Repasse de tarifa e negociação com montadoras: o plano da Movida para elevar margens

O CEO Gustavo Moscatelli afirmou à Bloomberg Línea que o foco da companhia é a recomposição de preços ao consumidor, em paralelo com uma estratégia ‘assertiva’ de renovação da frota

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Bloomberg Línea — Depois de reportar um aumento da ordem de 60% no lucro no primeiro trimestre, a Movida (MOVI3) tem como foco a recomposição de preços ao consumidor, enquanto executa uma nova estratégia de renovação de frota. Isso inclui uma forma diferente de negociar com as montadoras.

De janeiro a março, a locadora de veículos reportou um lucro líquido de R$ 78,5 milhões, aumento de 61,5% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo balanço divulgado na noite desta quarta-feira (7).

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) alcançou R$ 1,33 bilhão no trimestre, alta de 26,3% na mesma base de comparação.

Já a receita líquida do período atingiu R$ 3,56 bilhões, avanço de 18,1% sobre um ano antes.

“O crescimento é decorrente da disciplina e da estratégia da companhia, que tem como base a recomposição de preços dos nossos produtos”, disse o CEO da Movida, Gustavo Moscatelli, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Segundo o executivo, a companhia elevou os preços no segmento conhecido como rent a car (RAC), que abrange diárias eventuais (poucos dias de aluguel) e mensais.

“Aumentamos o preço no RAC em 21% trimestre contra trimestre, o que foi um grande impulsionador do nosso resultado”, disse.

Ele relatou que a diária eventual é um produto com maior elasticidade de demanda atualmente, o que traz mais rentabilidade.

No segmento GTF (gestão de frotas), a tarifa da empresa também cresceu.

De janeiro a março, a receita líquida do segmento atingiu R$ 993 milhões, alta de 37,9% em relação ao mesmo período do ano passado. A representatividade da unidade de negócios na receita total foi de 53%.

“Há dois anos, cerca de 50% do capital investido estava no GTF e 50% no RAC. No nosso planejamento estratégico, nos propusemos a levar o GTF para 60%, porque, além de ser rentável, traz mais previsibilidade e menos volatilidade”, explicou Moscatelli.

Atualmente, a companhia tem 61% do capital investido no GTF.

Renovação da frota

No trimestre, a Movida registrou um tíquete médio de compra de veículos de R$ 80,9 mil no RAC e de R$ 99,9 mil no GTF, altas de 6,7% e 3,5%, respectivamente, em relação a igual intervalo de 2024.

Moscatelli disse que a decisão tomada pela administração há cerca de um ano e meio de reduzir o tíquete médio dos carros foi acertada. De lá para cá, a média de compras da empresa saiu de R$ 95 mil para R$ 78 mil.

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O executivo contou que no final do ano passado a companhia teve o que classificou como boas oportunidades de negócios com as montadoras.

Para o exercício atual, ele afirmou que foi a primeira vez, nos últimos anos, que a Movida negociou com as fabricantes automotivas a compra de “apenas” 40% do volume necessário para o período.

Historicamente, as grandes locadoras costumam negociar contratos de longo prazo com as montadoras, para garantir melhores condições comerciais.

“Geralmente fechamos a compra de 70% a 75% do que precisamos para o ano, mas decidimos fechar um volume menor justamente por causa do ambiente macroeconômico mais desafiador, e também por uma questão de volatilidade dos preços dos carros”, disse Moscatelli . “Não vamos tomar esse risco.”

Ele ressaltou que as negociações feitas em abril com as montadoras foram melhores do que se o contrato fosse para o ano todo.

“Temos feito compras mensais, bimestrais e trimestrais, de acordo com as oportunidades com cada montadora”, disse o executivo.

Ele acrescentou que as condições comerciais estão “tão boas quanto no pré-pandemia”, conforme reportagem da Bloomberg Línea no mês passado.

Para o ano, o CEO disse acreditar que o tamanho da frota da companhia deve ficar estável. “Se crescer, vai ser marginalmente. Junto com isso temos uma estratégia de continuidade da desalavancagem do balanço”, afirmou.

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