‘Rei dos shoppings’ eleva fortuna após recompra. Criação de valor atinge R$ 360 mi

Bilionário José Isaac Peres, fundador e chairman do grupo mais valioso em shoppings do país, a Multiplan, vê lucro por ação crescer 37% em 12 meses após adquirir participação de fundo de pensão canadense

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Bloomberg Línea — O bilionário carioca José Isaac Peres ampliou a fortuna de sua família, estimada hoje em US$ 1,2 bilhão, depois que o lucro por ação da Multiplan (MULT3) avançou 36,9% no período de 12 meses até junho.

Esse desempenho foi impulsionado pela maior recompra de sua história: 90 milhões de ações ao valor total estimado de R$ 2 bilhões, a um preço médio de R$ 22,21 por papel, segundo o balanço do segundo trimestre, recém-divulgado.

“A subsequente valorização do preço das ações gerou R$ 361 milhões em criação de valor real”, destacou a Multiplan em relatório registrado na CVM (Comissão de Valores Mobiliário).

Desde a aprovação da recompra de ações pelo conselho em 24 de junho do ano passado, a ação da Multiplan se valorizou quase 16% até a última sexta (25). No mesmo período, o Ibovespa avançou perto de 9%.

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No primeiro semestre, quando acumulou quase R$ 500 milhões em lucro líquido (R$ 264 milhões no segundo trimestre), a empresa anunciou R$ 230 milhões em juros sobre capital próprio e renovou o programa de recompra de ações para continuar a monitorar e a capturar oportunidades de aumentar o retorno aos acionistas.

Peres — que fundou a Multiplan em 1974 e completou 85 anos de idade no dia 18 de julho — exerceu o direito de preferência ao adquirir, junto com a companhia, a fatia (18,5%) detida pelo fundo de pensão canadense OTPP.

Avaliada em R$ 13 bilhões, o que a coloca como o grupo mais valioso do setor no Brasil, a Multiplan opera 20 shopping centers com 6.000 lojas em seis estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Alagoas), além do Distrito Federal. As “joias da coroa” são o Morumbi Shopping, em São Paulo, e o BarraShopping, no Rio de Janeiro.

Peres, conhecido como “rei dos shoppings”, e sua família são donos de 33,68% da Multiplan — fatia avaliada em R$ 4,4 bilhões. Sozinho, ele possui 5,43%; sua esposa, Maria Helena, 1,44%, e a holding da família, a MPAR, 26,81%.

Essa posição acionária foi informada à B3 no dia 30 de maio. A estrutura societária inclui ainda o governo de Singapura (4,92%), a Autoridade Monetária de Singapura (1,12%) e a gestora carioca Squadra (5,64%), de Guilherme Aché.

As ações da Multiplan acumulam uma valorização acima de 20% em 2025 e de cerca de 5,00% em 12 meses. A administradora de shopping centers já foi apontada como top pick do setor por instituições como Itaú (ITUB4) e BTG Pactual (BPAC11).

Em abril, a revista Forbes apontou Peres e sua família com uma fortuna estimada em US$ 1,1 bilhão na posição 54 na lista dos mais ricos do Brasil.

Na sexta-feira (25), o valor atualizado em tempo real chegava a US$ 1,2 bilhão.

O fundador da Multiplan não aparece no Bloomberg Bilionaires Index, que lista “apenas” as 500 maiores fortunas do planeta.

Melhora contínua

A melhora operacional contínua da Multiplan, reafirmada pelo balanço do segundo trimestre, ocorre cerca de dois anos e meio de Peres ter deixado o cargo de CEO da companhia. Na ocasião, ele transferiu o comando para um dos seus quatro filhos, Eduardo, de 54 anos, em fevereiro de 2023.

O fundador da Multiplan acompanha de perto o dia a dia como chairman e tem a palavra final nas decisões mais estratégicas, segundo relatos ouvidos na sede no Centro Empresarial do BarraShopping, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, onde o “rei dos shopping” começou a erguer seu império em 1974.

Em entrevista à Bloomberg Línea em junho de 2022, Peres descreveu como DNA da Multiplan a alocação de capital em ativos de qualidade, e não em quantidade, em referência ao público-alvo de seus shoppings mais lucrativos, a alta renda.

