Quem atrasa mais o aluguel? Dados revelam inadimplência maior acima de R$ 13.000

Índice de atraso chega a 7,44% para casas cujo aluguel está nessa faixa de valor, mais que o dobro da média nacional de 3,59%, segundo dados da Superlógica em cima de uma base com mais de 900 mil condomínios em todo o país

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Bloomberg Línea — Moradores de imóveis que pagam mais de R$ 13.000 de aluguel fazem parte do grupo que mais atrasa o pagamento no Brasil. O índice de inadimplência chega a 7,44% para quem aluga uma casa nessa faixa, o equivalente a 1 a cada 13 locatários.

Os dados relativos a junho de 2025 fazem parte de levantamento mensal da Superlógica, empresa líder de mercado em soluções financeiras e de tecnologia para condomínios, com mais de 900 mil em sua base para o levantamento, divulgado em primeira mão pela Bloomberg Línea.

Esse quadro de inadimplência mais elevada para imóveis acima de R$ 13.000 tem sido registrado de maneira recorrente - e os índices estão em trajetória de alta há um ano. Considerando casas e apartamentos nessa faixa, a taxa está em 6,54%.

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Esses índices representam quase o dobro no que é apresentado para o mercado de imóveis como um todo pelo índice da Superlógica: a taxa em junho ficou em 3,59% em junho, versus 3,33% em maio e também em trajetória de elevação.

O que pode parecer contraintuitivo à primeira vista - afinal, quem decide fechar contratos de aluguel com valores muito mais altos em tese dispõe de renda igualmente muito mais elevada para arcar com tais compromissos - tem explicações de mercado e outras que passam pela economia comportamental.

“Isso [inadimplência maior para imóveis com aluguel mais caro] está relacionado a um fator estrutural do mercado. Muitas imobiliárias optam por seguir com a locação, nesses casos, sem exigir um seguro-fiança, por exemplo, por se tratar de um aluguel mais elevado e pela percepção de que o risco de inadimplência é menor, já que envolve pessoas com maior poder aquisitivo”, explicou Manoel Gonçalves, diretor de Negócios para Imobiliárias da Superlógica, à Bloomberg Línea.

Segundo ele, essa percepção não necessariamente corroborada pela realidade, como mostram os números, leva na verdade ao aumento do risco da operação.

“Na prática, sem essa blindagem financeira, os locadores ficam mais suscetíveis a atrasos e calotes, enquanto os inquilinos, pressionados por orçamentos familiares já comprometidos, enfrentam maior dificuldade para regularizar os débitos. É um cenário que exige atenção das imobiliárias e pode ser agravado por pressões inflacionárias ou variações nas taxas de juros nos próximos meses”, disse.

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Segundo economistas consultados pela Bloomberg Línea - e como apontado pelo executivo -, uma das explicações para o fenômeno é a necessidade desse perfil de locatário de em geral gerenciar um número maior de compromissos e contas a pagar do que indivíduos com renda mais limitada.

Isso dificulta a organização financeira em casos em que, muitas vezes, existe a aparente sensação de que há orçamento mensal suficiente.

Associada a esse fator existe a escolha deliberada de atrasar o pagamento do aluguel, que em geral tem encargos financeiros - multa e juros - menos elevados do que a inadimplência de contas como o cartão de crédito.

Outro estrato da pirâmide do aluguel que tem taxas mais elevadas de atrasos de pagamento é de valores mais baixos, com contrato mensal até R$ 1.000. O índice ficou em 5,79% em junho - 5,02% para apartamentos e 6,56% para casas.

Nesse caso, a percepção de maior risco associada a rendas mais baixas acaba sendo comprovada pela realidade.

Por outro lado, os menores índices de inadimplência residencial foram verificados para imóveis com aluguel entre R$ 2.000 e R$ 3.000: 1,77% para apartamentos e 2,95% para casas, sempre de acordo com dados da Superlógica.

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