Bloomberg Línea — A Multiplan (MULT3) concentra seus investimentos em shoppings já estabelecidos do portfólio, priorizando ativos com histórico de alta performance em vez de buscar aquisições em novos mercados.
A estratégia reflete o entendimento de que empreendimentos bem localizados e com tráfego consolidado oferecem melhor retorno com menor risco, mesmo décadas após a inauguração.
“Fazemos essa conta e vemos que é a melhor oportunidade de alocação de capital. Quando você olha outras aquisições no mercado, os retornos são menores”, disse Armando d’Almeida Neto, Vice-Presidente Financeiro e de Relações com Investidores da Multiplan, em entrevista à Bloomberg Línea.
O CFO destacou a visão de que shoppings dominantes mantêm relevância ao longo das décadas, independentemente da idade dos empreendimentos.
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Entre os projetos em curso estão expansões no BarraShopping, no Rio de Janeiro, e no BH Shopping, em Belo Horizonte, inaugurados respectivamente em 1981 e 1979.
O BarraShopping receberá mais 4.000 metros quadrados divididos em duas fases, sendo a primeira de 2.000 metros quadrados em área já locada.
Além desses casos, a Multiplan mantém em andamento a sexta expansão do MorumbiShopping, em São Paulo, com investimento de R$ 233 milhões e inauguração prevista para o primeiro semestre de 2026.
“Quando você tem um shopping que vende, crescer é muito fácil. Expandir, subir, ampliar de um lado para o outro, porque é um shopping que tem um tráfego muito grande”, afirmou d’Almeida Neto.
O executivo ressaltou que a companhia prefere aguardar o momento que julga mais adequado para lançar novas áreas. “Você não quer trazer ‘um monte’ de loja nova só para dizer que cresceu. O nosso negócio é a rentabilidade”, justificou.
Lucro acima das expectativas
O foco na rentabilidade se refletiu nos números do terceiro trimestre, divulgados na noite de quinta-feira (30).
O lucro líquido da Multiplan atingiu R$ 221,1 milhões, superando a estimativa média dos analistas consultados pela Bloomberg, de R$ 215,7 milhões.
Apesar de representar uma queda de 21% em relação ao mesmo período do ano anterior, o resultado marcou a terceira vez consecutiva que a companhia superou as projeções do mercado.
A redução no lucro refletiu principalmente o aumento das despesas financeiras após a recompra de R$ 2 bilhões em ações do fundo de pensão canadense OTPP, o que elevou o custo da dívida.
A recompra de ações elevou a alavancagem de 1,4 vez para aproximadamente 2,7 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda (geração de caixa).
“O desempenho financeiro era esperado. Para quem acompanha a companhia, sabia que este era um ano de resultados mais baixos por causa da alavancagem”, afirmou d’Almeida Neto, que completou: “Não nos incomoda em nada ter uma alavancagem desse nível”.
O lucro por ação cresceu de R$ 1,03 para R$ 1,12 devido ao efeito da recompra, que reduziu o número de papéis em circulação.
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Enquanto o resultado financeiro pesou no lucro final, a operação dos shoppings apresentou indicadores considerados robustos. A taxa de ocupação atingiu 96,3%, próxima ao pico histórico.
Um indicador incomum que se repetiu pelo terceiro trimestre consecutivo foi a inadimplência líquida negativa, fenômeno em que os recebimentos de atrasos antigos superam a inadimplência corrente.
“O ambiente do varejo é bom no shopping, o lojista está vendendo. Se o lojista vende, ele não quer sair daquele ponto. Portanto, ele não quer que uma dívida antiga possa fazer com que ele perca aquela loja”, explicou o executivo.
Valorização das ações
As ações, que foram recompradas a R$ 22,21, valorizaram-se 37%, atingindo R$ 27,80. “Sem sombra de dúvida valeu a pena”, afirmou d’Almeida Neto.
“É um benefício do acionista, porque quando a Multiplan recompra e cancela a ação, o acionista passa a ter um poder econômico e político maior dentro da companhia.”
O executivo apontou que a companhia pode usar o fluxo de caixa operacional para pagar dívidas em prazo menor ou recorrer à venda de participações minoritárias, estratégia já adotada com o Jundiaí Shopping.
No terceiro trimestre, a Multiplan realizou uma emissão de R$ 500 milhões com prazo de 10 anos a 98% do CDI, ampliando o prazo médio da dívida com custo abaixo do patamar anterior.
“Normalmente se você vai buscar uma extensão de prazo de dívida, paga mais caro por isso. Foi ao contrário nesse caso”, destacou d’Almeida Neto.
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