Chile, Argentina e Brasil lideram os investimentos no ecossistema de deep tech na América Latina, ou seja, em startups que implementam tecnologias baseadas em ciência e engenharia de ponta, de acordo com o Deep Tech Radar LATAM 2025, elaborado pela consultoria brasileira Emerge em parceria com o Cubo Itaú.
Esse tipo de tecnologia se concentra, por exemplo, no desenvolvimento de inteligência artificial, biotecnologia, robótica, nanotecnologia e blockchain, aplicáveis a setores como agricultura, saúde e observação espacial.
O Chile atraiu US$ 607 milhões em investimentos no setor deep tech, 87% dos quais estão concentrados em três empresas: NotCo (US$ 466 milhões), PhageLab (US$ 41 milhões) e Botanical Solution (US$ 23,3 milhões).
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A NotCo usa inteligência artificial (IA) para criar alimentos populares, 100% à base de plantas, incluindo leite, sorvete e hambúrguer.
A PhageLab se concentra em soluções para controlar surtos bacterianos nos setores de gado e aves, enquanto a Botanical Solutions se concentra no desenvolvimento de produtos botânicos sustentáveis.
A Argentina levantou US$ 486 milhões em capital para as deep techs dos quais 66% foram para a Satellogic (US$ 287 milhões) e a Skyloom (US$ 33 milhões), empresas especializadas em satélites e comunicação óptica por satélite, respectivamente.
Embora o Brasil seja o país latino com o maior número de deep techs, com 952 de 1.316, ele atraiu apenas US$ 216,2 milhões em investimentos.
O motivo: os fluxos de capital tendem a se concentrar em alguns casos de destaque.
“Enquanto o Brasil tem um mercado doméstico relevante para absorver inovações, países como Chile e Argentina, com foco internacional desde o início, atraem investidores globais com mais facilidade, e se consolidam como hubs de deep techs na região”, segundo o relatório.
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Os outros países que levantaram o maior volume de capital na região foram: México, Colômbia, Uruguai, Costa Rica e Peru.
País | Investimento em startups deep techs |
---|---|
Chile | US$ 607 milhões |
Argentina | US$ 486 milhões |
Brasil | US$216,2 milhões |
México | US$128,8 milhões |
Colômbia | US$ 74,2 milhões |
Uruguai | US$ 10,8 milhões |
Costa Rica | US$ 4,2 milhões |
Peru | US$ 0,1 milhão |
Embora, como um todo, o ecossistema deep tech da América Latina tenha registrado investimentos de US$ 1,5 bilhão em 2025 e esteja projetada para crescer para US$ 3,4 bilhões até 2032, ela tem muito a explorar em comparação com o resto do mundo.
O investimento atual dos EUA em tecnologias profundas é de US$ 32 bilhões, da Europa é de US$ 18 bilhões e da China é de US$ 12,4 bilhões.
A regulamentação é fundamental no setor de tecnologia profunda
O fato de o Brasil ser o país latino-americano com o maior número de deep techs, 72,3% da região, está relacionado ao seu progresso em termos de regulamentação para esse setor.
“Isso é destacado por leis específicas, como a Lei do Bem (2005) e o Marco Legal da Inovação (2006), que estimulam a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) das empresas, com incentivos fiscais diretos e maior acesso a recursos públicos”, segundo o relatório.
A Argentina é o segundo país com o maior número de deep techs com 145 (representam 11% da região), e o Chile é o terceiro, com 72 (5,5% da região).
O relatório reconhece a Lei 27.430 (2017) da Argentina, “que amplia os incentivos fiscais e os mecanismos de financiamento, priorizando a inovação produtiva e comercial”.
Enquanto isso, o relatório destaca que o Chile “tem uma das estruturas legais mais avançadas da região, com um crédito fiscal para empresas que investem em P&D, recuperando parte do investimento privado em inovação e aumentando a atratividade do país”.
O volume total de startups de tecnologia profunda da América Latina por país de origem está distribuído da seguinte forma:
País | Número de técnicos profundos |
---|---|
Brasil | 952 |
Argentina | 145 |
Chile | 72 |
México | 53 |
Colômbia | 44 |
Uruguai | 21 |
Peru | 8 |
Costa Rica | 7 |
Panamá | 6 |
Equador | 5 |
Porto Rico | 2 |
El Salvador | 1 |
Total | 1.316 |
Apesar do progresso na regulamentação que favorece a P&D empresarial, é necessário aumentar o investimento nesse campo e no treinamento de cientistas e pesquisadores para alcançar outras regiões.
Enquanto a América do Norte tem um nível de gastos em P&D de 3,4% do PIB e a Europa de 2%, na América Latina esse nível não ultrapassa 1% há mais de 20 anos.
A tendência é a mesma em termos de talento: para cada 3,4 pesquisadores em tempo integral na América do Norte e 2,0 na Europa, há 0,6 na América Latina.
“Essa lacuna no investimento e no capital humano limita a capacidade da região de gerar inovações de ponta e competir globalmente em setores estratégicos, como o de tecnologia profunda”, diz o relatório.
As deep techs da Latam apostam no agronegócio e na saúde
37% das deep techs da América Latina estão concentradas em saúde e bem-estar, enquanto 28% estão em agronegócios e alimentos. O terceiro lugar é ocupado pela indústria e manufatura (17%).
“Esse cenário reflete vantagens comparativas estruturais, como a liderança global no agronegócio e a crescente demanda na saúde pública”, diz o relatório.
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Em seguida, vêm energia e clima (7%), um número menor considerando o potencial da região como um centro de transição energética global, de acordo com a Emerge, e mobilidade e logística (2%), que são setores subdesenvolvidos.
“Defesa, espaço e observação juntos não excedem 5%, em um contexto em que a dimensão geopolítica está se tornando cada vez mais importante”, acrescenta o relatório.
A IA, por sua vez, está se expandindo em diferentes setores: em 97 das 484 deep techs em saúde e bem-estar; em 68 das 371 em agroalimentação e alimentos; e em 42 das 226 em indústria e manufatura.
Os setores nos quais as maiores deep techs estão localizadas, por país, são
Argentina: 43% dessas startups estão no setor de bem-estar e saúde; 30% em agronegócios e alimentos.
Brasil: bem-estar e saúde ficaram em primeiro lugar (38%), seguidos por agroalimentar (28%).
Chile: 38% de suas deep techs se concentram em agro e alimentos, enquanto 36% em saúde e bem-estar.
Colômbia: um equilíbrio entre agricultura e alimentos (27%) e saúde e bem-estar (27%). O terceiro lugar fica com a manufatura (16%).
México: 42% das deep techs operam na área de saúde e bem-estar, enquanto 19% estão na área de agro e alimentos.
Uruguai: 62% das deep techs estão concentradas em saúde e bem-estar, seguidas por 29% em agro e alimentos.
Peru e Costa Rica: com 63% e 43%, respectivamente, concentrados em agricultura e alimentação, reforçam suas vocações agrícolas.