Bloomberg — Responsável pelas recomendações de alocação que balizam o que os assessores oferecem à toda a carteira de mais de 4 milhões de clientes da XP, o CIO Artur Wichmann está conservador.
Para ele, a tarifa de Donald Trump nubla ao menos pelos próximos seis meses o cenário para os ativos e dificulta o cálculo do prêmio de risco para a bolsa e os investimentos prefixados.
Num cenário em que a taxa de referência do mercado, o CDI, gira em torno dos 15% e garante retornos robustos, o CIO diz que o “prudente” é estar em ativos como pós-fixados e renda fixa vinculada à inflação.
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“Ativos de ganho de capital implicam uma aposta futura sobre em que direção vai o prêmio de risco. E o tarifaço tornou essa conta muito difícil para os próximos seis meses”, afirma em entrevista para a Bloomberg News.
Segundo ele, o maior risco das tarifas está nos impactos indiretos, sobretudo no apetite do investidor estrangeiro, uma vez que o efeito no Produto Interno Bruto do país é limitado por se tratar de uma economia fechada.
Wichmann vê o fluxo para ativos brasileiros em modo de cautela, com o investidor “avaliando qual o jogo final” no embate entre os EUA e o Brasil, sobretudo no caso de uma escalada da tensão atual.
“Se ficar circunscrito à tarifa de 50%, é vida que segue”, diz. “Se não existe restrição maior e nenhuma perspectiva dessa crise se exacerbar, o investidor estrangeiro coloca isso na conta, refaz o valor justo de uma empresa de commodities, a renda fixa vai continuar atraente.”
Hipótese da tensão escalar
Caso o governo brasileiro retalie e o embate comece a escalar, a torneira do investimento que se abriu para o Brasil no primeiro semestre deste ano com uma rotação para fora dos EUA pode fechar, com impactos mais relevantes sobretudo para o câmbio.
Nesse caso, “a narrativa fica mais difícil” ao Banco Central para cortar juro adiante, como o esperado.
Na ótica eleitoral doméstica, Wichmann considera “muito precipitado” tomar qualquer decisão de portfólio com base em perspectivas do resultado da eleição de 2026 e afirma que qualquer pesquisa antes de 12 meses tem baixo poder preditivo.
Para ele, o mercado chegou a avaliar que o governo atual tinha uma candidatura menos competitiva em algum momento, o que foi revertido recentemente com as pesquisas mostrando uma retomada na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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