Sanofi adquire fabricante de vacinas nos EUA para ampliar portfólio de imunizantes

Farmacêutica francesa pagará cerca de US$ 2,2 bilhões pela Dynavax, que produz uma vacina contra hepatite B já comercializada nos Estados Unidos, além de uma vacina experimental contra herpes-zóster

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Bloomberg — A Sanofi concordou em comprar a Dynavax Technologies por cerca de US$ 2,2 bilhões, em um movimento para expandir seu negócio de vacinas, hoje ancorado principalmente na franquia de imunização contra a gripe.

A farmacêutica francesa pagará US$ 15,50 por ação, em dinheiro, pela Dynavax — um prêmio de 39% sobre o preço de fechamento de terça-feira (23) dos papéis da empresa, sediada em Emeryville, na Califórnia.

O comunicado foi divulgado na quarta-feira (24), minutos depois de a Sanofi informar que a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, rejeitou de forma inesperada seu medicamento experimental contra esclerose múltipla, o tolebrutinib.

As ações da Sanofi chegaram a cair até 1,5% em Paris antes de reduzir as perdas. Até o fechamento de terça-feira, os papéis acumulavam queda de cerca de 12% no ano.

Já as ações da Dynavax dispararam quase 38% no pré-mercado em Nova York, após uma baixa de 13% no acumulado de 2025 até então.

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O CEO da Sanofi, Paul Hudson, vem investindo pesadamente em pesquisa e desenvolvimento e em aquisições complementares, na busca por novas fontes de receita que substituam o Dupixent, medicamento mais vendido da companhia e que se aproxima do fim da proteção de patentes.

O acordo com a Dynavax garante à Sanofi uma vacina contra hepatite B já comercializada nos Estados Unidos, além de uma vacina experimental contra herpes-zóster que se encontra nas fases iniciais de testes em humanos.

Segundo a empresa, a operação reforça sua presença em imunização de adultos.

O portfólio de vacinas e imunizações da Sanofi abrange gripe, vírus sincicial respiratório, meningite, coqueluche, entre outras.

Vacinas contra herpes-zóster têm se mostrado um importante impulsionador de receitas para a concorrente GSK. Estudos também associaram a aplicação do imunizante a uma redução no risco de demência.

Ainda assim, a Sanofi fechou o negócio apesar das dificuldades no mercado global de vacinação.

As vendas de vacinas contra a gripe caíram no último trimestre, em meio a maior concorrência de preços na Europa e a taxas mais baixas de vacinação nos Estados Unidos, onde o secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., tem promovido mudanças em diretrizes históricas sobre vacinas — embora muitas delas estejam concentradas em imunizações infantis.

O diretor financeiro (CFO) da Sanofi, François-Xavier Roger, afirmou na divulgação mais recente de resultados que as taxas de vacinação vêm caindo globalmente.

“Isso provavelmente está ligado a uma espécie de fadiga pós-Covid em relação às vacinas. Pode haver também um sentimento um pouco negativo sobre vacinas em geral”, disse.

O pipeline de vacinas experimentais da Dynavax inclui ainda um imunizante contra a doença de Lyme e outro contra a peste. A empresa foi criada nos anos 1990, sob outro nome, e abriu capital em 2004.

Rejeição de medicamento

Enquanto isso, a rejeição do tolebrutinib pela FDA representa um golpe relevante para um fármaco que a Bloomberg Intelligence estimava ter potencial de alcançar US$ 1,7 bilhão em vendas anuais no pico.

A Sanofi já havia enfrentado obstáculos no desenvolvimento do medicamento, com estudos apontando risco de lesão hepática.

A companhia busca fontes alternativas de receita para substituir o Dupixent, seu remédio mais vendido, que se aproxima do chamado “penhasco de patentes”.

Com Hudson investindo de forma tão intensa em P&D, o revés com o tolebrutinib deve levantar questionamentos sobre a credibilidade da gestão, escreveu o analista Michael Leuchten, do Jefferies, em relatório.

A decisão da FDA ocorre poucos dias depois de a Sanofi afirmar que a análise regulatória provavelmente seria adiada, com novas orientações da agência esperadas para o início de 2026.

A empresa está “muito decepcionada com a decisão da FDA”, afirmou Houman Ashrafian, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Sanofi, em comunicado, classificando a medida como “uma mudança significativa e relevante em relação ao feedback que a agência havia fornecido anteriormente à Sanofi”.

A esclerose múltipla é uma condição complexa que afeta o cérebro e a medula espinhal, causando sintomas como espasmos musculares, dormência e fadiga.

Existem vários tipos da doença, sendo o mais comum aquele marcado por períodos de piora súbita seguidos de fases de recuperação.

Um desses tipos, chamado de esclerose múltipla secundária progressiva, caracterizado por aumento contínuo da incapacidade, é o alvo do pedido submetido pela Sanofi à FDA.

Atualmente, há poucos tratamentos disponíveis para essa forma da doença. A Sanofi afirmou que segue comprometida em trabalhar com a FDA para encontrar um caminho viável para o medicamento.

“Agora parece cada vez mais improvável que o tolebrutinib chegue ao mercado nos Estados Unidos”, escreveu o analista Richard Vosser, do JPMorgan Chase, em relatório.

Ainda assim, segundo ele, o mercado “já descontou a maior parte do valor do produto”, diante dos reveses anteriores.

-- Com a colaboração de Lisa Pham, Subrat Patnaik e Phil Serafino.

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