Bloomberg Línea — Executivos da Vale (VALE3) defenderam nesta terça-feira (2) que o preço mínimo (breakeven) do minério de ferro no longo prazo para manter rentável a operação das empresas globalmente é de US$ 100 por tonelada, acima do que a companhia brasileira estimava anteriormente.
“Com a exaustão [das minas] e a necessidade crescente de ir mais fundo e mais longe [em busca do minério], a produção ficará mais cara. Costumávamos falar em US$ 90 por tonelada, mas revisamos nosso modelo”, disse o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, em entrevista a jornalistas após encontro com investidores em Londres.
Segundo o executivo, as minas estão ficando mais velhas e mais caras. “Vemos nossos competidores trabalhando com teor [de ferro] cada vez mais baixo, ano após ano. Esta é uma virada fundamental no mercado em relação ao patamar que a indústria se encontrava há cinco anos”, disse.
Ele esclareceu que a indústria global enfrenta um contexto de exaustão (depletion) das minas em torno de 50 milhões a 60 milhões de toneladas por ano, sem contar o volume de 85 milhões de toneladas de produção anual, no mundo, que estará no patamar de operação acima do ponto de equilíbrio entre oferta e demanda.
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“Nós estamos sofrendo, os competidores também. Vemos a necessidade de estímulos nos preços, devido à estrutura de custos da indústria, e por isso modelamos esse novo patamar [de breakeven], acrescentou Pimenta.
O ponto de equilíbrio da indústria de minério de ferro em US$ 100 por tonelada será crucial para a rentabilidade dos produtores, especialmente em um contexto de descarbonização, na visão do o vice-presidente executivo comercial e de desenvolvimento da Vale, Rogério Nogueira. Segundo ele, embora haja dúvidas sobre a velocidade, a transição energética já está ocorrendo no mundo.
“Não estou dizendo que não haverá volatilidade, [o preço] pode subir e descer, mas no longo prazo esta é nossa expectativa em todos os exercícios que fizemos, com o conhecimento que temos dessa indústria”, afirmou.
Nogueira acrescentou que a Vale pode acelerar a produção de minério de ferro de teor mais elevado, mas a palavra-chave da companhia é flexibilidade. “Se precisarmos produzir com menos gradação, nós produziremos para atender o mercado.”
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Segundo o vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores da companhia, Marcelo Bacci, ao longo dos anos a Vale vem reduzindo custos fixos no negócio de soluções de minério de ferro, passando de um patamar de US$ 6,3 bilhões, em 2023, para US$ 5,8 bilhões no encerramento deste ano.
“É importante continuar trabalhando nos volumes, mas também no custo fixo para entregar eficiência. Estamos indo para US$ 5,7 bilhões no ano que vem”, disse.
Geopolítica
Na visão de Bacci, há dúvidas sobre o futuro mapa global da produção de aço. Atualmente, a China ainda é o maior produtor do mundo.
Segundo o executivo, com as tarifas da administração de Donald Trump, as exportações chinesas de aço devem recuar. “Mais aço será produzido na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul. Vai haver um rebalanceamento da produção de aço”, disse. “Os mercados [do Ocidente] vão precisar não só de mais produção, como também de mais produtividade, o que é melhor para a demanda de minério de ferro de teor mais elevado.”
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Bacci enxerga um mercado estável do ponto de vista de demanda atualmente. “Para o minério de ferro de maior teor, que é mais perto de onde a Vale está, acreditamos que, no final das contas, o resultado é positivo.”
Metais de transição energética
A Vale assinou ainda nesta terça-feira, por meio da Vale Base Metals (VBM), um acordo com a gigante suíça Glencore para avaliar um projeto de cobre em uma área já explorada no Canadá, na Bacia de Sudbury.
O tratado estabelece uma estrutura para explorar sinergias nos depósitos de ambas as empresas. Após a conclusão do trabalho inicial, a intenção é que a VBM e a Glencore se transformem em uma joint venture (50/50) no projeto.
A estimativa de produção é de 880 mil toneladas de cobre ao longo de 21 anos, com um custo de capital entre US$ 1,6 bilhão e US$ 2 bilhões.
Em comunicado, a Vale informou que a geologia da Bacia de Sudbury mostra que, além do cobre, as empresas também produzirão níquel, cobalto, ouro, metais do grupo da platina e outros minerais críticos. Os trabalhos detalhados de engenharia, licenciamento e consulta ocorrerão em 2026 e a decisão final de investimento é esperada para o primeiro semestre de 2027.
A Vale separou a divisão de metais básicos (“carve-out”) no ano passado, na busca por adição de valor para o negócio ligado à demanda de transição energética. O mercado espera que o movimento leve a um IPO.
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Segundo Pimenta, embora haja conversas com players do mercado para potenciais parcerias, o principal objetivo da Vale, atualmente, é destravar valor da marca em razão de suas reservas (endowment) únicas.
“As transações precisam criar valor e adicionar, no longo prazo, uma diversificação maior e uma participação crescente [no mercado], particularmente em cobre. Partindo desse pressuposto, muitas considerações serão feitas”, afirmou.
“Falamos com muitos players sobre oportunidades e há discussões para acelerar a exposição a volumes de cobre, mas hoje achamos que temos que destravar a maior parte do valor do endowment”, acrescentou.
O executivo salientou que a mineradora gosta da exposição que a VBM traz para o negócio de cobre. “A intenção é que continuemos tendo exposição [ao cobre], especialmente diante do potencial de crescimento que vemos. O carve-out nos dá opções para fazer tudo isso, é uma das razões pelas quais fizemos a separação, mas gostamos dessa exposição.”
Pimenta citou como exemplo de sinergia com a VBM o gigante projeto de Carajás, no Pará. “Muito do crescimento que vemos [para a Vale] está em Carajás, onde enxergamos muitas sinergias com nossas operações já existentes, não só em VBM, mas em minério de ferro”, disse.
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