Rappi: Os planos do novo CEO para atrair restaurantes após as regras do Cade

Em entrevista à Bloomberg Línea, Felipe Criniti, no comando no Brasil, diz que quer levar o consumidor do ambiente online para lojas físicas, ampliando os benefícios do serviço Prime

Empresa aposta em ampliar benefícios ao consumidor do serviço Prime
02 de Agosto, 2023 | 09:46 AM

Bloomberg Línea — Na batalha pelo consumidor no mercado de entregas de restaurantes e lanchonetes, a Rappi decidiu apostar na integração do mundo digital, que caracteriza o segmento por causa dos pedidos pelo aplicativo, com o físico. Foi o que disse o novo CEO da empresa no Brasil, Felipe Criniti.

“Vamos levar o nosso tráfego de usuários Prime, que é um público fiel e de consumo recorrente, para os restaurantes”, disse Criniti em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo o empreendedor, consumidores terão benefícios como o direito a evitar filas de espera para conseguir uma mesa ou horário estendido em um happy hour promocional, entre outros.

Do lado dos restaurantes, o ganho será um aumento do fluxo de clientes nas lojas físicas. Ele não abriu o tamanho da base atual de clientes que assinam o serviço Prime no Brasil.

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Critini foi nomeado CEO da Rappi no Brasil há duas semanas, em substituição a Tijana Jankovic, que passou a vice-presidente global de negócios da empresa de origem colombiana, com presença em mercados da América Latina.

O empreendedor foi o fundador da Box Delivery, startup de entregas last mile (especializada na entrega no trecho final até a casa do consumidor) fundada em 2016 e adquirida pela Rappi em abril, em negócio que trouxe a Aliansce Sonae (ALSO3), um dos maiores grupos que administram shoppings no Brasil, como acionista minoritário.

Em seis anos de existência, a startup construiu uma estrutura com 150 mil entregadores em 250 cidades do país e faturamento aproximado anual de R$ 200 milhões.

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Critini disse que a integração de tecnologia deve estar concluída até o fim do ano, enquanto as de operação logística já começaram e são mais imediatas.

O serviço Prime citado é justamente uma das apostas do novo CEO no Brasil na disputa com o líder de mercado iFood, em um momento em que a competição está prestes a aumentar com o início, a partir de outubro, da vigência das novas regras fixadas pelo Cade em fevereiro.

As novas normas determinadas pela autarquia de defesa da concorrência limitam acordos de exclusividade (veja mais abaixo). As regras atuais são válidas até 30 de setembro.

O Prime é uma assinatura que custa R$ 39,90 por mês (versão Plus) e dá direito a frete grátis em número ilimitado de pedidos, a exemplo da estratégia adotada pela Amazon com seu serviço Prime (esta inclui outros serviços, como o streaming da própria big tech e descontos em datas como o Prime Day).

É uma estratégia que visa estimular a recorrência de uso e, portanto, a receita média gerada por cliente, além de estender o LTV (Life Time Value), ou seja, o valor que ele deixará no seu relacionamento.

“Nossos dados mostram que aumentamos a recorrência e a retenção desse consumidor. Em vez de pedir duas vezes por mês, ele compra seis, sete, dez vezes por mês”, afirmou o executivo.

Negociação com ‘todas as redes’

Entre outras ações a serem tomadas pelo novo CEO Brasil estão a integração de frotas e o aumento da capilaridade em grandes cidades.

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“Queremos chegar a pelo menos 250 cidades do Brasil, não só para a parte de food mas também a de supermercados, pet shops, farmácias e o próprio e-commerce, que já atendemos bem”, disse Criniti. Atualmente a Rappi está presente em cerca de 100 municípios.

Outra prioridade será aumentar os canais de contato com os usuários para saber como melhorar o serviço.

Segundo ele, a decisão do Cade permite uma competição no chamado mercado de food service. “Isso sem dúvida vai trazer para a Rappi muitos usuários que, por não atendermos uma determinada marca, hoje não utilizam os nossos serviços”, disse o executivo.

“Estamos em negociação com todas as redes que representam boa parte do mercado de entregas de refeições no Brasil. E, dessas redes, já temos negociações avançadas com cerca de 80% para que possam entrar na base da Rappi assim que as novas regras do Cade permitirem”, contou Criniti.

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Outra prioridade será o serviço conhecido como “Turbo”, que promete entrega em até um quarto do tempo considerado normal, para restaurantes. O executivo disse que o objetivo é que o serviço esteja mais presente a exemplo do que já acontece com outros mercados em que a empresa atua.

Cade: regras pró-competição

Depois de anos de investigação de alegadas práticas anticoncorrenciais, o Cade decidiu no início do ano limitar os acordos de exclusividade com restaurantes acertados pelo iFood. A empresa teve quase oito meses para a adaptação.

Nos últimos anos, diferentes players que atuavam no mercado nacional deixaram o segmento - caso de Uber Eats e 99 Food - diante de dificuldades para ganhar escala e rentabilizar o negócio.

O iFood, que, segundo estimativas, domina cerca de 80% do mercado de entregas de refeições no Brasil, ficou proibido de assinar contratos de exclusividade com redes que tenham mais de 30 restaurantes.

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Nos contratos com redes menores, os acordos não poderão representar mais do que 25% do volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) do aplicativo no mercado nacional e nem 8% do GMV em cidades com mais de 500 mil habitantes.

O iFood ainda fica proibido de exigir cláusulas de paridade de preços em relação a outros marketplaces nem pode proibir parceiros de fazer promoções comerciais.

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A empresa também ficou proibida de vincular incentivos ou descontos a restaurantes para manter a maior parte de seu volume no iFood.

Em nota divulgada em seu site na época do acordo, o iFood disse que “o acordo reconhece a dinamicidade do setor de delivery de comida, a legalidade da prática de exclusividade e sua importância para a viabilização de investimentos pelas plataformas nos restaurantes”.

A Bloomberg Línea procurou o iFood na época da decisão do Cade para comentar o caso, mas a empresa disse que só se pronunciaria por meio da nota oficial.

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Em outras ocasiões, o iFood e o seu CEO, Fabricio Bloisi, também foram procurados, mas a empresa disse que não iria se pronunciar.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.