Como braço direito do principal negócio da família Peres está Armando d’Almeida Neto, que atua como CFO da Multiplan desde 2008, um ano depois que a companhia abriu o capital da B3. Antes, o executivo foi diretor do Santander Investment Securities em Nova York (Grupo Santander) de 2000 até 2005.

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Ao comentar a evolução positiva dos resultados trimestrais, o CFO apontou as iniciativas para atrair lojistas e consumidores, que se traduziram em maior taxa de ocupação (96,1%), menor custo de ocupação (12,6%), baixa inadimplência líquida (0,2%) e reduzido turnover (1,1%) no segundo trimestre.

Nos últimos 12 meses até junho, 18 shoppings passaram por revitalizações, 1.195 eventos foram realizados, houve troca de 39.777 m² de ABL (área bruta locável) e o aplicativo Multi atingiu quase 9 milhões de downloads acumulados.

“Se o lojista vende mais, isso gera receita maior de aluguel e gera mais dados sobre os desejos dos consumidores, o que ajuda a vender mais. É um ciclo virtuoso. Por isso investimos tanto em tecnologia”, disse o CFO à Bloomberg Línea.

Cautela com eleição de 2026

Segundo ele, a principal mensagem do mais recente balanço da Multiplan é que “lapidar” os ativos da companhia continuar a gerar resultados positivos.

Após a inauguração de expansões em novembro, o DiamondMall, em Belo Horizonte, e o ParkShoppingBarigüi, em Curitiba, registraram o maior crescimento de vendas do portfólio, com aumentos de 31,6% e 28,2%, respectivamente.

A receita de locação da Multiplan, incluindo shoppings e torres corporativas, cresceu 8,4% em 12 meses, para R$ 427,5 milhões. Os centros comerciais representaram 96,9% da receita total de locação (R$ 414,1 milhões): nove shoppings apresentaram crescimento de dois dígitos.

Outras fontes de receitas também contribuíram para a performance positiva no período, incluindo estacionamento, vendas de imóveis e serviços, com aumentos de dois e três dígitos na comparação anual.

A margem NOI (Net Operating Income, receita operacional líquida) atingiu o recorde histórico de 95% no acumulado de 12 meses, enquanto a margem Ebitda (geração de caixa) de propriedades subiu 6,36 pontos percentuais, para 84,6%, como reflexo de eficiências operacionais, segundo o balanço.

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Apesar da continuidade de dados positivos a cada trimestre, a Multiplan mantém a cautela com projetos greenfield, de desenvolvimento de novos empreendimentos a partir do zero, como a construção de novos shoppings.

“Não estamos imunes à taxa Selic de 15% ao ano. Vamos esperar passar a eleição presidencial de 2026 para ver o que vai acontecer com a política fiscal, para onde o Brasil está indo. Não adianta construir shopping se não há essa demanda toda por parte dos lojistas”, explicou Almeida Neto.

Concorrente da Multiplan, a Allos (ALOS3), líder do setor em tamanho com 57 shoppings administrados, dos quais 47 próprios, tem mostrado maior apetite ao risco.

Em junho, a companhia confirmou o plano de compra de terreno para desenvolver um novo shopping como parte do complexo do Parque Global, empreendimento de uso misto (residencial e comercial) para a alta renda na região nobre do Morumbi, do “rei de Miami” Jorge Pérez com o grupo Bueno Netto. Em 2021, a Multiplan desistiu de acordo com o grupo para liderar esse projeto.

Um dos pontos de atenção dos analistas é a capacidade das administradoras de shopping de reajustar os valores cobrados de lojistas.

No segundo trimestre, o aluguel no conceito de mesmas lojas (SSR, na sigla em inglês) da Multiplan apresentou um crescimento real (acima da inflação) de 3,5% ano contra ano, mas pode apresentar desafios para se manter nesse ritmo, segundo o analista Felipe Mesquita, do BB Investimentos.

Em relatório enviado a clientes, o analista citou como ponto de atenção a desaceleração do principal indexador dos contratos de aluguéis do portfólio, o índice IGP-DI, que acumula 3,84% nos últimos 12 meses finalizados em junho, inferior aos 5,35% registrados pelo IPCA no mesmo período.

Mesmo assim, o BB Investimentos manteve recomendação de compra para MULT3 e elevou o preço-alvo para R$ 35 (de R$ 31,20) para o final de 2026.

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