos próximos três anos.
“Nós transacionamos hoje cerca de R$ 60 bilhões na plataforma. Desse valor, em torno de R$ 6 bilhões estão relacionados ao frete, em diferentes operadores e transportadoras”, afirmou Tiago Dalvi, fundador e CEO da Olist, em entrevista à Bloomberg Línea.
“É muita coisa e só daí já é possível construir uma companhia multibilionária. Por isso, o nosso foco nessa oferta.”
O CEO disse que a estratégia da startup é ajudar empreendedores na tomada de decisão no momento da escolha do operador logístico, e não substituir outros competidores.
“Dependendo da rota, há operadores que desempenham melhor do que outros. O empreendedor não consegue fazer esse balanço em tempo real, mas nós, sim, com inteligência de dados e capacidade de investir em tecnologia.”
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Criada a partir da observação das dificuldades diárias de PMEs com a logística — fragmentação de fornecedores, tarifas pouco competitivas e falta de coleta —, a vertical começou a operar no início do ano em stealth e está sendo lançada com a promessa de redução de até 50% nos custos de frete.

Para oferecer o serviço, a startup criou uma espécie de agregador para comparação dos serviços de diferentes players, com informações sobre preços de frete e prazos de entrega. Em paralelo, desenvolveu tecnologia própria para roteirização, cálculo de prazos e preços, monitoramento e gestão dos envios.
“É como se fosse um marketplace de transportadoras acoplado ao ERP. O cliente escolhe por preço ou prazo, com acesso a contratos que sozinho ele jamais conseguiria”, disse Glória Bolani Porteiro, head da Envios da Olist.
A companhia também dispõe de 12 hubs de cross-docking e de uma rede de motoristas parceiros para o first mile (coleta) e para o last mile (entrega), com cobertura inicial em todas as capitais do Sudeste e do Sul, com exceção de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
O serviço atende lojistas de 162 cidades e tem o objetivo de chegar a 500 mil entregas até dezembro. As entregas são feitas em todo o país.
O período de testes, contou o executivo, validou o modelo de negócios, hoje o que mais cresce entre as verticais da Olist.
“Acertamos a veia ali do empreendedor e é por isso que tem uma aderência tão alta”, afirmou Dalvi.
De acordo com ele, o frete representa, em média, 10% do custo do lojista — mas o impacto de atrasos e cancelamentos pode ser ainda maior.
Breakeven e aquisições no radar
O serviço está disponível, por ora, apenas para quem já usa o ERP da Olist, mas os planos passam por atender também a lojistas fora do ecossistema.
A nova vertical chega em um momento em que a Olist, unicórnio (com valuation acima de US$ 1 bilhão) desde 2021, quando recebeu um aporte de US$ 186 milhões em rodada Série E liderada pelo fundo Wellington Management, prevê chegar ao breakeven no fim do ano.
A startup tem crescido dois dígitos “altos”, segundo o CEO e fundador, que não abre os valores absolutos nem os percentuais.
“Hoje, 100% da alocação de capital está em dois grandes eixos. O primeiro eixo é de ganho de market share e trazer mais clientes - e aqui crescemos em um nível bastante agressivo”, afirmou Dalvi.
“E, a partir do ERP, que é o nosso principal produto, conseguimos avançar para o segundo pilar da estratégia, que é expandir o uso desse cliente em produtos adicionais, como é o caso de Envios e da conta digital”.
Além do crescimento orgânico, a startup também mira novas aquisições, a partir de um caixa de cerca de R$ 500 milhões, preservado desde a última captação.
Desde a fundação em 2015, a Olist comprou a Clickspace e a Pax, em 2020, e a ERP Tiny e a plataforma de e-commerce Vnda, em 2021.
“Nós integramos todas essas, que viraram Olist. E estamos hoje prontos para novas aquisições”, afirmou Dalvi, que trabalha com a perspectiva fechar um novo negócio ainda neste ano.
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