Petz aposta em super app para clientes e rejeita ‘M&A do Excel’, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Sergio Zimerman diz que discussões sobre eventual fusão com concorrente precisam levar em conta impacto da integração de pessoas

Sergio Zimerman, CEO da Petz
24 de Outubro, 2023 | 11:55 PM

Bloomberg Línea — Os últimos meses foram de execução de prioridades para a Petz, empresa que lidera o mercado para animais de estimação no Brasil.

De um lado, concentrou esforços para colocar em operação o super app que unifica a jornada de consumo de produtos e serviços, que já apresenta resultados preliminares de aumento de conversão; de outro, priorizou preservar a rentabilidade do negócio e só mais recentemente, no terceiro trimestre, retomou parte da agressividade em ações comerciais para acelerar o crescimento. E buscou conciliar essas frentes em uma economia ainda desafiadora.

“Usamos na empresa a metáfora do navio no meio de uma tempestade. No final de 2022, pensamos que o sol voltaria a brilhar em 2023, especialmente depois do primeiro trimestre. Mas o sol não apareceu e, pelo contrário, a chuva voltou forte. Mas o navio está sólido. E isso significa, por exemplo, que a geração de caixa até aqui em 2023 tem sido suficiente para custear todos os investimentos”, disse Sergio Zimerman, CEO e fundador da Petz (PETZ3), em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo o executivo, no entanto, boa parte do mercado pareceu não prestar atenção ao fato e ao quadro de dívida líquida zero, dado que o caixa está acima da dívida bruta, de acordo com números do segundo trimestre - os indicadores do terceiro serão divulgados no dia 9 de novembro.

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“Somos muito mais penalizados pelo fluxo: o investidor pensa ‘se é varejo, é ruim. Vamos vender’. Há honrosas exceções que conseguem se manter à margem de tudo isso. Diria que o nosso caso deveria estar muito mais parecido, sob a ótica do investidor, com o da Raia Drogasil [RD] do que com outras plataformas de varejo. Ao longo dos anos, vemos que há muita similaridade do setor pet com o farma”, afirmou.

A ação da Petz acumula desvalorização de 38% neste ano, um dos dez piores desempenhos entre os 86 papéis do Ibovespa. A ação da RD tem ganho de 16% no período.

O executivo, que é o principal acionista da Petz, comprou recentemente cerca de 20 milhões em ações ordinárias, ampliando a sua fatia que estava em 27,55% do total com base em Formulário de Referência de 11 de setembro. O movimento mais do que reverteu a venda de 10 milhões de ações em março de 2022, que se deveu, segundo ele, a “compromissos particulares”.

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Zimerman quis enfatizar o que, em sua avaliação, é uma compreensão ainda incompleta do mercado de animais de estimação por parte de investidores e analistas.

“Eu vejo muitas vezes as pessoas comentando ‘ué, mas esse setor era resiliente, você não falou que o setor era diferente, mas está sendo arrastado igual aos outros’. De fato, se você olhar em uma visão ‘curto-prazista’ e comparar 2023 com 2022 contra 2021, parece que o setor é igual aos outros”, afirmou, para em seguida argumentar que na perspectiva de “filme”, mais alongada, fatores que sustentam o crescimento continuam presentes.

“O setor continua claramente sendo movido por três fatores: a humanização do pet, o aumento populacional e a renda disponível. São as três grandes alavancas. Basta dizer o seguinte: a Petz, no ano de 2019, faturou R$ 1,2 bilhão. Hoje, em 2023, devemos faturar quase R$ 4 bilhões. Mas o crescimento mais intenso em 2020 e 2021 distorceu um pouco a visão do investidor sobre o setor”, afirmou.

Zimerman também comentou os rumores e as notícias publicadas há meses sobre uma eventual negociação de fusão com a Cobasi, sem mencionar o nome da concorrente de capital fechado.

“Temos uma preocupação constante de criar valor para a companhia. E isso significa constantemente analisar possibilidades, que podem ser de junção ou de compra. Só que, ao mesmo tempo, temos um cuidado muito grande, porque muitas vezes uma junção em que, na teoria, 1 mais 1 dá 3, em muitos casos resulta em 1,5. E por quê? Por falta de alinhamento de valores entre as empresas que se juntam”, disse.

“[Fusão ou compra] não é só olhar uma tela de Excel [...] Muitos negócios cometem esse equívoco de serem extremamente racionais e objetivos de um lado e esquecerem as pessoas de outro. Se você pegar a história das junções de companhias, geralmente o que dá errado não é a teoria da fusão ou os fundamentos, mas, sim, pessoas. E nós ficamos atento a isso”, completou o CEO e principal acionista da Petz.

Para uma parte do mercado, a eventual fusão seria um negócio que beneficiaria os dois players com sinergias e ganhos de escala. Zimerman, que fundou a Petz há mais de duas décadas em um momento em que o mercado doméstico para animais de estimação era incipiente e ainda mais pulverizado, defendeu que há oportunidades de crescimento que vão além de eventuais transações de M&A (fusão e aquisição).

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Conversão maior com super app

Ele destacou como exemplo outra das prioridades do ano, o super app, que acaba de ser lançado.

“A jornada do cliente fica mais fluida. Você não precisa sair de um app, entrar em outro, instalar dois ou três apps, o que não é recomendável. O dono do pet tem acesso à curadoria, ao aplicativo de serviços, para conseguir marcar o banho, marcar consulta, comprar produto, ver o blog, tudo isso se torna possível em um único aplicativo”, explicou o CEO da Petz, ressaltando também os dados preliminares.

A Petz também promoveu uma mudança no seu logotipo, com o objetivo de “modernizar” a marca e refletir uma atuação também no mundo digital, além das lojas físicas.

“Medimos tudo: quantas pessoas abriram o site, quantas foram para o carrinho, quantas finalizaram a compra etc. Tivemos melhora de performance em todos os apps [dentro do super app]. Isso mostra que acertamos a direção, mas ainda falta saber a intensidade”, disse o executivo.

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A priorização do time de tecnologia teve como efeito “colateral”, por outro lado, postergar o desenvolvimento do plano de saúde para pets com atendimento exclusivo na rede Seres.

A nova previsão é que o piloto do plano de saúde entre comece a ser experimentado com uma parte da base de clientes neste quarto trimestre ou, o mais tardar, nos primeiros meses de 2024.

Para analistas como Thiago Macruz, do Itaú BBA, em relatório divulgado há dois meses, em cima do resultado do segundo trimestre, são números que devem ser observados de perto.

Segundo ele, os indicadores até aquele momento apresentaram evolução com a integração de empresas adquiridas, como a Petix, mas “ainda há um longo caminho a percorrer”. O analista manteve recomendação “Ourperform” para a ação, mas disse que investidores deveriam continuar a monitorar as margens e aguardar pela entrega de “resultados mais consistentes e saudáveis” antes de voltar para o ativo.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.