Vulcabras tem trimestre de recordes e mira retomada na Argentina, diz CEO

Ebitda e margem bruta são recordes de julho a setembro e receita líquida pode bater marca de R$ 3 bilhões em 2024; em entrevista à Bloomberg Línea, Pedro Bartelle explica o resultado

Unidade da Vulcabras
Por Marcos Bonfim
05 de Novembro, 2024 | 06:57 PM

Bloomberg Línea — A Vulcabras manteve o pace de crescimento dos últimos trimestres e chegou a R$ 784,6 milhões em receitas líquidas no terceiro trimestre, com crescimento 7,3% na base anual.

Os números colocam a companhia mais próxima de quebrar a barreira dos R$ 3 bilhões no ano completo. No ano passado, o valor ficou em R$ 2,82 bilhões.

PUBLICIDADE

O lucro líquido do trimestre fechou em R$ 172,2 milhões, com alta 35% na comparação anual. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, a expansão ficou em 23,3%.

O resultado veio acima do consenso de analistas consultados pela Bloomberg, cuja estimativa era de R$ 772,3 milhões, e representa o 17º trimestre consecutivo de crescimento da companhia, dona da Olympikus e das licenças de operação da japonesa Mizuno e da americana Under Armour.

“Esse trimestre foi o de maior Ebitda da nossa história. A Vulcabras vem performando muito bem em um mercado instável, em que não há pujança de consumo”, afirmou Pedro Bartelle, CEO da companhia, em entrevista à Bloomberg Línea.

PUBLICIDADE

A operação fechou os três meses com Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, que expressam uma métrica de geração de caixa operacional) de R$ 196,7 milhões, avanço de 11% em relação ao terceiro trimestre de 2023 - e R$ 17 milhões a mais do que o consenso.

A margem Ebitda subiu para 25,1%, alta de 0,9 ponto percentual na mesma base.

“O modelo de negócio vem sustentando, também de forma resiliente, boa rentabilidade e margem bruta, que também foi a maior registrada na série histórica”, disse Vagner Dantas, CFO da Vulcabras (VULC3).

PUBLICIDADE

Leia mais: Na indústria do bem-estar, provas para amadores revelam um negócio bilionário

A empresa terminou o período com caixa líquido de R$ 117 milhões e um ROIC, indicador que mede o retorno sobre o capital investido, de 29,9%.

Os números são reflexo de uma série de ações que a Vulcabras tem colocado em prática, o que inclui ações direcionadas com recorrência na corrida de rua. Com a Olympikus, a empresa apresentou a nova edição da linha “Corre”, hoje encabeçada pelo Corre Supra, um tênis com placa de carbono lançado no começo do ano para competir com gigantes do mercado esportivo internacional.

PUBLICIDADE

Diversificação das estratégias

Na Mizuno, marca que dobrou de tamanho nos últimos dois anos, a diversificação começa a dar a tônica do negócio.

Depois de avançar no mundo de corridas de rua, a Vulcabras procura reposicionar a marca japonesa no futebol, com o lançamento da chuteira Morelia, um clássico na modalidade, e começa a entregar aos varejistas a primeira produção inteiramente nacional, a Mizuno Regent.

“A Morelia era um produto um pouco mais técnico, que foi com o qual começamos e que já se consolida no mercado - já temos boas vendas. Isso nos deu credibilidade para começar a fazer coisas que a Vulcabras busca entregar, que é criar produtos”, afirmou Bartelle.

Em outra frente, a companhia investe para explorar um lado mais urbano e cultural, com peças retrôs que remetem à origem japonesa da marca. A estratégia é colocar os produtos em contato com um público ligado à moda e à cultura sneaker e ocupar novos espaços, com peças de vestuários.

“Isso não é uma atuação apenas para a Mizuno. A Vulcabras identifica nessa categoria de moda, seja ela esportiva, futurista ou retrô, um braço muito importante. Há um caminho grande para explorar”, disse Bartelle.

Leia mais: Após ganhar mercado no país, Vulcabras avança com Olympikus na Europa, diz CEO

“Em todas as marcas, nós estamos criando coleções brasileiras de moda que nós já começamos a introduzir no mercado.”

O movimento está em linha com o adotado por outros players globais, como Adidas e New Balance, que criaram fortalezas combinando calçados e peças de vestuário.

No caso da Vulcabras, a iniciativa pode contribuir para diversificar a receita, hoje ainda muito concentrada nos pares de tênis, com 85% do resultado.

Nesse contexto, a companhia mantém no radar a ideia da abertura de lojas da Under Armour - atualmente, a americana conta com 15 unidades apenas no modelo outlet.

A marca americana, reconhecida no basquete e para treinos em geral, triplicou o faturamento sob o guarda-chuva da Vulcabras e começa a apostar em esportes outdoor. No exterior, a empresa tem as peças de vestuário como um dos pilares de crescimento, o que a Vulcabras pretende replicar.

Vendas digitais cresceram 50%

Outra parte da estratégia de crescimento com peças de vestuário está no e-commerce, canal que cresceu 50,2% no trimestre e chegou a 14,7% de participação da receita líquida da companhia.

Esse número representa um aumento de 4,2 pontos percentuais. Do valor total da receita líquida, R$ 115,5 milhões foram originados da plataforma.

“Tanto o e-commerce quanto as lojas são complementares ao nosso negócio e, principalmente, funcionam para que a empresa consiga expor e vender mais roupas e acessórios”, afirmou Bartelle.

O efeito Milei

O CEO da Vulcabras também está de olho nos movimentos da Argentina, outrora o maior mercado da empresa fora do Brasil. No começo dos anos 2000, o Bartelle foi o responsável por estruturar a operação no país vizinho, onde morou por quatro anos.

“Eu tenho falado muito com o nosso distribuidor e com alguns clientes, e realmente o que falta lá não é consumo, apesar de ter caído muito. O que faltam são condições de segurança jurídica-financeira para os negócios. E nós estamos vendo que o governo tem trabalhado para ajudar que os negócios voltem a funcionar”, disse.

O retorno ao país, segundo Bartelle, será importante para acelerar os passos que a companhia começa a dar no mercado externo. Recentemente, a empresa anunciou a entrada de tênis da Olympikus na Espanha, em um primeiro movimento para a entrada na Europa.

Atualmente, apenas 5% da receita vem de exportações, percentual que já chegou a 15% em outras épocas.

“Naturalmente, nós não fazemos orçamentos que se prendam a uma exportação para a Argentina, mas estamos muito atentos para moldar o nosso negócio para aproveitar esse crescimento, que, se vier, será bem grande e bem importante para nós.”

Leia mais

No plano do novo CEO da Nike, mudanças começam com marketing esportivo

A nova jogada de Tom Brady é ser proprietário minoritário do Las Vegas Raiders

Smart Fit adquire Velocity por R$ 183 milhões e inclui spinning em portfólio

Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark